Capítulo III

1333 Palavras
— A culpa não é sua. Entre. Sr. Moore deu espaço para Matteo entrar e fechou a porta, logo em seguida caminhou para dentro da casa, o guiando pela câmara de entrada. Matteo tentou seguir pelo cômodo na velocidade do homem, mas teve que parar por um momento. A primeira coisa que viu foi o branco em seu tom mais puro, vendo que conforme ele andava e seus olhos percorriam o saguão, o branco se misturava a outras tonalidades mais claras e neutras. Ele piscou, olhando ao redor e se perguntou o que mais iria encontrar naquele lugar. As paredes eram brancas e os móveis de uma cor clara, neve pálida, que contrastavam com os quadros bonitos no qual ele nunca poderia reconhecer seu real valor mesmo que o pagassem, decoravam tais paredes intercaladas por grandes janelas que iam até o chão em pontos estratégicos; tudo era tão imaculado, tão limpo e claro que ele teve medo de dar um passo à frente e sujar alguma coisa. Por isso, com o maior cuidado possível, Matteo pisou no tapete branquíssimo que se estendia por toda a entrada e andou o mais rápido que pôde tentando alcançar Sr. Moore que já lhe esperava na entrada para a sala de estar, parecendo impaciente. E como todo o resto, o chão daquela casa também era de um granito branco que reluzia quase lhe cegando. Ele tinha mencionado a grande escada em caracol que levava ao andar de cima? Era lindo, algo saído de algum conto de fadas. Matteo podia muito bem imaginar uma princesa descendo por aqueles degraus claros e lustrados. Ele escutou um pigarro e enfim desviou o olhar da escada vendo que havia duas portas à direita e uma a esquerda, e o cômodo que ele pensava ser uma pequena sala de estar se abria ampla mais à direita, bem iluminada pelas grandes janelas que também havia ali mostrando o jardim bem cuidado, com mais paredes brancas, sofás creme, uma mesinha de centro e uma televisão de setenta polegadas presa a parede. Feito um i****a, ele continuou andando enquanto olhava para os lados e sem querer tropeçou no fim do tapete, parando no início da sala de estar. Já o Sr. Moore tinha andado a passos confiantes pelo longo corredor, lhe esperando, parecendo a cada minuto mais impaciente agora parado no meio da sala. — Entre. Por favor. — Sr. Moore lhe disse tão sério quanto antes. Por algum motivo que Matteo não podia explicar, ele se sentia em conflito, embora… embora soubesse ser um tipo diferente de conflito. Era uma sensação engraçada no pé do estômago que fazia os pelos em sua nuca se arrepiarem, como se… podia parecer ridículo, mas ele sentia ter entrado em uma armadilha de forma que se pisasse em falso seria devorado. Ele admitia, tinha atração por um tipo específico de homem. Alto, forte e… decidido. Bem, ele não sabia se “decidido” era a palavra certa, mas Matteo gostava de acreditar nisso. Ele não sabia, talvez fosse toda aquela pele à mostra, a forma que o homem seminu estava parado no meio do cômodo como se não tivesse nada a esconder, a forma que o Sr. Moore parecia usar sua altura para exigir… exigir algo dele, como aqueles olhos que brilhavam intensos pareciam o espreitar, contidos, atentos, tentando comunicar algo que Matteo se negava em compreender. Também poderia ser aquele lugar gigante e deserto que lhe dava essa impressão de sufocamento, como se ele fosse minúsculo e a vastidão banca fosse engolì-lo naquela casa que parecia ser a perfeita prisão feita de ouro, ou ainda pior, poderia ser algo inédito, algo que Matteo recusaria até o fim por puro senso de moral; ele odiava essa sensação que subia por sua coluna e lhe deixava mais confuso pelo simples fato de estar irritado com o homem há menos de dez minutos e agora, bem… ele não podia esconder, era algo que vinha a ele naturalmente; essa sexualidade que ele tentava enterrar o máximo que pudesse e que era óbvio a semelhança na postura desse homem que o encarava dos pés à cabeça tão intensamente que lhe deixava desconfortável e ao mesmo tempo com vontade. Mas tudo estava bem, Matteo podia admitir para si mesmo. O único motivo de hesitar tanto era a lembrança do que havia acontecido ontem, era exatamente por conhecer pessoas como esse homem, autoritário e confiante, como se fosse óbvio que os outros viviam para atender seus desejos, que ele tinha perdido o emprego. Matteo não queria que acontecesse a mesma coisa tão rápido. Ou que acontecesse algo pior. Ah, por que ele não escutou sua intuição e foi embora quando pôde? Quer dizer… ninguém o obrigava a estar ali, certo? Sr. Moore apenas tinha segurado a porta, lhe dando passagem e andado para dentro da casa. Talvez um pouco com a cabeça empinada? Talvez se colocando mais ereto do que antes como se… como se estivesse estufando o peito? E só talvez… só talvez ele pudesse ver um brilho meio sinistro naqueles olhos que por algum motivo Matteo não conseguia desviar a atenção… Não, devia ser coisa da ansiedade que gostava de lhe pregar peças. Matteo respirou fundo e fez o seu melhor para se convencer, ele fazia esse sacrifício apenas pelo dinheiro. Inspirou profundamente, deixando o ar sair e deu o primeiro passo para dentro da sala. Depois deu mais um e parou na frente do Sr. Moore que o encarou por mais uns segundos, seu rosto ilegível, braços cruzados em frente ao peito, parado no meio do cômodo com as pernas afastadas. Era difícil impedir seus olhos de seguir a direção natural das coisas. — Me siga. Sem esperar por Matteo, Sr. