Giselle
O cheiro do chocolate quente me fez sorrir, enquanto eu levava a xícara aos lábios. Dei um gole e admirei o sabor. Felix me observava com incerteza, com seus olhos verdes brilhantes buscando no meu rosto as respostas para as perguntas que estavam na mente dele.
"Ainda estou achando difícil entender por que você continua com esse cara" ele finalmente disse.
"Quando você veio pra Vino, eu falei bastante do lado da máfia, mas não foi para que você se juntasse a ele, Gi. Foi porque eu queria que você ficasse o mais longe possível." Lutei contra a vontade de revirar os olhos enquanto me acomodava no sofá.
O apartamento dele era onde eu me encontrava na maioria das vezes. Era aconchegante, caseiro e acolhedor. Ele já tinha me pedido pra mudar pra cá e dividir o aluguel e ficar na companhia um do outro, mas ele sempre fazia tanto por mim que acabei recusando, mesmo sabendo que era isso o que ele queria.
"Eu só estou dormindo com ele, não namorando" Eu disse a ele.
"E agora, cometendo crimes por ele"
Desta vez, eu realmente revirei os olhos. Eu deveria entregar o pacote hoje, e ainda não conseguia acreditar que concordei em fazer isso. Eu simplesmente não queria magoar o Teo dizendo não; esta era a primeira vez que ele me pedia para fazer algo por ele, além de t*****r ou cozinhar.
Eu não pude evitar o sentimento que veio com o pensamento de que Teo confiava o suficiente em mim para entregar o pacote. Eu sabia o quão importante aquele pacote era para ele. Quero dizer, essa foi a razão pela qual ele matou Matteo, meu pai.
Mas ele confiava em mim.
Eram momentos como esse que eu pensava que o Teo me via mais do que apenas uma amiga com benefícios. Às vezes ele até me fazia sentir melhor do que todos os outros caras com quem já tinha namorado. Mas eu sempre me lembrava de não sentir mais do que deveria por ele. Sempre me lembrava de que ele me chamava pelo nome de outra mulher.
"O Teo é um cara legal" eu disse com um sorriso sem graça.
Felix me olhou com um olhar que dizia "Sério?".
Suspirei.
"Ok, talvez não tão legal assim, ele está no meio termo... e eu gosto de sair com ele. Temos ótimas conversas logo depois que ele termina de me enlouquecer na cama" eu sorri.
Felix balançou a cabeça.
"A essa altura, já tô começando a achar que vocês estão em um relacionamento real."
"Não é." Eu ri.
"Nós apenas transamos e conversamos às vezes."
"E você cozinha pra ele."
"Porque eu gosto de cozinhar para ele. Eu gosto de cozinhar mesmo. E você viu a cozinha dele? Qualquer um iria querer cozinhar lá."
Com um suspiro, ele bebeu seu chocolate quente.
"m*l posso esperar para que o feitiço que aquele cara colocou em você seja desfeito… Tenho saudade da minha melhor amiga." disse Felix. "Aquela que pensa com a cabeça"
"Eu ainda penso com a cabeça" eu disse, tomando um gole de chocolate quente.
"Você m*l fica aqui na maior parte do tempo."
"Estou sempre aqui, Felix."
'Não, não, você não está... Você fica olhando para o celular a cada 5 minutos procurando uma mensagem do Teo" Ele riu.
Deixei cair a caneca.
"Bom, isso é porque tenho que ajudar ele com uma certa coisa."
"Sim, com coisas criminosas" afirmou Felix.
Eu ri. "Como você sabe que é coisa criminosa?"
"Porque quando perguntei com o que você ia ajudar, você disse com uma voz suspeita que 'é confidencial'. O que eu mais eu ia pensar ?"
Não pude deixar de rir.
"Você é tão dramático, sabia?"
Ele suspirou.
"Não é drama, Gi. Esse cara vai te meter em encrenca. Você não deveria sair com homens como ele. Eles eliminam pessoas e dominam, sei lá, áreas?"
Felix pausou e continuou.
"Se sua mãe descobrir sobre isso, você tá morta... Ela vai te levar para a igreja e expulsar o demônio que está fazendo você se envolver com ele."
Isso me fez rir. É verdade, minha mãe faria exatamente isso.
"Apenas tenha cuidado… Se esse cara fizer algo louco com você, eu nunca vou perdoar ele" avisou Felix.
"Sim, sim... E você fala como pudesse enfrentar o Don de uma família mafiosa" eu disse.
"Ah, eu posso, não subestime meus músculos e as minhas facas de cozinha" Felix sorriu.
"De qualquer forma, você sabe que estou aqui para você, pro que der e vier"
Sorri, prestes a responder quando meu celular começou a tocar.
Olhei para o nome na tela de chamada, e meus olhos se arregalaram.
"Quem é?" Felix perguntou.
Olhei para ele.
"É o Teo" eu disse.
"E daí?"
"O Teo nunca liga."
As sobrancelhas de Felix se levantaram. Peguei o celular e coloquei no ouvido confusa.
"An... Olá?" Eu perguntei, insegura sobre o que dizer.
"Por que você não atendeu no primeiro toque?" Sua voz soou ainda mais bonita no celular.
"Humm… Não sei. Quem atende no primeiro toque?" Eu disse.
"As pessoas que eu ligo" ele afirmou.
Teo nunca ligava. Pelo menos, nunca me ligou. Esta seria a primeira vez... e era estranho o quanto isso me deixou nervosa.
“O-ok.”
“Por que você está falando assim? Tá tudo bem por aí?” Ele perguntou.
Eu pisquei. "Sim? Eu... acho?"
Eu o ouvi suspirar do outro lado da linha.
“Onde você está?” Ele perguntou.
"Na casa de um amigo"
Houve uma pequena pausa, pensei que ele já tivesse desligado até que...
"Homem?" Ele perguntou.
Eu olhei para Felix.
“Sim, homem” eu respondi. Por que ele estava se importando com o gênero do meu amigo?
Outra pausa.
Suspirei. “Teo, você está aí?” perguntei.
“Sim, venha pra cá.” ordenou, sem nem ao menos me perguntar.
Depois disso, ele desligou.
Isso foi bem estranho.
“Deixa adivinhar, você precisa ir.” disse Felix.
Eu dei a ele um suspiro de desculpas.
“Volto logo” me levantei, pegando a minha bolsa.
“Eu prometo.”