Pré-visualização gratuita Inicialmente Desastroso
Não era pra passar dos 20 convidados, afinal, Choi Minho nunca fora fã de lugares cheios e música alta. Mas seu apartamento estava lotado naquela noite, onde comemorava seu aniversário de 30 anos. O advogado, que só gostava de momentos agitados quando esses momentos envolviam um tribunal, estava sentado no chão entre os sofás, a mesa de centro lotada de bebidas, limões cortados respingavam e manchavam o chão de um jeito que o Choi não iria conseguir limpar no dia seguinte, não com seus dotes domésticos nada bons no quesito faxina.
Uma música alta tocava, mas Minho já havia bebido demais para se incomodar com ele detalhe. Não que estivesse bêbado, mas também não estava sóbrio. Jinki lhes contava sobre uma briga que tivera no estacionamento do supermercado, sobre ter partido para cima do alfa e ainda ter lhe dado uns bons socos, o beta não tinha medo de brigas, mas todos sabiam que enfeitava demais suas histórias.
— E você fez o que depois? — Kibum surgira atrás do sofá, segurava um copo em cada mão — Foi pra cama com ele?
— Por acaso está escrito “Kibum” na minha testa?
O ômega lhe mostrou a língua.
— Se tivesse, pelo menos, teria algo bonito na sua cara. — retrucou, fazendo com que os demais ali perto rissem alto, alto demais para alguém que dizia nem ter passado da segunda garrafa de whisky — Mas não se preocupa, Jinki, na próxima encarnação você pode nascer uma ômega e matar todos os seus desejos ocultos por alfas.
Foi a vez de Jinki lhe mostrar uma careta.
O beta era do tipo que gritava aos quatro ventos que era dominante, que nunquinha em sua vida um alfa encostaria nele, que seu lance era ômegas, apenas ômegas e mais nada, sequer se relacionava com outros betas. Kibum o conhecia desde a época da faculdade, quando Jinki começou a namorar um de seus amigos, o namoro se foi, mas Jinki ficou, ficou mesmo sem ter sido convidado. Quando notara, o beta já andava para todos os lados com seus amigos alfas, sendo tão babaca quanto os próprios.
— Sente-se conosco, Key. — ouvira quando o aniversariante o convidou, Minho tinha uma expressão divertida no rosto, um sorriso que ficava, coisa que não era possível ver todos os dias, só mesmo o whisky para deixa-lo assim — Vem, é chato sem você!
— E há espaço para um ômega no meio da rodinha de ALFAS? — o Kim dissera bem alto, olhando diretamente para Jinki, que o ignorou.
— Sabe que às vezes eu esqueço que você é um ômega? — Minho, meio bêbado, acabou tagarelando — É, pra mim é como se você fosse um alfa.
— Obrigado pela tarde que me toca, Minho. — foi sarcástico, mas não estava chateado com isso, não era a primeira vez que Minho falava algo do tipo, ele também sabia que o Choi estava sendo bem sincero, muitos vezes agia e até tirava a roupa perto dele, esquecendo-se completamente que o amigo era um ômega — Mas agora eu preciso dar atenção ao meu amigo.
— Trouxe alguém?
— Sozinho num apartamento cheio de alfas e ômegas magrelas? Nem pensar!
O Kim fez uma expressão divertida, deixando os amigos para trás.
Kibum havia levado um de seus novos amigos para o aniversário de Minho, havia conhecido Lee Taemin há uns três meses, em uma livraria perto do hospital onde trabalhava, o outro ômega estava lendo Percy Jackson e Kim Kibum não deixaria que nenhum fã de Percy Jackson passasse por ele sem dar ao menos um “Oi”, e o “Oi” virou um “Fica com meu número”, e o “Fica com meu número” se transformou em horas conversando por mensagens, quando viu já não sabia mais como era sua vida sem o ômega desbocado e com leves — nem tão leves — toques de safadeza.
Como ele próprio dizia, herdara a beleza de Apolo e o fogo no chicote de Afrodite.
