– Tudo bem?
– Tudo – responde – vim até aqui, pois, gostaria de lhe convidar para um passeio. Sei que já faz alguns anos que não vem a Salvatore, então, pensei que poderíamos passear…
Olhei-o surpresa.
– Benicio é que…
– Mas, é claro que ela aceita – diz uma voz vinda do alto da escada.
– Olá senhor Montez – Benicio cumprimenta papai.
Olho-o de forma repreensiva.
– Não fará essa desfeita ao rapaz, não é Audrea?
Olho para Benicio que parecia esperançoso.
– Não. Poderia esperar um instante?
– Claro. Vamos fazer um piquenique e andar de barco – diz.
Assento e subo.
Pego um vestido não muito rodado amarelo e o visto. Pego um chapéu grande e logo desço.
– Vamos?
Benicio abriu um enorme sorriso ao me ver.
– Vamos.
Saímos e me deparei com um belíssimo cavalo.
– É seu?
– Sim.
Aproximei-me do animal e acariciei seu dorso.
Lembrei de Pantaleão.
Papai o vendera logo depois que fui embora.
Benicio montou e me deu a mão.
Olhei-o confusa.
– Me disseram que você gosta de montar a cavalo, então, preferi deixar as comodidades da carruagem. Espero que não se incomode.
Sorrio e subo.
– Claro que não.
Seguimos não muito rápido para uma propriedade ali perto.
Ele prendeu o cavalo numa árvore, e constatei que próximo a ela, havia duas cestas de alimento e uma toalha enrolada em cima delas.
– Você é bem prevenido – digo.
Ele sorri enquanto abre a toalha no chão.
– Obrigado.
Colocamos os alimentos em cima da toalha e observamos o lago a nossa frente.
Ele me serviu um suco de groselha, que por sinal estava delicioso.
– Desculpe a inconveniência, mas, foi você quem fez?
Ele sorri.
– Não. Cozinhar não é um de meus dotes.
Sorrio e tomo mais um gole.
A tarde foi bastante agradável, e depois do passeio de barco, Benicio me levou para casa.
– Obrigada pela tarde – digo.
– Eu que agradeço – diz sorridente.
Entro e dou de cara com papai.
– Como foi o passeio? – indaga.
– Bom – digo e sigo para a escada.
– “Bom”? Só isso?
Olho-o desconfiada.
– Sim. Só isso. Porque?
– Por nada – diz indiferente.
– Estou estranhando essa sua calmaria – digo – permitiu que aquele rapaz me levasse para um passeio a sós, e ainda por cima, montada em seu cavalo. O que quer com tudo isso?
– Não estou entendendo.
– Está sim. Sabe muito bem do que estou falando. Acha que não percebi seu jeito e da mamãe com Benicio? Não permitiria que eu saísse a sós com ele, andasse a cavalo, se não quisesse algo em troca.
– Algo em troca? O que está insinuando Audrea?
– Não casarei com ele – digo firme – por isso, pare de bajulá-lo.
Subo alguns degraus, mas sou interrompida por sua voz grave:
– Não é você quem decide isso Audrea – encarei-o.
– E quem decide?! – rebato – você?! n******e controlar minha vida! Não permitirei isso!
Corro para meu quarto e bato a porta.
As coisas estavam como sempre estiveram. E isso me fazia queimar de ódio.
Preferi ficar no quarto o restante da noite.
Aprontei-me para dormir e peguei meu diário.
As coisas permanecem as mesmas.
Ele ainda acha pode tomar as decisões por mim.
Será que ele não percebeu que não sou como as outras moças? Não quero um casamento feliz e cheio de realizações. Pelo menos, não com alguém que não escolhi.
Apesar de tudo, consegui a oportunidade que tanto temia não conseguir.
Outra coisa boa, foi saber que poderei contar com o apoio do Padre Albert, um homem que aparenta ter um bom coração.
