Padre Robert me passara mais algumas instruções. Ele me garantiu que ficaria até passar o casamento de Audrea – o que já estava na boca de todos da cidade.
Não havia um lugar de Salvatore, que você chegasse, que não estivessem falando sobre isso.
De uma forma inexplicável, isso me irritava.
– Pelo que vi, a data mais provável, é para daqui a duas semanas – diz Padre Robert, enquanto olhava na agenda da Paróquia.
– Já foi informado aos Montez. Eles estão de acordo.
Ele assente.
– Preciso que fale com os pais da moça, já que serão eles a custear todos os gastos. Pergunte se já tem alguém para cuidar de todos os detalhes; ornamentação, essas coisas. Quantidade de convidados, para que não falte lugares. Caso sejam muitas pessoas, acrescentaremos bancos nas laterais.
– Certo.
– Mais uma coisa; conheço os pais da noiva, principalmente o pai. Ele é muito rígido. Caso ele venha com alguma ideia, extravagante demais, tente contornar a situação da melhor forma possível. Não queremos problemas.
Assento.
Fui para meu escritório e acomodei-me.
Não conseguia pensar em mais nada.
Olhei para meu caderno de anotações, e percebi que haviam poucos rabiscos. Dentre eles, o nome de Audrea.
Por mais quisesse amaldiçoar os céus, por ter me levado até Salvatore, por outro, queria me ajoelhar e agradecer.
Não podia me dar o luxo de pensar que ainda tinha duas semanas, para tentar convencê-la do contrário. Fora eu que disse para ela aceitar. E na fatídica manhã de terça-feira, Padre Robert e todo cidade, chegara com tal notícia. Audrea esbanjava um enorme e belo anel em seu dedo. Símbolo de sua resposta para o dito rapaz.
Ele até poderia ser um bom partido, mas, sua ousadia em afrontar os outros, era inaceitável.
Não sei se era por medo da disputa, mas, medo de perdê-la para um Padre? Não. Isso não seria possível. A não ser, que ele tivesse certeza dos sentimentos dela por mim. Sentimentos esses, que não deveriam ser “meros” ou casuais. Deviam ser fortes e ardentes, para deixá-lo preocupado.
Infelizmente, precisava fazer uma visita a família Montez. Estava em cima da hora, e muitas coisas precisavam ser feitas.
Pus uma roupa social e peguei Aspar; meu fiel companheiro.
Montei-o e segui rápido até o enorme casarão.
Durante o caminho, tentei não pensar em Audrea. Não poderia dizer-lhe para não fazer isso.
Mas, antes que eu me convencesse suficiente, já estava atravessando os portões de sua casa.
Um capataz se aproximou e levou Aspar.
– Bom dia Padre – cumprimenta seu pai.
– Bom dia senhor Montez. O padre Robert pediu…
– Sim, sim. Entre.
Ele me indicou uma cadeira, e acomodei-me.
– O senhor aceita alguma coisa? – indiciou uma garrafa de licor.
Recuso.
– Pois bem – ele se serve – teremos muitos convidados. Parentes distantes, tantos meu, quando de minha esposa. Parentes dos pais de Benicio também se farão presentes. Isso dá em torno de umas 200 pessoas. Quero que todos vejam minha querida filha se casando.
Assento e anoto.
– Presumo que ornamentação, seja com Audrea… – queria muito vê-la.
– Não – sou pego de surpresa – esses assuntos serão tratados com minha esposa.
– Entendo, mas, não acha que Audrea deveria opinar?
– Bem, nós insistimos, mas, o foco dela está em outra coisa neste momento. Acho que conhece aquele enorme prédio velho bem no centro. Fica a alguns quarteirões da Igreja. Ele é nosso. Benicio deu de presente a Audrea. Pôs em seu nome e custeou toda reforma. Lá será um centro de ensino para crianças. Audrea pode até ter um jeito rebelde, mas, ela sempre teve um bom e enorme coração.
