A fuga.

1584 Palavras
Ravana Eu nunca imaginei que colocaria em prática o que aprendi com meu pai e meus primos de segundo grau, contra os meus. Não é a primeira vez que faço isso, mas é por uma boa causa. Sarratore está me esperando em uma boate. Foi difícil fazer contato com ele; tive que roubar um dos celulares descartáveis do papai. Isso mesmo, roubei do Don do meu clã e, se alguém souber, estou ferrada. Não contei para ninguém, exceto para a Vitória e o Gio. Planejei tudo nos mínimos detalhes; inclusive, escrevi uma carta para o Alessio. Em duas folhas, detalhei sobre os sonhos que tenho para nós dois; sobre como a presença dele mexe comigo; sobre o quanto quero beijar a sua boca, dona de lábios desenhados, e sobre as coisas que tenho dentro do meu coração. Eu não consigo falar tudo olhos nos olhos; quando o menino me olha, eu perco a voz, fico procurando as palavras na minha mente e todas fogem como se criassem asas. É verdade o que dizem sobre o amor deixar uma pessoa b***a; eu fico i****a ao extremo. Depois da minha festa de quinze anos, bati o pé no chão e disse para meus pais que eu iria incendiar a p***a da Itália inteira, mas não casaria com o filho daquele casal de colombianos. Sério, a primeira impressão que tive do tal Dário me deu calafrios. Eu vi os olhos do sujeito mudando de cor, ficando parcialmente escarlates; isso foi há dois anos. Meus pais tentaram me persuadir; todavia, eu não queria nada de casamento arranjado e agora muito menos. Gosto do Alessio e não é uma paixão adolescente, como minha prima Giulia diz. São três anos com esse sentimento sufocando meu peito. Nesse tempo, tudo para mim ficou mais difícil. Meus pais me transferiram de instituto educacional e, quando os confrontei, recebi a seguinte resposta: é melhor assim. Senti um ódio enorme! Gritei que odiava todo mundo e que iria destruir quem atravessasse o meu caminho! Sabia que isso tudo era para me afastar de Alessio. Ele estudava na mesma escola, só pertenciamos a graus escolares diferentes. Arranquei a porcaria daquele anel e joguei longe. Foi a primeira vez que meu pai me segurou pelos braços, sacudiu meu corpo e me jogou contra o sofá, vociferando que eu era uma garota mimada e desmiolada. Não machucou, mas o susto foi enorme. Vittorio Grecco nunca foi hostil comigo. Minha mãe ficou nervosa com toda a situação. Não me dei por vencida, levantei do móvel, mirando bem as íris do meu pai. — Não pense que o senhor pode me parar, porque não vai! — falei com uma empáfia do c****e. O vaso da mesinha lateral voou contra a parede. Sequer vi o movimento das mãos do meu Don tocando o objeto decorativo. — Sobe! Agora, Ravana! — minha mãe gritou. Dei uma última olhada para os dois e deixei aquela sala. Não esqueço dessa nossa briga; não foi a pior, porque teve outras. A pior foi quando os pais do Dário vieram aqui, isso foi há um ano e meio, para confrontar Vittorio sobre meu comportamento. Eu não sabia que os colombianos tinham instalado um aplicativo espião em meu celular. E tudo que eu fazia utilizando o abençoado aparelho caía de paraquedas no colo deles. E, p**a que pariu, foi a p***a de uma confusão dos diabos. Até armas apontadas em várias direções teve. Javier estava soltando fogo pelas ventas e a esposa dele não era para menos. Eu andava conversando pelas redes sociais com Alessio; era uma conversa mais apimentada. Perguntei como ele era sem roupa, tinha curiosidade de saber mais. O menino ficou de me enviar um nude e enviou; bota nude nisso. Em troca, ele queria uma foto minha, também livre de roupas. Eu só não consegui enviar as merdas das fotos porque o meu celular deu pane. Mas recordo que montei todo um cenário, forrei minha cama com uma colcha vermelha de seda, acendi velas, deixei o quarto com iluminação parca, coloquei a ring light junto com o celular, programei-o para capturar as imagens e fui fazer minhas poses. Eu sei que Javier jogou o aparelho dele nas mãos do meu pai. — Sua filha está manchando o nome dos Castillo. Uma moça pura e comprometida não fica enviando fotos sensuais para outro homem! — Castillo berrou, e meu pai segurou o aparelho com as mãos tremendo. Quando deslizou a tela e viu as fotos, ele fechou o semblante e minha cara foi ao chão. Naquele momento, me dei conta da espionagem. — Seu filho não é nenhum santo! Duvido que ele vai ficar me esperando sem entrar dentro de uma mulher! — berrei, gesticulando feito uma boa italiana que sou. A mãe do sujeito faltou me engolir viva; seus olhos ficaram fixos em mim, e