Sob a Posse do CEO

... Lauren Mitchel narrando ... Como tantas outras vezes , nesse momento eu estou sentada no extenso sofá cinza que ficava no meio de uma sala enorme , enorme o suficiente para caber toda a arrogância de Sebastian , meu querido e amado marido . Amado , pelo menos há uns instantes atrás . Parecia ser uma cena de filme antigo , tudo cinza e com falhas na tela da televisão , essa é a cor da minha vida nos últimos três anos , cinza , com falhas , arranhados e machucados bem visíveis para quem quisesse ver . Passei os últimos três anos da minha vida olhando para as paredes dessa casa gigantesca , decorei cada tijolo que contemplava a decoração das paredes escuras desse lugar que era para ser o meu lar , mas não foi . Pensando bem , eu não estive tão sozinha durante esses anos , minha companhia é uma xícara de prata cheia de chá de alecrim , o mesmo que descia quente pela minha garganta cheio de açúcar para afogar as minhas lágrimas . Olhei pela fresta da cortina entreaberta de uma das grandes janelas da sala , as nuvens já estavam cobrindo o sol , o vento batia na cortina a fazendo bater contra o vidro da janela e eu sabia que Sebastian ainda estava muito longe de casa e não chegaria tão cedo . Meu relógio biológico sentia isso . Nessa noite o meu coração estava disposto a acabar com todo esse amargor que a minha vida ganhou a partir do momento que eu disse sim no altar , vestida de branco , olhando para o homem que eu mais amei na minha vida e que eu pensei que me faria a mulher mais feliz do mundo . Que ironia , em que momento que eu pensei que eu poderia ser feliz dentro de um casamento arranjado ? Em que momento eu sonhei que estar ao lado de Sebastian Junqueira me faria completa ? Eu levantei hoje de manhã com a certeza que não passaria de hoje a minha mudança de vida , toda a sociedade lá fora pensava que eu havia tirado a sorte grande , achavam que eu havia conseguido fisgar o coração de Sebastian , mas eles estão todos errados , o que realmente aconteceu foi ao contrário , Sebastian Junqueira havia roubado meu coração e me feito sentir dentro de mim a paixão mais sincera e avassaladora que alguém poderia sentir e depois disso , pegou o meu coração e serviu para si mesmo no jantar . Por anos eu senti uma certeza muito forte dentro de mim que eu faria de tudo por aquele homem , mataria e morreria por ele . Desde crianças meu amor sempre pertenceu a ele , nossas famílias sempre foram muito unidas , nossos pais saíram da pobreza e se ergueram juntos , sempre foram grandes amigos , até mais que isso , foram como irmãos , meu pai era dono de uma Companhia de Seguros muito famosa no país , mas ficou mais famosa ainda quando ruiu e foi a falência , o pai de Sebastian jamais deixaria o meu cair , então Vicente Junqueira foi lá e levantou o meu pai , impediu que ele caísse na ruína e investiu um dinheiro alto na empresa com a promessa de que os dois filhos mais velhos se casassem , foi a alternativa mais eficaz que encontraram de unir as duas fortunas e a ruína nunca chegasse aos Mitchel ... Meu pai vendeu a minha felicidade numa mesa de negócios , mas na época eu estava achando tudo o máximo , casar aos vinte e três anos com o cara que eu desejei tanto , o homem perfeito . Era até demais para acreditar ser verdade . No dia em que eu soube que eu me casaria com o Sebastian eu tive a ingênua certeza de que a felicidade tinha chegado para mim e não iria mais embora . Eu não sabia se esse sentimento era recíproco , mas eu estava disposta a qualquer coisa para conquistar o amor do meu marido , afinal , eu dormiria na mesma cama que ele , compartilhariamos das mesmas intimidades , de jantares românticos , viagens alegres e no final seria impossível resistir a uma mulher que você se deita ao lado todos os dias . Mas não foi assim , depois do meu sim no altar eu me dei conta que aquilo não era um livro de romance , tampouco um desenho dos contos de fadas , era a vida real e na minha vida real eu não tinha o amor de Sebastian . Por três anos eu amei sozinha , desejei sozinha , tentei sozinha e a única coisa que eu recebia em troca era esperar meu marido para o jantar todas as noites e acabar jantando sozinha em uma mesa longa na sala de jantar , e quando ele chegava em casa ele dizia sempre a mesma frase : "Lauren , eu tive uma reunião de última hora , eu estou cansado" . Nesses três anos devem ter acontecido vinte mil reuniões de última hora , afinal , qualquer reunião era mais divertida do que estar com a esposa em casa . Eu já havia decorado aquelas duras palavras que saíam das suas cordas vocais todos os dias , mas no fundo eu sempre soube que chegar tarde em casa era só um pretexto para não passar tempo demais comigo e não ter que me perguntar sobre o meu dia , nem prestar atenção no meu penteado novo , na minha maquiagem diferente e na camisa que eu tinha escolhido para usar hoje . Lembrar de toda essa frieza me fazia pensar o quanto eu aguentei todo esse tempo para no fim acordar em uma manhã qualquer , dispensar todos os empregados e deixar a mansão Junqueira vazia para nós dois , mas dessa vez sem intenções maiores e sim para colocar um ponto final em uma história que nem devia ter começado . Meu coração começou a bater em uma frequência maior quando eu ouvi o motor do seu carro se aproximar da entrada da casa e logo desligar , o silêncio tomou conta de tudo e eu respirei fundo , cheguei a repensar se o que eu estava prestes a fazer era o certo , mas apenas de lembrar as incansaveis esperas por Sebastian , a c***l expectativa de ganhar ao menos um par de brincos no meu aniversário e a indiferença fria de todos os dias me fazia ter certeza de que sim , eu precisava fazer isso . Respirei fundo , guardei a ansiedade dentro de mim , me levantei do longo sofá cinza , arrumei a minha saia que estava torta , coloquei os fios de cabelo que caíam nos meus olhos atrás da orelha e olhei diretamente para a porta de entrada se abrindo . — Essa casa não tem empregados ? — Ouvi a sua voz rouca e esbravejada , ele estava esperando algum empregado correr segurar o casaco dele e manobrar o carro na garagem , mas eu ignorei a sua pergunta . — Sebastian ... Precisamos conversar . — Eu disse e ele me encarou com aqueles olhos incrivelmente azuis e penetrantes . — Agora não , estou cansado Lauren . - Ele disse indo de encontro às escadas para o quarto , eu bufei . — Vamos conversar AGORA Sebastian ! — Eu disse dessa vez mais firme , ele parou no primeiro degrau da escada e me encarou mais uma vez . — Do que se trata ? É algo tão importante assim ? — Eu vou embora Sebastian ! — Eu disse sem rodeios . Ele arqueou as duas sobrancelhas e soltou uma risada abafada . — Vai embora para onde Lauren ? Para debaixo da ponte ? — Eu engoli em seco com a sua rispidez ao falar comigo . — Eu estou esgotada dessa vida que eu levo . — Esgotada de todo esse luxo ? Dinheiro , joias , vestidos , ... — O interrompi . — Eu troco tudo isso por alguém que me ame e me deseje verdadeiramente . — Lauren , me poupe , quando vai entender que isso não é um conto de fadas ? É a vida real . — Meus olhos lacrimejaram , eu peguei a minha mala do lado do sofá que já estava pronta , ele acompanhou meus passos com o olhar . — Exatamente por eu saber que essa é a vida real que eu não quero mais dividi - la com você . — Fui arrastar a minha mala até a porta e ele segurou a minha mala por cima da minha mão , eu o olhei , aquele era o único toque que eu tive dele nos últimos tempos . Por um momento eu pensei que ele fosse me pedir para ficar , mas ele era covarde demais para isso e eu precisava ser forte para ir embora .