Pré-visualização gratuita Episódio 1
Zafira
O meu nome é Zafira. Tenho 27 anos, sou dona de casa e moro com a minha sogra, minha cunhada e meu amado marido, Mateus. Ele é um empresário que, em poucos anos, passou de simples funcionária do Grupo Ferragutti a vice-diretor de uma das suas empresas mais importantes, especializada em design de vestidos de noiva em todo o mundo.
O que ninguém sabe. Nem mesmo a sua família. É que eu, junto com meus três irmãos, sou herdeira da fortuna e do império Ferragutti.
Há cinco anos, durante uma visita à empresa. Ideia do meu pai. Conheci Mateus, que na época era apenas assistente de um dos estilistas. Ele não me reconheceu depois, mas me apaixonei imediatamente.
Cansada dos luxos, do vazio de uma vida onde a única coisa importante era escolher o vestido certo para cada festa ou ditar tendências entre a elite, decidi deixar tudo para trás. Abandonei o meu sobrenome, os meus privilégios e fingi ser apenas mais uma funcionária. Poucos meses depois, casei-me com o homem que havia roubado o meu coração: Mateus Torres. O seu amor valia mais do que qualquer joia ou título.
Mas minha nova vida não tem sido fácil. Embora Mateus seja um homem bom e respeitoso, ele quase nunca está em casa. Quem está sempre são sua mãe e irmã, que insistem em me tornar a sua criada pessoal. Nunca contei nada a Mateus. Não quero ser a causa de conflitos com a sua família. Pelo contrário, das sombras, usei o meu conhecimento e conexões para ajudá-lo a ascender dentro do grupo. Eu o amo e quero vê-lo ter sucesso... mesmo que a sua mãe e irmã me desprezem por ser uma mulher simples, sem fortuna. Se ao menos soubessem quem eu realmente sou...
Hoje começa mais um dia. Volto do mercado com as compras, deixo-as na cozinha e começo a limpar a casa. Enquanto aspiro o sofá e lustro os móveis, penso no que preparar para Mateus. Talvez o seu prato favorito.
Estou concentrada nas minhas tarefas quando Eloísa, minha cunhada, irrompe na sala com um vestido na mão. Sem aviso, ela me dá um tapa violento. A sua mãe, de pé atrás dela, não só permite como aprova com o olhar. Ambas começam a gritar comigo.
— O que você acha que fez, Zafira? Olha este vestido! Grita Eloísa furiosamente. — Custou uma fortuna! E você o estragou!
Eu estava tão ocupada limpando e fazendo tarefas domésticas. Que, aliás, ninguém mais faz. Que misturei as roupas coloridas com as brancas. O vestido acabou manchado. Bem, eu cresci entre estilistas, aprendi tudo sobre alta-costura... mas nunca fiz trabalhos domésticos. Mesmo assim, me esforço todos os dias por amor ao Mateus.
— Desculpe, Eloísa... mas se você tivesse me ajudado um pouquinho com as tarefas, isso não teria acontecido. Respondo, com a voz trêmula, tentando manter a calma que me ensinaram a manter.
— Como ousa, sua to*la insolente? Grita Sonia, minha sogra, me dando outro tapa, deixando a minha bochecha queimando. — Que esta seja a última vez que você fale assim com a minha filha! Ela está estudando para ser uma grande designer, e você... você não passa de uma simples dona de casa. Esse é o seu trabalho desde que se casou com meu filho.
Eu sei muito bem que Eloísa não estuda. Ela está sempre indo de festa em festa, e os seus designs são medíocres, sem gosto nem visão. Eu, por outro lado, estudei com os melhores. Eu tinha um futuro brilhante como designer, mas larguei tudo por Mateus. Não me arrependo... embora, às vezes, viver com esta família se torne insuportável.
— Não entendo por que você me trata assim, mãe. Chamo ela assim a pedido do Mateus, embora esteja se tornando cada vez mais difícil. — Faço tudo o que você pede e mais...
— E você ainda pergunta por quê? Olha o que você fez com o vestido da minha filha! Juro que você vai pagar real por rea! Ela grita, antes de me dar outro tapa. Então, ela se aproxima e agarra o meu braço com força. — E pare de me chamar de mãe quando Mateus não estiver aqui. Você não merece.
Levo a mão à bochecha ardendo assim que ouço a porta se abrir. Mateus chegou.
— Nem uma palavra sobre isso. Sussurra Sonia com um sorriso malicioso. — Se você contar alguma coisa ao meu filho, vai pagar caro.
Respiro fundo, disfarço a minha dor e cumprimento Mateus com um sorriso forçado. Abraço-o, e ele me olha preocupado.
— Amor... o que aconteceu com o seu rosto?