Sorri ao escrever as últimas linhas.
Guardei-o debaixo de meu travesseiro e adormeci.
Logo pela manhã, decidi fazer uma caminhada e aproveitar o forte sol da manhã de sábado.
Segui até onde avistara o filho de Edgar.
Olhei ao redor e não vi.
– Posso ajudá-la? – assusto-me com a voz atrás de mim.
– Bom dia – cumprimento-o.
– Bom dia senhorita Montez.
– Audrea, me chame de Audrea, por favor.
– Gilbert – diz sorrindo – gostaria de montar?
Olho para os cavalos.
– Sim, por favor.
Ele passou por mim e trouxe um enorme cavalo marrom.
– Este é Arthur.
Passo a mão em seu dorso e ele se agita um pouco.
– Calma rapaz – digo – só quero dar uma volta com você.
Quando o animal se acalmou, Gilbert me ajudou a montar.
Ele pôs a mão em minha cintura e içou-me para cima.
Ele ajeitou meu vestido e as correias.
– Quer que eu a acompanhe?
– Claro.
Ele segurou as rédeas e puxou o cavalo.
– Há quanto tempo está aqui Gilbert?
– Três anos.
– Gosta daqui?
Ele me olha de relance.
– Não tenho do que reclamar. Patrão paga muito bem, recebo moradia e alimentação. Tenho tudo o que preciso.
Sorrio e penso que ao menos nisso, meu pai poderia ter boa índole.
– E a senhorita, gostou de voltar para casa?
– Não pensava que ao voltar para Salvatore, teria grandes surpresas – sou levada por meus pensamentos, até o par de olho azuis mais lindos que já vira – tanto boas, quanto ruins. Sinto muito por seu pai. Edgar foi um grande amigo. Sempre me ajudou. Jamais o esquecerei.
– Caso precise de ajuda, ou de um amigo, estou aqui – diz sorrindo gentilmente.
Andamos um pouco mais, até que ele disse:
– Falo sério – diz parando o cavalo – quando precisar, é só me chamar, e eu irei correndo.
Seus lindos olhos verdes brilhavam. Por um momento senti inveja de tamanha beleza. Meus olhos castanhos escuros, jamais poderiam se comparar aos seus.
– Obrigada Gilbert – sorrio – agora – digo tomando as rédeas de sua mão – quero correr um pouco.
Ele sorri e abre espaço.
Dou a comanda e o cavalo acelera gradativamente.
Fui até fim da propriedade e deparei-me com a mais bela paisagem.
Inúmeras árvores e um rio ao longe.
Desci do cavalo e o amarrei junto a uma árvore.
Caminhei um pouco e fitei a imensidão do céu azul sob minha cabeça.
Fechei os olhos e inspirei o máximo de ar que meus pulmões permitiam.
Quando abri os olhos, avistei um cavalo se aproximando de onde eu estava.
Ele vinha rápido.
O alazão preto cintilante.
Meu coração começou a bater descompassado a cada metro que ele se aproximava.
Quando o animal chegou ainda mais perto, avistei uma cabeleira n***a.
Quando nossos olhos se encontraram, senti um choque de realidade. Era como se aquilo não fosse real, era como se fosse um sonho.
Seus belos olhos azuis, formaram uma única linha junto com seus lábios, num sorriso acolhedor e sem igual.
Ele parou o cavalo próximo de onde eu estava.
– Bom dia senhorita – cumprimenta o padre Albert.
– Bom dia Padre.
– Também gosta de aproveitar o alvorecer para caminhar?
O sol atrás de si, fazia com que ele se destacasse mais do que a bela paisagem.
– Sim. Há tempos não fazia isso.
Ele sorri enquanto ajusta as rédeas.
– Bem, nos vemos amanhã. Tenha um bom dia.
Assento.
Ele sorri e sai em disparada.
Permaneci parada observando-o se afastar.
– Até amanhã… – sussurro para mim mesma.