— Pega aqui, ômega consumidor de vinho. — foi o que dissera assim que alcançou o Lee, que parecia muito entretido observando a mesinha de vidro cheia de fotografias — E não toca nisso aí, Minho detesta marcas de dedos.
— Vinho é chique. — ele respondeu — Uma bebida de classe para um ômega de classe!
— Você? De classe? — debochou — Vi toda a sua classe naquele fim de festa, naquela camisa faltando uns três botões...
— Vamos deixar essa história para lá!
Kibum já havia frequentado algumas festas com Taemin, mas sempre a pedido do mais novo, pois preferia o sossego do seu lar, uns bons livros para ler e uma xícara de café bem quente. Além disso, Kibum era médico, ele quase nunca tinha tempo para nada, até mesmo quando estava de folga, sempre precisava manter o celular ligado, pois a qualquer momento uma urgência poderia acontecer.
— Olha, esse aqui é o Minho. — o mais alto apontou para um porta-retrato, onde um alfa moreno abraçava uma senhora baixinha — Tá um pouco melhor agora, desistiu dessa barba i****a.
— Ele fica bem de barba.
— Ele fica bem em fotografias, fotografias não falam. — riu sozinho — Choi Minho calado é um lorde.
— Você é sempre assim?
— Sabe que detesto alfas.
— E anda com um monte deles?
Kibum deu de ombros.
— Gosto de me auto castigar. — o médico balançou seu copo, as pedrinhas de gelo batiam contra o vidro — Já tentei jogar pela janela, mas alfas são insistentes, mandamos embora e eles voltam.
Taemin riu.
Pelas costas do Lee, Kibum viu que Minho estava se aproximando, alegre demais, diga-se de passagem, mas ninguém ali iria o julgar, o Choi m*l se divertia, era sempre trabalho e mais trabalho, poderia contar nos dedos a quantidade de vezes por ano que Minho tirava um dia para fazer o que bem entendesse. Se parecia com ele em alguns momentos, o trabalho sempre em primeiro lugar.
— Key, tem alguém vomitando do meu banheiro. — foi a primeira coisa que disse assim que parou ali perto.
— E o que eu tenho a ver com bêbados vomitando no seu banheiro?
— Você é médico.
O ômega revirou os olhos. Taemin se chateara por Minho não ter falado com ele, achara isso uma imensa falta de educação, era como se o alfa nem tivesse o visto. E ninguém ignorava Lee Taemin!
— Oi, você é o aniversariante! — o Lee escancarou um sorriso na cara, estendendo sua mão na direção do Choi — Eu sou Taemin, Lee Taemin, gostaria de parabenizá-lo.
O Choi lhe estendeu a mão e a apertou, nenhum dos dois viu o que aconteceu naquele momento, mas os olhos de ambos mudaram para um tom dourado por cerca de dois segundos, enquanto suas mãos ainda se seguravam. Kibum estava prestando atenção em Minho e viu quando isso aconteceu, mas achou ser coisa da iluminação do local, ou imaginação própria, não seria a primeira vez que estaria enxergando coisa demais.
— Obrigado. — o Choi sorriu simpático — E Key, dê uma olhada no cara no banheiro.
Logo depois o alfa saiu, voltando para o mesmo local de onde vinha.
— Ele é bonito. — foi a primeira coisa que Taemin disse assim que Minho se afastou, não duvidava nada que ele tivesse escutado — Gostoso, arriscaria dizer.
— Não perde seu tempo, Tae. — o Kim bebeu de uma vez o resto da bebida — Vou olhar logo esse cara, eu detesto ser médico!
Taemin sabia que Kibum estava dramatizando, o amigo adorava sua profissão, pelo menos, na maior parte do tempo ele adorava. Estando sozinho, e curioso do jeito que era, passou a andar pela casa e observar os móveis e quadros nas paredes, seja lá quem Choi Minho era, ele era alguém de bom gosto, elegante até, a casa era bem organizada e havia prateleiras cheias de livros, mas m*l pudera se animar com aquilo, todos eram sobre ciências jurídicas, mais e mais livros sobre direito penal e mais uma pilha sobre a mudança das leis com o passar do ano, tinha até mesmo três volumes só sobre leis absurdas em países africanos.