O meu rosto deve estar marcado pelos três tapas. Olho para Sonia, que me lança um olhar assassino, e decido mentir mais uma vez.
— Nada sério, amor. Me machuquei no mercado. Com um pouco de gelo, ficarei bem.
Ainda não entendo como um homem tão nobre e generoso pôde nascer de uma mulher tão cr*uel. Mas se ele descobrisse a verdade, sei que me defenderia sem hesitar.
— Vou tomar um banho. Ele me diz. — Preciso comer alguma coisa e começar a trabalhar no novo projeto. Se tudo correr bem, em um ano estarei trabalhando com o próprio Pedro Ferragutti.
PEDRO
Sou Pedro Ferragotti, proprietário do grupo empresarial que leva o meu sobrenome e pai de Zafira, Armando, Carlos e José.
Hoje faz exatamente três anos desde a última vez que vi a minha filha. Desde que ela se casou com aquele homem sem nome nem linhagem, perdi todo o contato com ela. Zafira desapareceu das nossas vidas como se nunca tivesse existido, e o mais doloroso é que não pude fazer nada para impedi-la de se afastar.
Há meses a procuro desesperadamente. Meu pai, Franco Ferragotti, está morrendo, e o seu último desejo é ver a neta antes de fechar os olhos para sempre. Mas até agora, não há sinal de Zafira.
Estou no meu escritório em casa, revisando as últimas criações da temporada, quando Rogério, meu assistente de maior confiança, entra sem avisar, algo totalmente atípico para ele.
— Sr. Ferragotti... desculpe interromper assim, mas... tenho algo muito importante para lhe contar. Diz ele, agitado, com o rosto corado de emoção.
— É o meu pai? Pergunto, alarmado, temendo o pior.
— Não, senhor... são excelentes notícias. As melhores. Depois de tantos meses... encontramos a Srta. Zafira. Ela está morando na cidade de Sorocaba.
— Sorocaba? Mas isso é só a algumas horas de distância! Exclamo, levantando-me abruptamente. O meu coração está disparado. Não consigo acreditar. Depois de três anos... verei a minha filhinha novamente. Mesmo que isso signifique quebrar a promessa que fiz a ela de não interferir na sua vida, não posso permitir que o seu avô morra sem vê-la.
— Rogerio, prepare tudo. Partiremos imediatamente.
— Sim, senhor. Ele responde, determinado, antes de sair do escritório para cumprir as minhas ordens como sempre, com precisão e lealdade.
Ponto de vista de Zafira
Depois de preparar o prato favorito do Mateus para comemorar a sua promoção, sirvo cada prato com cuidado. Sento-me ao lado dele e o ouço falar sem parar, animado, como uma criança com um brinquedo novo.
— Entendeu, mãe? Em breve, sairemos desta casa. Moraremos em um lugar maior, mais elegante. E você, Eloisa, terá os vestidos mais exclusivos. Diz ele, sem me mencionar uma única vez. O seu entusiasmo, embora genuíno, perfura o meu peito como uma agulha.
— Trabalhar para Pedro Ferragotti me abrirá as portas do mundo. Terei sucesso internacional! Serei maior que o Luciano. Ele acrescenta em tom de desdém.
— Luciano? Quem é ele, querido? Pergunto, confusa. Eu nunca tinha ouvido esse nome na família dele, e a mudança na sua expressão ao mencioná-lo me intriga.
— Ele não é ninguém importante, Zafira...
— Ele é nosso irmão mais velho. Interrompe Eloisa, sem tato.
— Um irmão? Você tem outro irmão?
— Sim, querida. Diz a minha sogra, Sonia, fingindo um tom carinhoso que eu não acredito. — Luciano é meu filho mais velho. Anos atrás, ele foi morar no exterior com o pai, o meu primeiro marido. Ele queria estudar... fazer algo mais da vida.
— Algo melhor do que nós. Interrompe Mateus, amargamente. — Ele sempre nos desprezou.
— Faz tempo que não temos notícias dele. A última coisa que ouvimos foi que ele estava trabalhando para uma empresa que acabou falindo. O pai dele deve tê-lo ajudado. Acrescenta Eloisa, juntando-se ao desdém do Mateus.
— Bem... Diz Mateus, erguendo a sua taça de vinho com uma alegria forçada. — Não vamos deixar a lembrança de Luciano estragar este momento. Vamos brindar ao futuro brilhante que nos espera.
Assim que todos erguem as suas taças, o meu celular começa a tocar. Eu reconheço o número instantaneamente. É um número que nunca esqueci, mesmo tendo prometido nunca atender.
Peço desculpas com um sorriso e saio para o jardim. Com o coração disparado, passo o dedo pela tela. A chamada chega.
A voz que ouço do outro lado da linha é inconfundível.
Meu pai quebrou a promessa.