Tentei não parecer surpreso, por ter sido pego.
– Olá Audrea – ela me encarava curiosa.
– Pode me dizer o que veio fazer aqui? – seu tom saiu sério demais.
– Eu… – o que dizer? – fui até sua casa, para acompanhar os preparativos do casamento. Mas, você não estava lá.
– Deve falar com meus pais sobre isso.
– Sim. Conversei com seu pai e…
– Então deve saber que sobre esse assunto, deve tratar com ele e minha mãe.
Como era possível que alguém mudasse de forma drástica.
– Era só isso?
Não. Não era só isso.
Não queria ir embora. Queria ficar ali, admirando tamanha beleza. Mas, de alguma forma, parecia que ela não me queria por perto.
– Seu pai me disse que está reformando o prédio…
Ela me observou seriamente.
– Sim. Ele e Benicio preparam essa surpresa. Transformarei em uma escola para crianças. Sei que já tem na cidade, mas, esta será voltada para aquelas crianças que querem desenvolver habilidades especiais.
Ela tinha mesmo um bom coração. Aquilo deveria custar alguns milhares de dólares, e ela simplesmente não ligava. Queria apenas fazer pessoas felizes.
Pego-me por seu olhar.
– Bem, fico feliz por você. Espero que tudo ocorra como espera.
Ela sorri.
Ficamos ali, como dois estranhos se encarando. Como se nunca, tivéssemos nos conhecido.
– Fico feliz que tenha aceitado o pedido de Benicio – precisava tocar no assunto. Precisava ter certeza de que ela realmente queria aquilo.
– Obrigada – infelizmente sua resposta fora seca demais, para que algo pudesse ser percebido.
– Está ansiosa?
Ela parecia me analisar.
– O que quer Albert?
Fito meus pés. Não podia dizer realmente o que sentia, mas, queria e precisava.
– Queria saber se tomou essa decisão sozinha?
– De que? De casar-me com Benicio? – assento – sim. Quer dizer, muitas pessoas, inclusive você, me abriram os olhos, e me fizeram ver que, ele é um bom homem. É gentil, educado, dedicado. Tudo que uma mulher espera.
– E quanto a você dizer que nunca casaria com quem não ama?
Ela sorri brevemente.
– Acho que você foi uma dessas pessoas, que me disse que o amor pode vir com o tempo. Que posso aprender a amá-lo.
– E está disposta a isso?
– Mais do que nunca.
Senti meu coração se despedaçar. Por minha própria culpa.
– O que fez você mudar de ideia?
– Albert, por favor. O que está fazendo aqui? Eu, simplesmente não entendo.
– Nem eu. Eu só…
Seus olhos pareciam balas atravessando minha alma.
– Entende que tudo isso é difícil demais para mim? – ela me analisava – eu… – tentava dizer, nem tanto para ela, mas para mim mesmo – eu nunca me senti assim antes Audrea. E não sei como lidar com isso. Não sei como dizer não a isso que sinto, mas, ao mesmo tempo, não consigo deixar de lado, o fato de ser um sacerdote. Eu não…
– Não consegue admitir para si mesmo que sente algo. Algo inevitável por sinal. Amor não é algo que escolhemos sentir. Ele vem, irrompe paredes e muralhas. É impossível resistir.
– Eu – dou alguns passos em sua direção – queria apenas poder mudar isso.
– O que sente?
– Não – cubro um pouco mais a distância entre nós – minha situação. Queria poder apenas dizer a você o que sinto, sem ter medo de pecar.
– Bem – ela se afasta um pouco – quando não estamos preparados para fazer algo, o melhor, é mantermo-nos longe daquilo que nos causa preocupação.
– Audrea, caso não tenha entendido eu…
– Entendi sim Padre – ela baixou a cabeça – entendo que você fez uma escolha, e peço perdão se em algum momento eu a desrespeitei. Hoje, firmo novamente aquelas palavras que lhe disse; que aquilo jamais se repetirá.
Tentava assimilar tais palavras, mas, pesavam demais.
– Se o senhor puder me dar licença, tenho muitas coisas a fazer.
– Claro. Me perdoe.
Ela sorri e entra na sala. Quando ela fechou as enormes portas, senti como se as portas do paraíso se fechassem para mim.
