Capítulo 4
FH narrando
O desaparecimento do WN ainda é um mistério que me atormenta. No fundo, sinto que ele está vivo em algum lugar, mas sem respostas, a desconfiança se instalou. Desconfio de todos que sobem esse morro, de todos que retornam.
— Não acho que a prima do Renan seja uma ameaça — diz Manco, meu chefe de segurança e homem de confiança.
Eu solto uma risada seca.
— E por que, então, ela aparece assim, do nada? — falo, com o tom de quem já ouviu de tudo. — Se ela fosse problema, Renan saberia?
— Renan nem vê essa prima há anos, desde que ela foi embora — eu digo, lançando um olhar duro. — Estranho, né? Vai que ela é alguém infiltrada do TH aqui dentro.
— Pega leve com a garota — Manco rebate. — WN também tinha seus segredos. Quem garante que ele mesmo não arrumou uma desculpa pra sumir? Pode ter dedo do TH, mas vai saber...
— TH adora espalhar o nome de WN por aí, pra todos ouvirem — respondo, com amargura.
— É um o****o, chefe. Se tá falando, é só pra tentar ganhar fama... Pode ser que ele não tenha feito nada, mas isso não quer dizer que vamos parar de investigar.
Respiro fundo, deixando claro que não estou disposto a dar o braço a torcer.
— Se WN sumiu por conta própria, eu vou descobrir o porquê. Mas até lá, TH tem envolvimento, e ponto final.
Manco sai da boca, e eu fico ali, observando o espaço vazio que era o do WN. Ainda não coloquei ninguém no lugar dele. Esse era o lugar dele, ao meu lado, no comando do morro.
Flashback on
— Acho que você precisa parar de fazer essas viagens — eu disse, em um tom meio de brincadeira, meio de aviso. Ele me olhou, o rosto de quem já tinha ouvido aquilo antes.
— Tá achando que tô indo atrás de r**o de saia, FH? Aqui no morro tem aos montes.
— Casado como eu, já deixei essa vida de lado — respondo, cortando.
Ele riu, me provocando.
— Não mete a Letícia no meio, então. Tua família tá toda aqui, vai viver tua vida.
— E você? Achou o quê? Uma garota de bordel? Uma qualquer?
Ele me encarou, os olhos escuros.
— O negócio é mais embaixo. Mas isso é problema meu, FH.
Flashback off
Às vezes, penso que esse filho da p**a criou família por aí e se mandou. Mas por que diabos ele esconderia isso de mim?
Com o baseado entre os dedos, saio da boca. E a tal prima de Renan me vem à mente. Decido dar uma olhada mais de perto. A casa de Renan está aberta; entro e vejo uma garota na cozinha, distraída. Me aproximo em silêncio.
— Boa tarde — solto a saudação fria, só para ver sua reação.
Ela pula, olhos arregalados. Noto a surpresa e… o medo.
— Boa tarde — responde, enquanto desliga o fogo. — Como posso ajudar?
— Eu que pergunto. Como posso ajudar você no meu morro, garota? — lanço um olhar cínico, reparando nos machucados no corpo dela. — Aqui não é delegacia, e ninguém dá proteção de graça.
Ela engole em seco, mas responde, tentando manter a calma.
— Só fugi do meu ex-marido agressor. A única pessoa que eu tenho fora de Diamantina é o Renan. Sou cria desse morro, nasci aqui. Não tenho direito de voltar?
— Abaixa a voz e sua bola — respondo, cortante. — Você não tá falando com um amigo ou com seu primo. Tá falando com o dono dessa p***a toda. Tem direito de voltar se tivesse sido convidada.
Ela respira fundo, os olhos fixos em mim, mas cheios de cautela.
— Eu não quero problemas. Só quero viver em paz.
— Sua presença aqui é o problema — falo. — Tá ganhando uma colher de chá porque é prima de Renan. Caso contrário, nem teria subido o morro. Fica avisada: até que se prove ao contrário, você não é bem-vinda.
Ela engole em seco, mantendo o silêncio, os olhos desviando. Faço uma última avaliação dela antes de sair da casa de Renan.