eles continham tantas ameaças veladas. Se eu disser que não estava gostando do barraco armado, estou mentindo. Torci para o casamento ir de cachoeira abaixo. — Ravana, que p***a é essa? — meu pai berrou, e eu travei. Vittorio Grecco tinha uma veia pulsando no pescoço e outra na testa; seu punho esquerdo estava cerrado com tanta força que o sangue não circulava no local, que estava esbranquiçado. Olhei para o meu Don, primeiro com vergonha; eu estava exposta nas fotos. Engoli em seco. Se eu escolhesse mentir, estaria piorando ainda mais a minha situação. — Gosto do Alessio, pai. Não quero nada com o filho desse par de diabos. — Falei demais, e foi como ter adicionado gasolina ao incêndio. Adella puxou a Glock da cintura e apontou bem no meio da minha testa; minha mãe alçou a que tinha atrás das costas e colocou na nuca da mulher. Enquanto isso, meu pai e Javier estavam com suas armas apontadas um para o rosto do outro. Os soldados do casal Castillo apontaram suas armas em nossa direção, e a nossa casa foi invadida pelos nossos soldados. Meu tio Kalel vinha da cozinha segurando uma xícara com algo dentro, que foi ao chão ao deparar-se com a cena. Eu tremi inteira e soltei um pedido de desculpas, que saiu muito murcho. Para nossa sorte e azar totalmente meu, tio Pietro estava chegando com Matteo e Vincenzo. Os três conseguiram acalmar os ânimos, e eu me ferrei bonito. Fui proibida de usar qualquer aparelho eletrônico. Tive computador e celulares confiscados, e tudo ficou mais complicado; não conseguia mais conversar com Alessio. As notícias que chegavam eram por Vitória e Gio. Minha prima e o nosso amigo pediram aos pais para estudar na mesma instituição que eu, para não me deixar sozinha. Vitória é a indecisão em pessoa, Gio é o coração colorido do nosso trio, e eu sou a p***a louca, como os dois me denominam. Mas não me considero louca; sou apenas uma jovem que está apaixonada e quer ficar perto do menino que ama. E isso não deveria ser proibido. Eu sei que estou seguindo o meu coração; nada mais me importa. Não irei pagar por uma escolha dos meus pais. Quero poder fazer minhas próprias escolhas, decidir quem terá o meu primeiro beijo, com quem irei andar de mãos dadas e quem será aquele que fará a minha transição de menina para mulher. A regra deveria ser simples: minha vida, minhas escolhas. Com muitos do submundo, isso não ocorre. Sei que fiquei muito tempo sem notícias do Alessio, até o Gio começar a ser o nosso pombo-correio. Meu amigo ficou levando e trazendo os recadinhos que trocamos. Mas tudo feito verbalmente; nunca nada que pudesse gerar uma prova. Inclusive, nem Vitória nem o Gio podiam vir me visitar portando seus aparelhos; tudo ficava, como ainda fica, retido na entrada com um segurança. Fiz meu amigo memorizar o número do Alessio para poder me repassar na encolha. Fiquei vigiando meu pai até conseguir pegar as chaves do seu escritório e ter acesso ao cofre onde guarda os aparelhos descartáveis. Roubei um; isso foi ontem. Em posse do aparelho consegui estabelecer comunicação com o Sarratore. Alessio falou sobre a boate, marcamos um encontro. Eu queria muito vê-lo. Meu coração bateu na garganta, nos ouvidos, nas costelas. Eu não perderia essa oportunidade; arranjei tudo com Gio e Vitória. E parece que tudo estava conspirando a meu favor: meus pais saíram para uma das missões e só retornariam na manhã do dia seguinte. Giulia foi designada para me vigiar. Aproveitei e pedi para a tia Lari deixar Vitória vir dormir aqui. Nem sabe minha tia que a nossa intenção passa longe de ter uma noite de sono tranquila. Agora estou acompanhando Giulia beber o suco batizado que preparei especialmente para minha linda prima, dona de olhos cinzas. Foco na série "A Amiga Genial". Finjo que não vejo minha prima tombando aos poucos. Sorrio e dou um pulo da poltrona da nossa sala de cinema. Saio em disparada pelo corredor. Adentro em meu quarto, colocando quase as vísceras para fora. Era o momento de partir e aproveitar a noite como uma jovem normal, sem a sombra de ninguém vigiando os meus passos. A felicidade é enorme; irei aproveitar a liberdade, ter esse gostinho e, o melhor de tudo, irei declarar-me para o garoto de quem gosto. Penso no gosto que deve ter a boca e os beijos do Alessio. Não consigo contar nos dedos as noites que fiquei rolando na cama, sonhando acordada em ter meus lábios tocando os dele. Agora, esse sonho vai tornar-se realidade porque eu farei acontecer.
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