Minho era um advogado focado, ou alguém com gostos muito estranhos. A única coisa que se salvava no meio daquilo tudo, eram os livros de mistérios policiais, que não era exatamente o tipo preferido de Taemin, mas pareciam bem mais interessantes do que os livros chatos sobre advocacia.
— Eu não gosto que mexam nas minhas coisas.
Se assustou com a voz bem em suas mãos, parando sua mão bem no meio do caminho, quando estava prestes a encostar seus lindos dedinhos no livro intitulado “O Jogo do Enganador”. Ao se virar, avistara Minho, parado bem perto de si, com uma expressão nada boa.
— Eu também não gosto que me assustem! — respondeu — Não chega assim de mansinho!
— Estou na minha casa, não me diga como devo chegar. — a mesma expressão séria continuava ali, o jeito com que Minho o olhava era bem diferente do jeito que há pouco tempo estava olhando para Kibum — E saia de perto dos meus livros.
— Não estou interessado nesses seus livros chatos. — de um modo infantil, o Lee fez uma careta — Poxa, nem um romancezinho.
— Não tenho tempo para romancezinhos.
— Por isso tem essa cara de m*l amado! — o ômega meteu o dedo no peito do Choi, ele era bem menor, mas o que tinha de pequeno, também tinha de atrevido.
Não dera tempo que Minho dissesse alguma coisa, o Lee passou por ele rapidamente, ignorando qualquer coisa que o alfa pudesse dizer. Minho era um desperdício de alfa, Taemin poderia dizer, tão bonito e ao mesmo tempo chato e carrancudo, parecia um velho, um daqueles velhos bem chatos que jogam xadrez no parque rodeado de ômegas jovens e interesseiros.
Com certeza o fim da vida de Choi Minho seria assim.
— Me ligaram do hospital, preciso ir agora, é urgente! — Kibum surgira agitado, praticamente corria pela casa — Você vem comigo ou vai ficar?
— Uma corrida alucinante no carro de um médico indo salvar uma vida ou a festa de aniversário de um alfa que o que tem de gostoso tem de chato? Nossa, que difícil.
— O que o Minho fez?
— Nada, vamos logo!
Mesmo que a resposta de Taemin tenha sido “nada”, ele contou tudo no caminho, enfatizando o quanto Minho era carrancudo, mas não deixando de comentar sobre o quanto ele também ficava sexy quando estava dando uma bronca em alguém. Taemin não tinha jeito.
[...]
A cabeça de Minho latejava, havia bebido demais e se lembrava de pouca coisa. A festa havia acabado lá pelo meio da madrugada, quando as pessoas começaram a ir embora cansadas e algumas bêbadas demais. Como hábito, pegou seu celular para olhar a hora, já passara do meio dia. Viu também inúmeras ligações que fez para Kibum, onde nenhuma delas foi atendida, sua operadora acusava que havia deixado várias mensagens na caixa postal.
Se ergueu da cama indo para o banheiro, onde passou a escovar os dentes de um jeito entediado. Era vaidoso, sempre prestava atenção nos detalhes do próprio rosto, e não demorou muito para encontrar algo estranho em sua nuca, quase atrás de sua orelha, não conseguia ver direito, então pegou outro espelho, o colocando em um ângulo que conseguisse ver.
Era uma marca estranha, uma meia lua, mas não se parecia com uma tatuagem, se assemelhava mais com um sinal, uma pinta. Tocou aquela pele e não doía, não coçava ou formigava, era como se ela sempre estivesse estado lá. A princípio não deu muita bola, se não doía, não deveria lhe ser um problema.
Mas com o passar dos dias, Minho passou a sentir um forte aperto no peito, uma saudade de algo que ele sequer sabia que existia, sentia-se sozinho dentro daquele apartamento, que parecia cada vez maior e mais vazio. Tinha febre em alguns dias, o que passou a deixa-lo preocupado, isso ao ponto de num fim de tarde, ir até o consultório de Kibum. Ele pegou uma ficha e esperou sua vez como todos os outros pacientes, nas raras vezes que foi até ali sempre fez da mesma maneira, não achava justo furar a fila só por ser amigo do médico.
