Despedidas nunca foram meu forte, afinal quem gosta de dizer adeus ou ate logo quando se quer ficar, preferi não levar mamãe e Helena ate o aeroporto, era em uma pista clandestina também, então o quanto menos as envolvessem era melhor, o pequeno avião acomodava 24 pessoas tranquilamente, mais 5 jovens mulheres estavam indo conosco, pelo pouco que conversamos elas também estavam em busca da mesma coisa que eu, uma vida melhor. Nosso destino era Nova York, após 10:00 de viagem parecia sonho aterrissar nesse solo, meu coração estava apertado por estar tão longe de quem amo, mas ao mesmo tempo a saudade que já batia em meu peito me encorajava a dar meu melhor, não pode evitar as lagrimas que insistiam em cair, tamanha a felicidade e angustia de estar tão longe de casa, mas era preciso, era uma chave se virando na minha vida, abrindo uma porta nova em nossas vidas, nos dando respingos de mais dignidade, era incrível como eu não estava preocupada em qual área trabalharia, desde que eram tão valorizados todo tipo de trabalhador, somente no Brasil a classe operaria era tratada com tanto desprezo começando com salários que m*l poderia bancar uma refeição de lazer aos fins de semana.
Contive as emoções quando Claudia indicou para que saíssemos, embora fosse a primeira vez que tivesse viajado de avião, não senti tanto medo quanto imaginei
que sentiria, creio que a emoção do momento junto a expectativa deixaram o medo minúsculo dentro do meu peito.
- Esse carro vão levá-las até o alojamento, Lohana minha gerente estará esperando vocês para recepciona-las, qualquer problema vocês podem recorrer a mim, peço que entreguem seus celulares para que possamos substituir seus chips por um nacional.- Após entregarmos nossos celulares seguimos para o alojamento.
- Nova vida - Comemorou Julia ao meu lado, com seus belos 21 anos e muitos sonhos para por em pratica, se aventurou clandestinamente também depois de ter seu visto negada pela terceira vez. Sua animação fez com que eu soltasse um pequeno sorriso, me esquecendo um pouco da saudade que já me consumia. Quando chegamos ao local, senti todo meu corpo arrepiar, como uma nuvem de autoproteção, meu subconsciente olhou para mim e gritou fuja, uma corrente de medo inexplicável percorreu em mim, engoli em seco, afastando tal pensamento, nada poderia me impedir, já estava feito, repetia em um mantra quem a coisa mais c***l que poderia acontecer era uma deportação, mas não arriscaria seria do alojamento ao trabalho e só, não havia perigo.
O motorista nos acompanhou e não pude deixar de perceber sua fisionomia, seu corpo parecendo um muro de 1.80, ele era alto e muito intimidador, estremeci,
deixei tais pensamentos de lado e acompanhada das garotas adentramos uma porta de ferro, um tanto quanto assustadora também, pare já! Alertou minha mente,
céus eu estava com medo, meus instintos pareciam inalar o perigo não visível. Mentalizei que isso acontece quando fazemos coisas erradas, era isso, o medo de ser descoberta estava me assombrando, era a primeira vez que estava desrespeitando uma lei tão grave, a culpa estava me esmagando, é por uma boa causa.
Fomos direcionadas para um quarto, as outras 5 garotas que fizeram a viagem comigo mantinham agora uma expressão medrosa, talvez com o mesmo pensamento que eu.
No quarto havia 4 beliches e dois guarda-roupas, tudo muito cinza ou preto, não que eu esperava algum luxo, havia uma porta que supus ser o banheiro, estava
ótimo, era trabalho e casa, e não diversão.
- Não saiam do quarto até segundas ordens. - A voz do homem, com cara de poucos amigos soou como uma advertência, mas não me apaguei neste fato. Esperaria.
Como erámos em 5 supus que alguém iria para outro quarto, só tinha 4 camas, era uma conta lógica.
- Mais alguém esta com medo, ou sou só eu mesmo- Não tive tempo para decorar os nomes das meninas, além de Julia, pois devemos uma boa conversa durante a viagem, então infelizmente não sabia quem havia feito tal comentário.-
- Creio que o medo de estar fazendo algo ilegal acaba gritando alto, mas não devemos nos preocupar, estamos a trabalho, certo, não é como se fossemos ficar perambulando por ai- Comentou sorrindo outra garota de cabelos loiros, tentando confortar a angustia de todas. Se passarão cerca de meia hora, já estava roendo as unhas querendo que alguém aparecesse e entregassem nossos celulares, precisava falar com mamãe, dizer que cheguei bem, estava prestes a sair do quarto quando alguém adentrou, uma mulher alta loira e linda diga-se de passagem, seus olhos azuis com arrogância, seu cabelo cortado aos ombros demonstravam o quanto sua postura diziam "humildade zero", as vezes eu odiava minha qualidade de observar as qualidades e personalidades das pessoas apenas com uma
primeira impressão, não que eu fosse vidente, mas sempre acertava o que minha mente desenhava que alguém era por meio de uma simples avaliação visual.
