MANUELLE NARRANDO O caminho até a casa dos meus pais foi como atravessar um campo minado de lembranças. Cada viela, cada degrau da ruela, cada varanda com som de funk antigo me jogava de volta pra infância, pra adolescência, pra tudo que eu vivi com o Caio. O Salgueiro parecia menor, mas ao mesmo tempo maior que antes. Mais sufocante. Talvez fosse o peso da barriga. Ou da verdade. Meu filho tava prestes a nascer… e agora todo mundo sabia. Subi os últimos degraus com o coração apertado. O portão tava encostado. Empurrei devagar. O cheiro do café misturado com aquele amaciante que minha mãe ama me acertou como um abraço. — Tá tudo bem? — a voz da minha mãe veio antes mesmo dela aparecer na sala. — Você tá bem, minha filha? Eu sorri fraco, sentindo os olhos marejarem só de ouvir aquele t

