Capítulo 3 – Sentimentos ocultos
Charlotte Lionett
- Pai, você precisa fazer algo, você não pode deixar o Emir nesse estado. – Implorei, mas meu pai não falou nada. Suspirou fundo e olhou para todos nós.
- Eu sinto muito, de verdade, mas eu não posso fazer mais nada, só nos resta esperar. – Meu pai disse com sinceridade.
- Ah Emir, que d***a você foi fazer? – Noah murmurou do meu lado e eu percebi o desapontamento no rosto do tatuado.
- George, o garoto ainda corre risco de vida? – Foi minha mãe quem perguntou.
- Felizmente o pior já passou. Gente, fiquem descansados, Emir está em boas mãos, eu e minha equipe iremos fazer o possível para que ele se recupere.
- Que coisa h******l. – Amy botou a mão no peito e John a abraçou.
- Pai, a gente pode visitar ele?
- Sinto muito meu amor, mas não. O paciente só pode receber visitas após 48h e isso se houver uma melhoria no seu estado. O melhor que vocês têm a fazer nesse momento é irem para casa e descansarem. Emir ficará bem.
Eu olhei para minha mãe, logo para Samia e depois para meus amigos. Todos eles concordaram.
- Doutor Lionett… - Samia começou. – Preciso lhe pedir um favor.
- Claro.
- Please, não deixe a imprensa chegar aqui e fazer perguntas sobre o meu filho. Como sabe, ele é famoso e os repórteres vão querer nos fazer perguntas a toda hora e nem eu, nem Charlotte e nem os amigos de Emir estamos com vontade de responder a quer seja que for. Não queremos que nos incomodem nesse momento doloroso, entende?
- Não se preocupe, irei falar com o doutor William que é o diretor do hospital para que os seguranças impeçam qualquer tipo de invasão por parte dos jornalistas.
- Muito obrigada. – Samia fez uma pequena vênia com a cabeça e eu deduzi que já era hábito dela fazer aquele tipo de gesto vindo da Turquia.
- Doutor Lionett, precisamos do relatório sobre a cirurgia do paciente Emir Rogers. – A assistente de meu pai surgiu atrás dele e meu pai assentiu.
- Já estou indo. Obrigada Mary. – Ele fez um leve sorriso e depois encarou minha mãe. – Estou no fim do expediente, mas ainda vou demorar algum tempo até sair. O melhor é você levar a Charlie para casa e os restantes acompanhantes de Emir. – Meu pai disse quase num sussurro para minha mãe, porém alto o suficiente para eu ouvir.
- Pode deixar, George. – Ela disse séria e deu um rápido beijo no rosto do meu pai.
*****
Narrado na 3ª pessoa
O horário do embarque estava previsto para dali a 20 minutos. A bela loira, vestida com roupa de outono desfilou por entre os vários salões de embarque e procurou o seu respetivo portão, achando ele em seguida.
O voo para NY ia lotado, pois já eram os vários passageiros que aguardavam a chamada.
Como ainda tinha algum tempo, decidiu comprar uma água numa lanchonete ali perto. Jogou alguns dólares para o funcionário e em seguida procurou um lugar na sala de embarque.
Megan destampou a garrafa e engoliu o líquido às pressas, fixando seu olhar em seguida nas notícias que passavam no canal CNN. O trágico acidente de Emir Rogers era uma notícia que já era falada em todo mundo e as imagens do hospital onde o doutor George Lionett trabalhava estavam exibidas na tela plasma. A jornalista falava algo a respeito dos fãs de Emir que estavam parados na frente do hospital, segurando vários cartazes com mensagens de solidariedade e fotos dele.
Megan soltou um longo suspiro. Ela não deixou de pensar que em parte da culpa de ele ter tido aquele acidente era dela, por não ter evitado que ele saísse de sua casa bêbado, mas não era só esse pensamento que a perturbava.
A imagem na tela plasma mudou e ela viu Charlotte saindo do hospital acompanhada por Noah. Os dois tentavam se desviar dos fãs que imploravam por respostas. Ao ver as imagens de seu ex-noivo, um frio passou pela sua barriga, mas esse sentimento se tornou negativo assim que o viu passando seu braço em torno dos ombros da sua melhor amiga.
Porque ele se preocupa tanto com ela? Será Charlotte o motivo de meu noivado ter terminado?
Aquelas perguntas redopiavam na sua mente desde há muito tempo atrás e cada vez mais as desconfianças dela batiam certo.
Noah está apaixonado pela minha melhor amiga.