Assento.
– Então, tudo será tratado, com o senhor e sua esposa?
– Sim. Ela quer que tudo saia perfeito, então, como ela confia em nós, decidiu deixar por nossa escolha.
Talvez ela tivesse deixado tudo em suas mãos, devido ao projeto com as crianças. Ou, por não ser tanto assim, de sua v*****e se casar, ela não queria se envolver.
– Bem, são muitos convidados. Já organizaremos bancos e tudo mais que precisarem. Por gentileza – digo levantando – peça sua esposa que leve para mim, tudo sobre a ornamentação.
– Tudo bem. O senhor já vai? Não gostaria de ficar para o almoço?
– Não, muito obrigado. Tenho muitos a fazeres – forço um sorriso.
Ele assente e saio.
Monto em Aspar e sigo rápido.
Nenhuma noiva em sã consciência, deixaria que seus pais tomassem todas as decisões relativas a um momento tão importante como este.
Sabia onde ficava tal prédio que o Sr. Montez se referia.
Passei direto pela igreja e quando o avistei, vi uma grande movimentação.
Carroças com areia, tijolos e ferros.
Amarrei o cavalo e aproximei-me.
As enormes portas do andar de baixo estavam abertas.
Adentrei e muitas pessoas estavam ali trabalhando.
Uma enorme escada ficava no centro do salão.
Subi a constatei que devia ter mais de 50 pessoas trabalhando ali.
Quando cheguei ao segundo andar, várias salas, de um lado e de outro.
Caminhei um pouco mais. Parei quando ouvi uma voz familiar.
– Eu sei, mas, depois que voltarmos, assumirei integralmente – dizia a voz feminina.
Ouço uma risada. Era Benicio.
– Como quiser. Desde que tenha tempo para nós…
– Claro que sim.
Um silêncio tomou conta do lugar.
Aproximei-me um pouco mais. Se soubesse o que veria, jamais teria ido até lá.
Eles estavam se beijando.
Audrea jogada em seus braços, como se fossem dois apaixonados. Se tudo aquilo era fingimento, ela sabia fazer muito bem.
Mas, infelizmente não era.
Como podia acontecer aquilo?
Há poucos dias, era em meus braços que ela estava. Era a mim que ela se declarava. E agora, estava nos braços dele.
Tolo. Isso tudo é culpa sua – digo a mim mesmo.
Fui eu quem disse para que ela fosse ficar com ele.
Eles se afastaram, mas, não o bastante para que fosse aos meus olhos.
Ele permaneceu segurando-a pela cintura.
– Preciso ir – diz ele – tenho que assinar alguns papéis com meu pai.
– É sobre a casa?
– Sim. Ele quer passar para nós o quanto antes.
– Tudo bem. Jantará conosco?
– Como se eu tivesse outra escolha – responde rindo.
Quando ele tornou a beijá-la, senti ânsia de vômito.
Ouvi-o se aproximar. Voltei dois passos e me escondi em uma das salas.
Quando o vi passar, esperei ele descer. Aproximei-me da janela e o vi entrar numa carruagem que estava parada do outro lado da rua.
Saí da sala e aproximei-me novamente de onde Audrea estava.
Ela estava sentada e parecia concentrada em alguns papéis em cima da mesa.
Não poderia ser tão ousado e simplesmente entrar lá, e lhe exigir explicações.
Precisaria de alguma desculpa. Uma muito boa. Mas, não tinha. Não podia fazer isso.
Aliás, o que estava fazendo ali mesmo? Estava a um passo de cometer um pecado.
Dou passo, mas reteso-me.
Se entrasse ali, ela poderia entender que estava ali para lhe dar uma chance.
Mas, não era exatamente isso que queria fazer?
Dou as costas e me afasto, mas, antes de chegar as escadas, sou surpreendido por sua voz.
– Albert? – paro e a encaro – o que faz aqui?