Capitulo 2

794 Palavras
Meg Seis meses se passaram, e o tempo parecia ter me levado por um turbilhão de emoções e compromissos. Eu estava imersa nos preparativos para o nosso casamento — ou, pelo que eu acreditava, o casamento perfeito com Marcus, o homem por quem eu era completamente apaixonada. Naquela sexta-feira, após uma tarde exaustiva, finalizei os balancetes do semestre e os enviei ao meu chefe com um suspiro de alívio. Ao desligar o computador, meu coração já vibrava na expectativa de reencontrar Marcus. Imaginava seu sorriso ao me receber, o perfume amadeirado que sempre carregava e o calor familiar de estar nos braços dele — o único lugar onde eu me sentia verdadeiramente segura. Mais cedo, ainda no escritório, recebi uma mensagem dele: — Meg, estou a caminho. Prepare-se para uma noite inesquecível. Sorri como uma adolescente apaixonada. Me vesti com elegância e confiança, escolhendo um look que me fazia sentir poderosa. Por dentro, no entanto, eu sonhava — como sempre — com o nosso futuro, construído sobre cada gesto, cada jura silenciosa de amor eterno. Marcus chegou pontualmente, com uma caixa de bombons e aquele brilho nos olhos que me fazia esquecer o mundo. Beijou minha mão com gentileza. — Boa noite, minha noiva linda! — disse, com o charme de quem sabe exatamente o efeito que causa. — Boa noite, meu amor — respondi, completamente entregue ao momento. Fomos a um restaurante sofisticado, desses que parecem ter sido criados apenas para eternizar momentos. Entre taças de champanhe, risos e promessas veladas, Marcus deslizou para mim uma pasta de couro com a mesma elegância com que oferecia flores. — Meg, preciso que assine esses papéis — falou, com um sorriso sereno e firme. — São documentos para oficializarmos nosso futuro. Um passo importante para nós. Eu assinei sem pestanejar. A caneta m*l tocava o papel e meu coração já selava votos silenciosos de fidelidade. Para mim, aquilo era apenas mais um símbolo da confiança que dividíamos. No dia seguinte, enquanto experimentava meu vestido de noiva — uma peça rendada que parecia saída de um sonho —, meu telefone tocou. Era meu chefe. Sua voz estava carregada de tensão: — Meg, preciso que venha ao escritório imediatamente. O setor está sob investigação. Traga tudo o que estiver em sua posse. O coração falhou por um instante. Respirei fundo, me vesti e fui. Ao chegar, fui conduzida a uma sala com meu chefe e outros colegas. — Encontramos indícios de um desvio de dinheiro — anunciou ele, direto. — Bilhões desapareceram, e tudo indica que o setor de vendas foi o epicentro da fraude. Sentei-me em silêncio, sem entender como aquilo podia estar acontecendo. Recebi uma lista de documentos para revisar, e por dentro, o pânico já se espalhava como um veneno silencioso. Naquela mesma noite, busquei Marcus. Precisava dele. Precisava da calma que sua presença sempre trouxe. Mas encontrei outro homem. Um Marcus diferente, tenso, evasivo. Sentados em um restaurante discreto, o som ambiente contrastava com o frio que se instalava entre nós. — Meg, escute com atenção — disse, a voz trêmula. — Eu... fui implicado na investigação. Estão dizendo que fui eu. Mas... os registros apontam para uma conta em seu nome. Lá fora. Meu corpo congelou. — Meg, você precisa assumir isso por mim. É só por um tempo. Eu vou arranjar um advogado. Você não ficará muito tempo presa. E quando tudo isso passar... poderemos recomeçar. Juntos. Com tudo o que conquistamos. As palavras dele batiam contra meu peito como marteladas. Ainda assim, minha voz saiu quase serena: — Você quer que eu... assuma a culpa? Ele assentiu. — É a única saída. Eu não posso ser preso agora. Se você fizer isso por nós, eu prometo que nada vai nos separar depois. Por um momento, vi ali o homem que amava e, ao mesmo tempo, um estranho. O mesmo rosto, os mesmos olhos — mas com outra verdade por trás. E mesmo assim, minha resposta veio, instintiva. Talvez por amor. Talvez por cegueira. — Eu farei, Marcus. Por você. Por nós. Ele apertou minha mão, emocionado. — Obrigado, Meg... Eu juro que você vai me agradecer por isso um dia. Mas, ao voltar para casa naquela noite, sozinha, percebi que algo havia mudado. O caminho até ali, antes pavimentado com promessas, agora parecia um labirinto. Deitei na cama dos meus pais, o vestido de noiva ainda pendurado na parede, e fechei os olhos. Não chorei. Pela primeira vez, não chorei. Uma parte de mim começava a entender que o amor — o verdadeiro amor — não deveria exigir sacrifícios que custassem nossa liberdade. Eu ainda não sabia o que faria. Ainda não tinha forças para confrontá-lo. Mas sabia de uma coisa: Eu não era tão frágil quanto Marcus pensava.
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