- Me chamo Lohana, e espero ter que falar somente uma vez.- Uau arrogância deve ser o sobrenome, acalme-se Pérola- Vocês irão trabalhar em nossa boate, quem tiver a sorte de dançar pode se arriscar sendo uma das dançarinas, as demais se agradem com o fato de se deitar com os homens, mas deixo claro que todas irão se prostituir, não tem trabalhos em lanchonete, ou qualquer outra espelunca, isso não é um alojamento, trabalharam, enviaremos uma quantia a suas famílias, as boas garotas podem fazer 3 ligações por mês, o restante do dinheiro irão custear sua morada, comida e suas roupas, não tem gorjeta, muito menos passeios, tentou fugir morre, alguma pergunta? -Naquele momento eu só conseguia lembrar das novelas que tinham esse enredo e minha única reação foi rir, mas rir muito, só podia ser piada.
Após um longo ataque de risos, a loira me olhava como se eu fosse um E.T, perguntei que porcaria estava acontecendo, não vim ao estrangeiro me
prostituir, muito menos levar dinheiro a cafetões.
- Sinto muito queridas, não é uma opção, vocês foram enganadas, deixaram sua ganância falar mais alta, este é um dos preços a se pagar quando pisa no desconhecido-
A ordinária cuspiu as palavras em nós como quem dizia que procurávamos por aquilo, mas a verdade era que queríamos só uma vida digna, com um salario digno, e não vender meu corpo por migalhas.
- Quero ser deportada, agora! - Não querendo saber mais nada daquela nojeira, eu não ficaria ali para saber se era verdade ou não, eu estava longe de casa, com completos estranhos, eu não era ingênua, sabia que essas coisas aconteciam, e eu havia acabado de se tornar uma vitima, deixei todo medo de lado,
apenas pensando em minha filha, na minha mãe, precisava sair dali o quanto antes, que tipo de pessoas eram aquelas? Ninguém confiável com toda certeza.
Fuja, saia, corra, corra pra bem longe gritava meu subconsciente.
- A querida- ela ironizou- Você não entendeu? Vocês não vão sair daqui, talvez nunca, se forem boas meninas podem fazer umas 3/4 visitas aos seus familiares por ano, afinal não queremos a policia aqui não é mesmo? Sejam boas garotas que serão recompensadas.
- Deixa ver se eu entendi, vou me prostituir, dar todo meu dinheiro para você, ver meus familiares quando vocês quiserem, ligarei quando vocês quiserem, resumindo,
fomos traficadas, é isso mesmo? - Me direcionei até a loira que estava com um armário atrás dela, chegando mais perto da safada, ordinária, nessa altura do campeonato eu só queria meter minha mão na cara dela, meu corpo se encheu de um ódio tão profundo e esmagador, a raiva faísca dos meus olhos-
- Ora, ora - ela disse se aproximando- vejo que temos uma rebelde aqui, sabe o que acontece com quem tenta dar uma de valente- Aquela voz de gringa com sotaque americano já estava me enjoando, eu não tinha conseguido assimilar aquelas informações, mas encaixando como tudo aconteceu, não me restava duvidas que eu havia sido enganada-
- É isso mesmo.- Elas continuou- Vocês vão vender seus belos corpos brasileiros em troca de comida, um teto, e algum dinheiro para suas famílias, não foi pra isso que
vocês embarcaram nessa ? "Um sonho americano- Nós ainda estávamos bem próximas quando ela terminou se aproximando mais- Não tem pra onde fugir. nem pra onde correr, é melhor começar a aceitar a vida de vocês, se não quiserem acabar em uma vala, quem sabe um dia quando seus corpos já não forem mais apresentáveis aos clientes, nós as libertamos- Eu sabia que era mentira, nunca sairíamos dali, o máximo que iriam permitir seria algum telefonema para não levantar suspeita, aquilo era um negocio ilegal, entramos ilegalmente, para as autoridades nunca saímos do Brasil, estávamos perdidas, mas eu não queria pensar nisso agora, queria apenas desmoronar toda minha raiva naquela miserável mulher loira que me encarava divertida.
Tirei a expressão de debochada com um tapa bem no meio daquela cara, minha mão ardeu, mas não me impediu, sentia a tensão das outras meninas atrás da gente, não sei o que se passava em suas cabeças, mas o choque era palpável. As roupas mega coladas que a aguada usava impediam ela de se mexer muito juntamente com o salto fútil grande, me dando uma certa vantagem, perdi as contas de quantos tapas dei até o armaria atrás dela ver que a mesma não iria conseguir se defender e com um empurrão me afastou dela, cai no chão ofegante, creio que ele não usou 2% de sua força, pois não cai de um jeito que me machucasse, olhei para loira a minha frente que parecia incrédula com minha atitude, sua pelo branca estava agora da mesma cor do seu batom vermelho, nunca fui boa em brigas, na verdade creio ser a primeira vez que meti minha mão na cara de alguém, ela me fuzilava enquanto massageava sua cara imunda.
- v***a, vai pagar caro por isso- Foi tudo que se limitou a dizer antes de deixar o quarto com o armário atrás dela, não pude deixar de perceber o sorrisinho que ele me lançou, senti meus olhos inundar feito uma cachoeira e um grito de socorro explodir da minha garganta, minha mente viajou em desespero para minha filha.
O medo de nunca mais vê-la, me bateu tão forte quanto os tapas que lancei na cara daquela mulher.