O PREÇO DO PODER:
Capítulo 5
*Bruna narrando*
Em menos de 48 horas dentro desse morro, já tinha recebido a visita de FH, o dono de tudo por aqui. Eu sabia que, cedo ou tarde, isso ia acontecer. Mesmo sem tê-lo visto antes, conhecia sua fama e seu temperamento, pelas tantas histórias que já ouvi sobre ele.
Eu precisava me misturar, me integrar. Tinha que começar a agir para conquistar a confiança dos moradores, mostrar uma imagem de alguém indefesa, que precisava de proteção. Ninguém podia suspeitar dos meus reais motivos para estar aqui. Sim, era arriscado; sim, minha vida estava em jogo. Mas isso não era só sobre mim, era sobre alguém que eu tinha que proteger. Eu não podia falhar.
Desci as escadas, encontrando Renan, que me encarou surpreso.
— Achei que não ia sair de casa nunca — ele disse.
— Confesso que a visita do FH me deixou com medo.
— Ele veio aqui? — perguntou, surpreso.
— Veio mais cedo — respondi. — Não esperava que minha presença fosse fazê-lo pensar que sou uma ameaça.
— Ele acha isso de todo mundo — disse Renan. — Desde que o irmão dele, WN, sumiu, ele anda paranoico.
— O que aconteceu com ele? — perguntei.
— Simplesmente sumiu, e ninguém tem notícia dele até hoje.
— Deve ser horrível não ter notícias do próprio irmão — comentei, e Renan me olhou firme.
— Cuidado pra não arrumar confusão. Se o FH tá de olho em você, pode apostar que, se ele decidir agir, nem eu vou poder impedir.
Aquelas palavras me deram um frio na espinha, mas eu disfarcei. Precisava rápido conquistar alianças aqui dentro; isso me daria segurança para pôr as mãos no que eu vim buscar e ir embora antes que alguém desconfiasse.
Saí andando pelo morro. No caminho, encontrei uma lojinha com brinquedos e me deparei com um ursinho da Peppa. Sorri ao lembrar que ele adorava aquele bichinho. Foi nesse instante que trombei numa mulher, que logo reconheci.
— Desculpa — falei, me recompondo. — Não vi que tinha alguém atrás de mim.
— Tá tudo bem — ela respondeu, dando um sorriso leve. — Também ando distraída demais.
— Perdão.
Ela me observou com curiosidade.
— Você é nova aqui, né? Nunca te vi antes.
— Sou Bruna, prima do Renan.
— Ah, então é você a tal garota que meu marido vive dizendo que é uma traidora.
— Marido? — perguntei, fingindo surpresa.
— Sou Letícia — ela disse, sem cerimônia. — Esposa do FH, o dono do morro. Mas não precisa ficar com medo. Eu não concordo com todas as atitudes dele.
Eu engoli seco, tentando manter a calma.
— Não quero arrumar confusão.
Ela apontou para o meu rosto.
— Quem fez isso com você?
— Meu ex-marido. Estou fugindo dele.
— Entendo... homens idiotas tem de sobra por aí. — Ela suspirou, olhando séria. — Você pelo menos deu umas boas nele de volta?
— Não — respondi, abaixando os olhos.
— Devia ter feito! Não dá pra aguentar essas atitudes de macho escroto calada.
Eu tentei suavizar.
— Como eu disse, não quero confusão. Fora daquela cidade, só tenho o Renan. Preciso de um emprego, juntar um dinheiro, e depois sumir. Só quero paz.
Ela deu uma tragada no cigarro, me observando atentamente.
— Quer arrumar emprego? A Babilônia tem bastante comércio, mas eles são preconceituosos com gente de fora.
— Eu trabalho de tudo, até faxina. Qualquer coisa serve.
Ela me encarou por um momento, então falou:
— Estou precisando de uma ajudante lá em casa. Pago o suficiente pra você se estabilizar, se tiver interesse.
Meus olhos brilharam.
— Está falando sério?
— Claro — disse, dando de ombros. — Você precisa de emprego, e eu preciso de ajuda.
— E seu marido?
— Deixa que eu resolvo com ele. Ele manda no morro, mas em casa quem manda sou eu! Moro com ele e nosso filho, Enzo, de três anos, mas o FH quase nunca fica em casa.
Pensei por um momento, ainda surpresa.
— Eu... eu aceito! Preciso mesmo.
— Ótimo. Então sobe lá amanhã. A casa mais alta do morro, não tem erro. Te espero às 10h, que cedo eu não vou levantar!
Quando ela desceu o morro, fiquei parada ali, ainda digerindo o que tinha acabado de acontecer. Eu ia trabalhar dentro da casa do dono do morro. Era uma oportunidade e tanto, mas o medo crescia dentro de mim. Eu sabia o que estava em jogo, e não podia dar um passo em falso.
Quem está lendo aí em?