Capítulo 6
*Bruna narrando*
Eu tinha conseguido um emprego na casa do dono do morro. Era exatamente ali que eu precisava estar. Ainda não sabia em que parte desse morro poderia encontrar o que eu procurava, mas precisava me infiltrar, conhecer as pessoas e entender como tudo funcionava antes de começar a investigar o passado.
*Flashback on*
Vejo ele arrumando as malas, colocando suas coisas dentro e fechando. Paro na porta e cruzo os braços, enquanto ele segura um baseado na boca e parece completamente estressado após a ligação que recebeu.
— Por que não me leva com você? — pergunto, e ele me encara.
— Lá não é lugar para você — ele responde, me olhando. — Eu não quero você lá, sendo alvo dos meus inimigos!
— E agora você precisa ir, mas sabe que daqui a algumas semanas... — tento continuar, mas ele me corta.
— Eu estarei aqui, eu te prometo!
— Estou cansada das suas promessas falidas — digo, nervosa. — Cansada de você só me enrolar com promessas e mais promessas.
— Já disse que você não vai! Falta alguma coisa para você aqui? Eu te dou tudo, Bruna!
— Falta você! Será que você não entende? — encaro-o, e ele me encara de volta. — Mas, é claro, sua vida naquele lugar é muito mais importante. Larga tudo e vem.
— Não posso — ele afirma. — Tenho negócios lá. Não é só o comando do morro, são outras coisas. Lá é onde sei que meu império está protegido.
— E eu não estaria protegida lá?
— Proteger dinheiro é diferente de proteger uma pessoa — ele diz. — Não é seguro pra você lá! Eu volto em algumas semanas, eu te prometo! Não sou bagunça, e você sabe disso. Eu cumpro o que falo, mesmo você agora me olhando assim e não acreditando.
— Que bom que você sabe que não estou te levando a sério — suspirei. — Vai, então, se você precisa ir! Mas acho que era melhor nem voltar.
— Não diga isso — ele fala, num tom mais baixo. — Não fala isso!
Encaro-o por um momento e viro as costas, saindo. Não queria mais papo. Se ele queria ir, que fosse. Se mandasse embora, então.
*Flashback off*
Acordo com o despertador tocando e me levanto rapidamente. A primeira coisa que faço é pegar o celular e ver as mensagens e fotos que recebi de Saluza. Aquilo aquecia meu coração e me trazia um pouco de paz.
Coloco uma roupa e desço. Renan não estava em casa e, se estava, provavelmente ainda dormia. Sigo para a casa da Letícia, como combinado. Procuro por uma porta na parte de trás da casa, e, ao abrir, encontro Letícia me esperando.
— Ei, bom dia — ela diz. — Entra!
— Oi, vim às dez, como combinamos.
— Sim — responde ela. — Acordei agora há pouco! Durmo super tarde, às vezes fico esperando o FH chegar, mas quase nunca ele vem.
— Bom, como posso começar?
— Vou te mostrar a casa — ela diz. — É bem grande, mas não se preocupa, não usamos todos os cômodos.
Ela me mostra os cômodos, explicando como as coisas funcionavam ali. Disse que outra pessoa também ajudava durante o dia: Sandra, uma mulher mais velha.
Enquanto descíamos de volta para a sala, FH entra pela porta. Enzo corre até ele, mas, assim que FH vê Letícia e depois me encara, seu semblante muda. O olhar terno pelo filho desaparece, e ele me observa de forma séria. Em seguida, olha para Letícia.
— O que essa mulher está fazendo aqui? — pergunta, ríspido.
— Ela é minha convidada — Letícia responde.
— Como assim, sua convidada? Você nem a conhece!
— Na verdade, ela vai trabalhar aqui.
FH começa a rir, incrédulo.
— Ela não vai, não! Na minha casa, ela não vai! — diz ele. — Pode sair daqui agora, garota. Depois eu desço lá e tenho outro papo, só que bem mais direto, com você.
— Ela não vai sair daqui! — Letícia enfrenta-o. — Ela fica! Eu a contratei, e você não vai mandá-la embora.