— Oh, meu Deus! — foi a reação de Kibum assim que o amigo ocupou a cadeira da frente — Sofreu uma facada? Um tiro? Já sei, é DST, não é?
— Muito engraçado. — o alfa riu sem humor — Olha, eu só vim porque só achei bobagens na internet.
O Kim ajeitou a postura, ocupando uma pose séria. Minho virou um pouco o rosto, amassando a própria orelha para mostrar o sinal estranho que surgira em sua pele.
— Você fez uma tatuagem e ela inflamou?
— Não! — ele parecia meio impaciente — Essa marca surgiu há uns dias, desde o meu aniversário, eu acordei no dia seguinte e ela estava lá. Tenho me sentido estranho desde esse dia, não consigo explicar.
— É claro que consegue explicar, você é advogado, fala o dia todo.
— É uma coisa estranha, uma falta, um vazio, tenho tido febre também. — explicou, não queria ter que falar tudo, se sentia patético com essas sensações.
Kibum achava ridícula essa mania dos alfas evitarem hospitais e consultas, sempre alegando que estão bem e “a natureza irá me curar”. Geralmente alfas já apareciam ali bem nas últimas, quase morrendo e seus casos eram quase irreversíveis. Minho poderia ser seu melhor amigo, mas ainda estava na lista de alfas imbecis daquela cidade.
O ômega observou bem o desenho de meia lua na nuca do Choi, e como num estalo, lembrou-se de ter visto a mesma marca há alguns dias atrás. Pegou rapidamente seu celular, buscando o aplicativo de mensagens, procurando uma foto que haviam lhe enviado. Comparou as duas marcas, vendo que eram iguais. Já estava investigando há alguns dias, tentando descobrir do que se tratava, havia conversado com alguns colegas de profissão, onde haviam chegado a uma conclusão rara, algo que apenas um deles, um neurocirurgião mais velho, havia visto.
— Parabéns, Minho, você tem uma marca de alma gêmea. — ele disse, virando a tela do celular para que o alfa também visse a foto — E para sua sorte, sua provável alma gêmea está bem perto.
— Tá brincando, não é? — ele riu, incrédulo, como se o médico tivesse feito uma piada absurda.
— Não tenho tempo para brincar. — Kibum respondeu sério, chateado pela reação do amigo — Você e sua alma gêmea se encontraram e se tocaram por mais de um segundo, o suficiente para que suas almas irmãs se fundissem, um ato lindo, eu diria.
— Tá legal. — o Choi encostou as duas mãos na mesa — Digamos que você esteja falando sério.
— O que eu estou.
— Você tem ideia de quem é essa minha provável alma gêmea?
A reação de Kibum era de puro divertimento, como um palhaço parado no centro do picadeiro pronto para ver o circo pegando fogo. Numa reação, Minho teve certeza que ele estava prestes a falar algo que não iria gostar de ouvir. O Kim mexeu mais um pouco em seu celular, procurando por algo. Quando virou, a foto de um rapaz que lembrava vagamente de já ter visto estava sobre a tela.
— Lee Taemin. — falou — Ele está com uma marca igual no mesmo lugar.
Vira a expressão desgostosa no rosto de Minho. Choi Minho era um alfa hétero.
[...]
Minho estava impaciente como nunca, já achava completamente ridícula toda aquela história, e ainda não conseguia acreditar como Kibum o havia convencido de seguir em frente com aquilo. O Kim o havia convencido a se encontrar com Taemin, sua suposta alma gêmea, para discutirem o que iria fazer, algo que obviamente o alfa julgava como desnecessário, tendo em vista de que ele já sabia muito bem o que iria fazer.