Concluiu mentalmente com um sorriso irônico no rosto. Apesar de aquilo causar um desconforto nela, Megan não estava em posição de julga-lo por isso ter acontecido, afinal ela cometera o pior dos erros: Dormir com o namorado dela. Um ato de inconsciência e vulnerabilidade.
Agitou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e olhou para seu celular. Charlotte e Amy haviam deixado várias mensagens, mas ela não respondeu a nenhumas. Não estava preparada para enfrentar uma situação daquelas, muito menos olhar na cara do homem que dera um fim no relacionamento por estar apaixonado pela melhor amiga. Ela achou que o melhor seria mesmo ir para NY, talvez o início do estágio a motivasse a esquecer aquele sentimento de culpa.
- Atenção senhores passageiros, vamos dar início ao embarque do voo nr: AA342 com destino a Nova Iorque. Por favor mantenham seus passaportes na mão junto com o cartão de embarque. A AA deseja a todos uma boa viagem. – A voz assistente de terra foi ouvida e aquilo fez a Megan acordar de seus pensamentos. Pegou seu passaporte azul e se levantou de onde estava sentada, fixando pela última vez seus olhos verdes na tela plasma, que agora falavam sobre as eleições presidenciais que seriam no próximo ano.
Novos pensamentos surgiram na sua mente, sendo eles sobre a turnê da banda, que provavelmente seria adiada e sobre o fato de Charlotte viajar para NY.
Será que ela vai viajar?
Claro que ela não ia viajar, não com Emir naquelas condições. Soltou um longo suspiro e lentamente caminhou até na fila que embarcava aos poucos.
*****
Charlotte Lionett
Chegámos no estacionamento com alguma dificuldade depois da invasão dos paparazzi e dos fãs. Noah se ofereceu para me deixar em casa e eu não recusei, pois afinal eu não tinha trazido meu carro.
Ajudei Samia colocar sua bagagem dentro do porta-bagagens e em seguida nos acomodámos no carro. Noah no lado do condutor, eu do lado dele, Samia atrás junto com minha mãe e Maya. O som do motor sendo ligado foi ouvido segundos depois e logo Noah deu a partida, dirigindo em rumo de Beverly Hills.
Durante o trajeto pude ouvir Samia conversando com minha mãe, mas o som de suas vozes se arrastava em minha mente, pois ela estava completamente desligada do que se passava em minha volta. Encostei minha cabeça no vidro do carro e meus pensamentos se desviaram para o homem alegre, de rosto com traços médio orientais e sorridente.
Como eu fui deixar aquilo acontecer? E o que eu ia fazer em relação a ida para NY? Sério, eram tantas perguntas que surgiam na minha mente que eu não conseguia achar uma resposta para elas.
Enquanto pensava senti várias vezes o olhar de Noah posto em mim, mas não fiz questão de olhar para ele. Sabia que ele estava preocupado e que ele estava sentindo a mesma dor que eu estava sentindo.
Chegámos em casa e decidi preparar chá com a ajuda de minha mãe, enquanto os restantes ficaram na sala. A grandiosa casa estava com uma energia estranha, era como se faltasse algo nela, entendem?
Servi as xícaras, uns quantos biscoitos e levei a bandeja para a sala, onde em seguida eu e minha mãe nos sentámos perto dos outros.
Meu IPhone tocou em cima da mesa de centro de vidro e eu atendi. Era Emma lamentando o que havia acontecido com Emir. As duas caímos na choradeira, o que foi impossível evitar.
Deixei a sala alguns minutos depois sem falar nada para ninguém e fui até no jardim. O clima estava ficando mais frio e o outono começava a se aproximar. Soltei um suspiro pesado e me sentei numa das cadeiras de frente para a piscina. Me perdi em meus pensamentos mais uma vez e teria continuado pensativa se não fosse uma mão pesada a se pousar sobre o meu ombro. Reconheci a mão masculina, ainda com a aliança de ouro posta no dedo anelar direito. Olhei para cima e vi o homem tatuado. Com um leve sorriso se sentou na minha frente e tirou um cigarro do bolso da jaqueta de couro, acendendo o mesmo logo em seguida.
- Como você está? Notei que deixou a conversa a metade lá na sala. – Ele disse, me olhando nos meus olhos.
- Ah Noah… - Suspirei, dando de ombros. – Eu nem tenho palavras.
- Entendo. – Ele deu uma breve tragada no cigarro e voltou seu olhar de volta para mim enquanto soltava a fumaça.
- Ainda me pergunto porque isso foi acontecer… Juro, eu não tinha intensão de provocar isso.
- A culpa não é sua, Charlie.
- Mas é claro que é. Se não fosse aquela briga i****a, ele não estaria lutando pela vida nesse momento.
