capitulo3

835 Palavras
Quando cheguei ao trabalho, o mundo parecia ter perdido todas as cores. O corredor, que sempre vibrava com a rotina dos dias, estava mergulhado num silêncio sufocante e sombrio. Meu coração quase parou quando, ao virar a esquina, avistei Marcus sendo escoltado, algemado, saindo do escritório em meio a uma multidão de mulheres – algumas em lágrimas, outras com o rosto contorcido em raiva. A cena era surreal, um pesadelo que eu jamais poderia imaginar. Num ímpeto incontrolável, corri em direção ao tumulto, gritando com a voz embargada de emoção e desespero: — Eu sou a culpada! Eu que desviei o dinheiro! Não o Marcus, não ele! O grito rasgou o silêncio, e as pessoas pararam para me olhar. Em meio a lágrimas e soluços, eu continuava: — Por favor, não levem o Marcus! Ele não merece isso! Eu sou quem deve pagar por tudo isso! Meu coração batia forte enquanto a confusão se instalava. Os policiais, surpresos com a minha explosão, se aproximaram rapidamente. Em questão de instantes, sem que eu pudesse processar a totalidade dos acontecimentos, fui algemada e levada para a delegacia. Cada passo que eu dava era carregado de um drama que parecia saído de um filme: o som frio das algemas batendo em meus pulsos, o olhar perplexo dos colegas de trabalho, e, no fundo da minha mente, a imagem de Marcus – solto, sem acusações, com um sorriso que se misturava ao meu desespero. Na sala de interrogatório, sob a luz dura e impiedosa das lâmpadas, a verdade começou a se desenrolar em meio ao caos da minha própria confissão. O interrogador, com voz grave e sem qualquer traço de compaixão, exigia que eu explicasse como meu nome aparecia em todos aqueles documentos que comprovavam o desvio de bilhões de reais. Com a garganta apertada e as mãos trêmulas, eu comecei a falar, entrecortada pelo pranto: — Eu... eu desviei aquele dinheiro. Eu acreditava que era para o meu futuro, para o meu sucesso, nunca imaginei que iriam descobrir Cada palavra parecia me arrancar um pedaço da alma, e eu não conseguia evitar o peso esmagador da culpa. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu prosseguia, num desabafo quase incontrolável: — Eu sou a única responsável, eu que tomei aquela decisão cega de amor e confiança. Marcus... Marcus não teve nada a ver com isso! Mesmo em meio à minha confissão completa – detalhando cada transação, cada assinatura, cada artimanha que me levou a esse caminho de ruína – eu me recusava a revelar os nomes dos verdadeiros comparsas ou o local onde o dinheiro estava escondido. Essa era a única parte do enigma que eu guardava, talvez na esperança de que um dia a verdade se revelasse por completo. Os policiais anotavam cada detalhe, os olhares ao meu redor misturavam descrença e compaixão, mas eu m*l podia ouvir mais nada. Tudo o que importava era que eu estava ali, nua e exposta, entregando a culpa que jamais imaginaria carregar. Enquanto as palavras saíam de mim, a sensação de ter tomado a decisão certa se misturava à dor insuportável de ver o homem que amava, Marcus, livre e intocado. Quando a sessão de interrogatório chegou ao fim, o silêncio foi substituído pelo som frio das portas se fechando. Fui levada, ainda soluçando, pelos corredores da delegacia até a cela onde passaria os próximos anos da minha vida. A cada passo, a imagem de Marcus surgia em minha mente – o sorriso enigmático dele, aquele olhar que dizia “estou ao seu lado”, mesmo enquanto eu me perdia em um mar de desespero e remorso. Do lado de fora, no meio da multidão de curiosos e repórteres, Marcus permanecia. Sem nenhuma acusação em seu nome, ele parecia alheio à tragédia que se desenrolava dentro daquelas paredes frias. Seu sorriso, porém, não passava de um lembrete c***l da ironia do destino: enquanto eu era condenada pelo desvio, ele permanecia livre, inocente aos olhos do tribunal e da lei. Entre os gritos e a agitação do ambiente, minha única esperança era que, de alguma forma, Marcus pudesse entender que o que eu fiz – ou melhor, o que eu permiti que acontecesse – era o único sacrifício que eu poderia suportar. Meu grito desesperado, repetido inúmeras vezes, ecoava pela sala: — Não levem o Marcus! Ele sempre foi meu amor, e eu... eu sou a única culpada! Mas, naquele instante, não havia como reverter a tragédia. O destino, selado pelo meu próprio desespero e ingenuidade, havia me aprisionado para sempre. E enquanto eu era conduzida para a prisão, a amarga verdade se impunha: o preço do amor, para mim, seria a perda da liberdade e de tudo o que um dia sonhei construir. Assim, com o coração partido e a alma despedaçada, fui levada embora – deixando para trás não apenas um trabalho e uma vida de ilusões, mas o eco eterno de um amor que, em meio a tantas mentiras e manipulações, se transformara na mais c***l das sentenças.
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