Minho estava mais do que decidido a ignorar toda aquela situação, fingir que nada daquilo estava acontecendo, passar maquiagem por cima daquela meia lua e passar a viver como se nunca tivesse a visto. E quanto as sensações ruins que estava sentido? Acreditava que logo elas passariam, que não passavam de sustos que seu lobo estava lhe dando apenas para o obrigar a fazer algo que não queria. E como seu pai sempre lhe dissera a vida toda “Nós comandamos nossos lobos”. Choi Minho nunca perdia o controle, não seria agora que iria começar a perder.
— Ele está atrasado. — o Choi dissera após olhar em seu relógio, já passara quase meia hora do horário em que haviam combinado.
— O Taemin é assim mesmo, ele sempre se atrasa.
Taemin era do tipo que passava horas se arrumando na frente do espelho para absolutamente qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, ele se arrumaria até mesmo para ir a padaria comprar pão. O ômega era absolutamente vaidoso, gostava de estar sempre impecável, a ideia de que alguém o olhasse e encontrasse qualquer coisa errada o incomodava e muito.
E estava indo encontrar-se com sua alma gêmea, não era como se fosse sair de qualquer jeito.
— Me desculpem o atraso. — o ômega Lee surgira de repente, fazendo o possível para mostrar-se incomodado com o provável motivo do atraso — O trânsito estava um caos.
— Você mora no prédio do outro lado da rua. — Kibum o entregara, vendo Taemin o olhar indignado.
Sentia-se traído.
— Foi difícil atravessar a rua.
Kibum revirou seus olhos, indicando o espaço ao seu lado para que o mais baixinho se sentasse. Taemin ocupou o espaço ansioso pelo que iriam discutir. Em sua cabeça, não havia muito o que pensar, almas gêmeas tinham que ficar juntas, não era uma questão de escolha. E como um bom leitor de romances clichês, acreditava que Minho o pediria em casamento, que os dois iriam viver juntinhos em uma casa cor de rosa, que teriam três filhos com nomes de cantores famosos e um cachorro chamado Marley.
Já tinha escolhido até a cabana em que os dois iriam morar quando ficassem velhinhos.
Mas assim que seus olhos cruzaram os olhos entediados e impacientes do mais velho, conseguiu se dar conta de que as coisas não seriam assim, aliás, passariam longe. Minho o olhava como se fosse um inimigo, olhava para a porta como quem queria ir embora. Não, era mais do que obvio que o alfa não estava gostando de nada daquilo, logo, contrariando todas as suas expectativas. De repente, se dera conta de que Choi Minho continuava sendo o mesmo alfa grosso que não estava que mexessem em suas coisas.
Certamente não gostava de que mexessem em sua vida também.
— Sei que estão passando por um momento bastante singular e até mesmo bem difícil, mas precisamos discutir algumas coisas. — o Kim começara a falar diante do silêncio dos outros dois — Aliás, eu não tenho nada a ver com isso, claro, mas gostaria de auxiliar vocês, de ajudá-los a entender tudo e a lidar melhor com as coisas, vocês são meus amigos, e ainda não conhecem um ao outro.
— Não tem muito o que ser discutido, Key. — o alfa o interrompeu no meio de seu discurso, ele sabia muito bem que Kibum estava tentando convencer ambos de algo — Não pretendo levar isso adiante.
— O que quer dizer com isto? — Taemin perguntou bem afoito, o jeito que Minho falava o assustava.
— Não ligo para essa história de alma gêmea. — expôs — Vou continuar vivendo a minha vida, e você vive a sua.
Os dois ômegas se olharam por um ou dois segundos, Taemin tinha um milhão de questionamentos a fazer, tanto para o Kim quanto para o Choi. Mas não teve tempo de dizer nada, logo o alfa já estava se levantando de onde estava, indo embora como quem não tinha mais nada para falar.
Mas as coisas estavam longe de estarem resolvidas.
— Não pode fazer isso, Minho! — Kibum praticamente gritou quando o alfa fez menção de ir embora — Almas gêmeas precisam ficar juntas, não é uma escolha, tem que ser assim! Minho, volta aqui!