- Eu não quero julgar ninguém, mas acho que ele não reagiu bem com você. – Respondeu depois de dar outra tragada no seu cigarro.
- Que d***a, logo agora que estava dando tudo certo, vocês estariam viajando para Glasgow em rumo da turnê, eu estaria começando meu estágio em NY… oh my god… - Escondi o rosto e chorei de novo. – Eu não queria que isso tivesse acontecido. – Falei entre o choro.
Noah apagou o cigarro inacabado e num rápido gesto se sentou do meu lado, envolvendo seu braço em volta dos meus ombros. Encostei minha cabeça em seu peito e aos poucos, meu choro foi se dissipando. Senti sua mão quente acariciar meu rosto e logo levantei minha cabeça de seu peito. Limpei as lágrimas e depois olhei nos olhos escuros dele.
- Me desculpe, não queria chorar de novo…
- Não se preocupe com isso. – Sorriu carinhoso, mas logo o sorriso desapareceu, dando origem a uma expressão séria. – Será que posso te perguntar duas coisas?
- Claro.
- Você vai para NY depois do que aconteceu com o Rogers?
- Eu não posso deixar o Emir assim nessas condições, eu não iria me concentrar no estágio, mas também não quero adiar a gravação do meu primeiro álbum e o lançamento do meu vídeo. Nesse momento não quero pensar nisso, até porque Emir é a minha prioridade nesse momento.
- Mas também não seria bom para a sua própria carreira adiar os prazos. As agências musicais depositam tudo em você e na maioria das vezes não compreendem os nossos problemas pessoais. Sou experiente nessa área, sei como tudo funciona.
- Dane-se isso. – Falei firme. – Prefiro arriscar do que deixar Emir.
- Você é realmente uma pessoa bondosa, nunca duvidei disso, mas você sabe que Emir ficaria desiludido com você se você desistisse.
- I know.
- Charlie… - Ele segurou na minha mão. – Não desista do seu sonho, seria mau demais se você o fizesse.
- Obrigada pelo conselho. Eu vou pensar sobre isso. – Sorri ternamente e soltei minha mão da dele.
- Ahm… - Notei algum nervosismo nele, mas achei que não fosse nada de especial. – Seus sentimentos por Emir são muito fortes, não é mesmo?
Franzi o cenho, completamente confusa.
- Porquê esse tipo de pergunta? Achei que soubesse a resposta. – Ele riu pelo nariz. – Posso saber porque quer saber?
- Não importa, você não ia entender.
- O quê que eu não ia entender?
- Não insista, por favor. – Pediu e eu fitei-o com bastante desconfiança. – Lembra da noite passada, quando falámos sobre os meus problemas?
- Como poderia esquecer? – Sorri irônica, me lembrando novamente que Emir estava naquela cama de hospital em coma.
- Lembra quando eu falei que Emir era um sortudo de m***a?
Meu coração bateu rápido depois daquela pergunta. É claro que eu me lembrava.
- Você estava bêbado… - Desviei meu olhar do dele, tentando não mostrar para ele que estava nervosa.
- Eu não estava tão bêbado assim. Charlie… - Ele segurou no meu maxilar com delicadeza, obrigando-me a encará-lo. – O Rogers é um sortudo de m***a e eu não me canso de repetir isso. Você é uma mulher linda, provavelmente a mais linda que vi em toda minha vida, tem um coração doce, é inteligente, madura…
Foi impossível não corar naquele momento.
- Você…
- Quê?
- Esqueça… - Afastei meu corpo ligeiramente do dele e senti meu rosto queimar, acho até que estava parecendo um tomate maduro.
Desviei meu olhar do dele mais uma vez e tentei recuperar o fôlego. Noah me encarava sério, com aquela mesma expressão sedutora, misteriosa e de homem rebelde, mas atraente ao mesmo tempo. Seus olhos escuros brilhavam como duas pérolas e não pareciam os mesmos olhos apagados e sem vida de há dias atrás quando ele ainda era o noivo da minha melhor amiga.
Voltei para dentro de casa, pois estava ficando frio e me deparei com as restantes pessoas que agora conversavam sobre um tema diferente. Meu pai também tinha vindo me visitar.
Fui até na cozinha pegar algo para beber e senti que o Noah veio atrás de mim. Sério, ele estava muito esquisito comigo, ou seja, ele estava próximo demais. Não é que eu não gostasse de sua companhia, até porque ele é o meu melhor amigo, com ele eu me sinto segura, seus abraços são reconfortantes, mas eu to achando estranha toda essa aproximação repentina, assim como o jeito de ele falar comigo. Eu só espero que isso não crie confusão entre mim e a Megan.
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