Matteo se virou no sofá, se apoiando de costas e colocou a mão sobre os olhos. Piscou devagar e sentiu a claridade do começo do dia cegá-lo, feito uma flecha que acertava o alvo. Quando os abriu novamente, viu que o sol já brilhava forte em todo o cômodo, banhando as paredes frias e brancas com os raios cálidos do amanhecer, iluminando e aquecendo o lugar que antes parecia tão ausente de vida ou de calor.
Ele piscou mais uma vez, tentando despregar as pálpebras e coçou os olhos, a visão clareando conforme Matteo se acostumava com a luz da manhã. Olhou ao redor e enfim se lembrou de onde estava, se inclinando para a frente em busca de seu celular. Tateou a mesa de centro e os bolsos de sua calça até que uma imagem que ele não esperava ver se fez nítida; tudo o que Matteo conseguia enxergar eram olhos verdes azulados, tão intensos quanto o mar em dias chuvosos junto a um nariz fino e lábios bonitos, abertos em um sorriso mais bonito ainda, embora ele sentisse que esse sorriso não indicasse boas notícias.
Em um pulo que fez seu coração disparar, Matteo se lançou para fora do sofá bem no momento em que o despertador tocou lhe avisando que a hora de acordar as crianças havia chegado. Decidido a recuperar o controle da situação, ele deu alguns passos para trás e colocou certa distância entre ele e o homem que se inclinava sobre o sofá, insistindo em lhe perturbar e que agora sorria em sua direção, lábios bonitos se alargando e o prazer no rosto bronzeado deixando claro que a diversão estava longe de acabar.
Ainda meio sonolento e com a face em fogo, se sentindo como se observasse a própria vida por uma lente desfocada, viu quando o Sr. Moore endireitou a coluna e ainda sorrindo, se aproximou dele. O homem parou na frente dele, colocou uma das mãos sobre os ombros de Matteo e o encarou no que parecia ser algo amigável. Porém, dessa vez, Matteo pôde notar que o Sr. Moore tinha se dignado a usar roupas e até tinha penteado os cabelos que agora estavam jogados para trás, permitindo que ele percebesse o quanto o homem realmente era bonito. Barra feita, dentes brancos e sorriso de canto, parecendo tão charmoso que por um momento Matteo se esqueceu de onde estava.
Se Matteo dissesse que algo tinha lhe possuído e controlado sua mente, alguém acreditaria? Pois, foi o que aconteceu. Em câmera lenta, ele se viu levantando a própria mão e segurando nos dedos que repousavam sobre seus ombros, os encarando meio sem ver nada e sem acreditar. Dedos sobre dedos, sua palma curvada sobre a dele, observando como ambas as mãos, juntas e de tonalidades tão diferentes, se encaixavam tão bem que por um momento Matteo apenas se permitiu observar. Ele ouviu um pigarro e apenas assim voltou sua atenção para o Sr. Moore; seus olhos verdes, rosto bonito e sorriso cordial finalmente lhe fazendo perceber que o silêncio durava por mais tempo do que o normal.
Esse era um fato que ele não podia negar, Derek Moore podia ser estranhamente irritante e agradável ao mesmo tempo, mas ele era uma das pessoas mais bonitas que Matteo tinha conhecido, mesmo que seu rosto tivesse uma forma levemente arredondada e agora estivesse usando óculos de grau, sem se esquecer do sorriso mais doce que já tinha visto.
— Noite difícil?
— …algo assim. — Ele disse sem ter certeza. A cada momento que se passava mais a confusão crescia em Matteo o deixando… desconfortável, lhe fazendo sentir aquela sensaçãozinha que agora saia de seu estômago e passava por sua coluna, provocando um rastro de calor e arrepios, algo além do que ele estava disposto a admitir.
A verdade era que Matteo não conseguia evitar, a voz do Sr. Moore soava tão rouca e tão aveludada que não pôde suprimir outro arrepio e tão pouco pôde evitar a forma que suas mãos agarraram mais firme as dele. Em contrapartida, Derek Moore não parecia estar atrás. O aperto em seu ombro era tão forte e decidido que a atenção de Matteo foi imediatamente para o que o homem falava, lhe fazendo prestar atenção em sua boca, em como seus lábios se moviam, em sua língua que veio para fora e molhou os lábios levemente secos, Matteo pouco a pouco se sentindo enlouquecer a cada segundo em que passava perto daquele homem; numa hora, Sr. Moore parecia que ia lhe expulsar da casa e na outra, eles eram os melhores amigos. Matteo não se sentia confortável com nada disso, incomodado com a mudança repentina do homem. Isso lhe deixava inseguro e incerto de como agir.
Percebendo o que acontecia, Matteo se soltou dele e deu outro passo para trás.
— Senhor, se você pudesse--
— Não, é minha culpa. Não me expressei direito. — Sr. Moore levantou a outra mão e quando viu que ele se afastava novamente, a abaixou e continuou num tom de voz bem mais suave, mantendo seus olhos intensos sobre os dele. — A gente pode começar de novo?
Matteo sentiu um tipo diferente de calor subir por sua coluna, ele abriu a boca para xingá-lo de doido bipolar quando parou no meio do que ia dizer. Sim, Matteo se calou. Ele se calou porque Sr. Moore continuava olhando para ele como se Matteo fosse a única coisa digna de atenção, ele se calou principalmente porque Sr. Moore sorria novamente, um sorriso pequeno e bonito, mas tão sincero que tinha lhe acertado completamente e com força total, lhe fazendo perceber que ele estava mais encrencado do que pensava.
Quer saber? Matteo não sabia o que estava acontecendo consigo mesmo ou com esse homem, ou o porquê dessa súbita mudança de comportamento. E ele nem queria saber. Será que Matteo devia ir embora ou…
— Eu juro, estou sendo sincero. Me desculpe por antes. A última babá que ela arrumou não deixou a melhor das impressões, entende?
— Ela?
— Sofia Gray, minha esposa? A pessoa que te contratou? Não importa, ela fez isso de propósito.
— Eu entendo se o senhor--
— Não, eu insisto. — Derek Moore disse, soando mais… firme do que antes. — Vamos ver o que acontece até o fim do dia. Veja isso como uma experiência, sim?
E assim, o assunto se encerrava. Sr. Moore acenou para Matteo, endireitou a coluna e se virou, indicando o caminho. Ele andou a passos largos na direção apontada e subiu os lances de escada, percorrendo um longo corredor que dava no quarto das crianças.
Ainda meio zonzo com tantas mudanças de humor, Matteo não teve escolha senão segui-lo praticamente correndo para alcançá-lo. Ele subiu os degraus de dois em dois e, já arfando, alcançou o Sr. Moore no andar superior:
— Eu pensei… que o senhor… não fosse participar?
— Eu não estava falando sério. Vou estar presente sempre que possível. Então, relaxe. Não sou esse tipo de pai.
Por algum motivo, Matteo sentia que Sr. Moore continuava zombando dele mesmo que o deboche não fosse óbvio. Do mesmo modo, ele o seguiu mais uma vez para dentro do quarto, sendo recebido por duas crianças que já estavam acordadas. Elas correram até o pai, gargalhando, e cada uma delas segurou em uma das pernas do homem, a felicidade delas sincera e contagiante, logo o fazendo esquecer do que havia acabado de acontecer