Mas já era tarde, o Choi havia mesmo ido embora e ignorado qualquer coisa que pudesse dizer, deixando não apenas um Kibum indignado após ter sido ignorado, mas um Taemin preocupado diante daquilo tudo. O que iria fazer com as sensações que a falta de Minho o fazia ter? Se sentira m*l por todos aqueles dias, tinha esperanças de que aquilo fosse acabar, mas agora, vendo o alfa ir embora, convicto de que não aceitaria aquilo, o ômega teve certeza de que as coisas não ficariam nada bem.
Ômegas sempre foram mais sensíveis, era evidente que sofreria bem mais do que Minho.
Não, não podia deixar as coisas ficarem assim!
///
— Não preciso isso de anunciar, eu não sou um cliente!
Assim que olhara para a porta sendo aberta, Minho teve certeza que seria acometido de uma grande dor de cabeça. Taemin estava ali, discutindo com a secretária enquanto tentava entrar sem ser anunciado, em vista de que achava aquilo desnecessário e bem i****a, afinal, não era nenhum estranho, e nem estava ali para ser atendido pelo advogado, e também era bem obvio que se soubesse quem era, Minho nem ia deixar entrar.
— Sr. Choi, eu não pude evitar, ele foi entrando! — a moça tentou se desculpar assim que viu Taemin se acomodando na cadeira diante a mesa do alfa — Ele... Ele...
— Tudo bem, Srta. Kim, pode voltar ao seu trabalho.
A moça se curvou e saiu fechando a porta, deixando com que Minho e Taemin ficassem a sós. O alfa inflou as bochechas e soltou o ar, vendo o Lee com um sorrisinho cínico na cara, sentado ali como se fosse um convidado de honra, que nem tinha entrado fazendo confusão.
— O que você quer? — o alfa perguntou, não fizera questão de esconder que não havia gostado nada de vê-lo ali.
O que ambos sabiam que era mentira. No momento em que sentiu o cheiro do ômega, as sensações ruins foram embora, era como se a presença de Taemin fosse um santo remédio, daqueles que faziam efeito em poucos segundos após serem tomados. Mas isso era algo que não iria admitir, sequer gostava daquilo, preferia ficar com as sensações ruins do que ter que admitir que a presença de Taemin o fazia bem.
Não iria baixar a cabeça para aquela marca, seu lobo não o obrigaria a seguir com aquela história e nem a admitir Taemin em sua vida, assim, como se tudo fosse muito simples, como se fosse apenas chegar e dizer “vamos ficar juntos” e então ficar. Não mesmo, nenhum ômega macho iria ficar em sua vida como se ambos pudessem ter algo, de jeito nenhum!
— Por que você é tão grosso?
— Olha, não sei se percebeu, mas eu estou muito ocupado agora, estou no meio de um caso que está tirando o meu sono. — os olhos do Choi se voltaram novamente para os papeis, tentando se concentrar no que lia e não no ômega com os cotovelos na mesa.
— Está sem sono por causa do caso ou por que está precisando da minha presença?
Era obvio que era pela necessidade de estar perto do Lee, mas optou por não responder nada. O ômega tentou olhar o que ele fazia, mas não entendia nada daquilo. Tentou mexer no porta-lápis, mas Minho tomou de suas mãos, mais uma vez afirmando que não gostava que ficassem mexendo em tudo.
Taemin sempre fora do tipo inquieto, logo já estava de pé andando pelo escritório e lendo os títulos dos, também, diversos livros sobre ciências jurídicas. Tudo ali era bem chato, assim como seu dono, que não escondia nenhum pouco que estava incomodado com o ômega andando por seu escritório e passando os dedos em tudo.
— O que exatamente você veio fazer aqui? — tornou a perguntou, desde que chegara, Taemin só ficara andando e não dissera nada de muito relevante.
— Não é obvio? — o olhou — Vim diminuir a dor que está nos causando!
Minho revirou os olhos e soltou o ar dos pulmões, Taemin já estava pronto para iniciar um longo discurso sobre como o alfa estava tornando as coisas difíceis e os fazendo sofrer. Sofrer! Eles estavam sofrendo com aquele distanciamento, precisando um do outro e o alfa ficava lá, agindo como se com o tempo tudo fosse se normalizar simplesmente, que seus lobos fossem esquecer que estavam ligados.