Dei as costas e dei alguns passos, mas algo me fez parar.
Já tinha ido longe demais para não fazer o que tanto ansiava.
Irrompei as portas e ela se virou para me encarar.
– Albert…
Aproximo-me rapidamente e a tomo em meus braço.
Antes que dissesse mais alguma palavra, beijei-lhe.
Não fazia ideia do quanto queria fazer aquilo até aquele momento.
Seu beijo era doce e caloroso.
Seus lábios tinham gosto de maçã verde.
Puxei-a ainda mais para mim. Temia deixá-la ir. Não queria. Não podia.
Quando soltei-a, ela me encarou corada.
Juntei todas minhas forças para dizer aquelas palavras que pesavam em meu coração.
– Eu amo você Audrea…
Era como se milhares de pesos saíssem das minhas costas.
Sentia meu coração acelerado.
Ainda estava segurando-a pela cintura, quando ela se afastou.
Deu a volta na mesa e foi para a janela.
– Audrea…
– Não se aproxime. Por favor.
Não conseguia entender. Não era isso que ela queria? Que nós queríamos?
– Achei que fosse isso que você quisesse…
Quando ela se virou para me encarar, seus olhos estavam cheio de lágrimas.
– Então foi isso que você veio fazer aqui. Me enganar mais uma vez. Porque, você se contenta com um mero beijo.
– Não. Eu não…
– Ouça, você não têm o direito de vir até aqui e fazer isso comigo. Você me pediu que me afastasse.
– Achava que não fosse aceitar o pedido de casamento dele – berro.
– Mas foi você o primeiro a me dizer para aceitar! – grita.
– Audrea – me aproximo um pouco mais – eu sei o que eu disse, mas, será que poderia tentar entender a minha situação?! Sou um padre. O que acabei de fazer, vai contra ao primeiro juramento que fiz!
– Albert, tentei entender, mas, será que não entende? Eu amo você. Mas, eu não posso esperar que você tome uma decisão.
– Decisão? – sim, a terrível decisão de que tanto meus amigos falavam.
– Sim. Você me ama ao ponto de largar a batina?
Me fazia essa pergunta todos os dias, desde que a conhecera.
– Audrea eu…
– Não consegue. E nunca vai conseguir.
– Eu só preciso pensar.
– Pensar? No que? Tudo na vida, se resume a duas pequenas palavras; “sim” ou “não”.
– Não é tão fácil assim. É tudo muito mais complicado do que você pensa.
– Então me explica…
– Audrea, eu… Passei por coisas terríveis, até chegar onde estou hoje. Virar padre, foi uma válvula de escape para mim e minha família. Cometi erros irreparáveis no passado. E, estar nesse relacionamento com Deus, me ajudou muito a superar a cada dia o que fiz.
– Sempre é Deus. Pare de culpar Deus por suas decisões. Ele não é seu advogado. Pare de usá-lo como desculpa para suas escolhas.
– Mas Audrea, ele é o centro de tudo.
– Já parou para pensar o motivo de ter me conhecido?
– Todos os dias – tomo suas mãos – todo santo dia, me pergunto se o real motivo de eu ter vindo para cá, não seria conhecer você.
Ela nunca entenderia.
Ela se afasta. Parecia não aceitar.
– Albert, me desculpe, mas, não aceito essa sua resposta.
– Eu entendo perfeitamente. Só lhe peço. Me dê um tempo para pensar.
– Não Albert. Não vou esperar por você. Não posso. Peço perdão se lhe pus contra a parede, não foi minha intenção. Você fez sua escolha, e eu, que passei anos no convento, deveria entender melhor, mas, quem ama, comete esse tipo de loucura. Não se faz entender direito as coisas – ela força um sorriso – me perdoe Padre.
– Audrea…
– Por favor – ela faz menção com a mão – tenho muito o que fazer…
Assento e saio.
Ela fecha a porta, e dessa vez ouço-a passar a chave.
Ela estava fechando as portas de seu coração para mim. E desta vez, em definitivo. Era realmente o fim, e nada; absolutamente nada, poderia ser feito. A não ser, assisti-la ser feliz pelas frestas, o que, nem de longe seria o suficiente para mim.