E isso não iria acontecer, não iria acontecer nunca.
— Minho-
— Choi Minho! — o cortou — Não somos íntimos.
— Íntimos o caramba, eu sou sua alma gêmea, isso é bem mais do que ser íntimo. — logo o Lee se aproximara da mesa, pondo suas mãos sobre ela — Minho, você precisa de mim da mesma forma que eu preciso de você.
— Não vai me convencer a ficar com você, deixa eu soletrar para ver se entende. Eu. Não. Gosto. De. Ômegas. Machos.
O menor grunhiu com raiva, não entendia essa história de Minho não gostar de ômegas machos, não era a mesma coisa? Ômega é ômega, independente de seu gênero, e isso era algo que todos sempre aceitaram e viveram bem com isso. Quando conversou com Kibum, o mesmo lhe explicara que Minho era assim, que era um gosto dele, e já conhecera outros alfas que preferiam mulheres, mas sempre foi apenas isto, uma preferência, não era como se detestassem ômegas que eram homens.
Mas Minho não, Minho realmente não queria nem saber de um ômega homem.
— Não estou te pedindo para ser meu alfa, eu só não quero me sentir tão m*l o tempo todo. — falou baixo, tentando mostrar que falava sério, queria que Minho visse que ele estava sofrendo, que também não estava bem com aquela história, e que o alfa não era o único que sentia alguma coisa — Eu só quero ficar perto, pelo menos um pouco, pelo menos por algumas horas, acredito que seja o suficiente para que a sensação r**m diminua e eu consiga viver a minha vida normalmente.
Minho não disse nada, mas balançou a cabeça afirmando que havia entendido. Nenhum dos dois falou mais nada, o Choi continuou com o que fazia, enquanto Taemin ficou sentado no pequeno sofá que havia ali, mexendo em seu celular para passar o tempo.
Quando anoiteceu, ele ainda estava lá, Minho agora recolhia algumas coisas para ir embora. Vendo isso, o Lee se levantou e foi junto até o lado de fora, indo também com ele até onde o carro do advogado estava estacionado, só quando parou ao lado do veículo e abriu a porta do mesmo, que o Choi falou alguma coisa.
— Por que está me seguindo?
— Porque você vai me dar uma carona pra casa, ué. — o ômega respondeu com uma expressão de quem estava falando o obvio — Vamos logo, estou com fome, só tinha bala e pirulito no seu escritório.
As balas e os pirulitos eram para clientes que traziam os filhos, mas Taemin havia comido todos, teria que repor no dia seguinte, isto é, se o ômega não aparecesse e comesse tudo novamente.
— Lembra onde eu moro, né? Naquele prédio na frente do restaurante onde nos encontramos naquele dia.
E foi entrando no carro mesmo sem ter sido convidado. E mesmo não gostando nada do jeito que o Lee o afrontava, ele não podia simplesmente o jogar para fora do carro, isso seria o mesmo que agredi-lo, e agredir ômegas era a pior coisa que um alfa poderia fazer, era desonroso e covarde.
Não disse mais nada, apenas dirigiu na direção do prédio onde Taemin morava. Durante o caminho, o menor ainda tentou mexer no rádio, mas parara quando viu a cara feia do alfa, notara que já estava passando dos limites quanto a irritar o mais velho. Acabou por se contentar apenas em ficar olhando pela janela, por estarem dentro de um lugar fechado, o cheiro do Choi ficava ainda mais evidente e forte, algo que o deixava confortável.
O cheiro de Taemin também deixava Minho confortável, mas ele preferia guardar isso para si.
— Obrigado pela carona. — o menor agradeceu assim que o carro parou em frente ao prédio onde morava — Te vejo amanhã, Choi Minho!
Num movimento rápido, o ômega tascou um beijo estalado na bochecha do moreno, que fez cara feia e afastou o rosto assim que sentiu. Logo o menor saiu do carro, acenando para o carro quando o Choi deu meia volta.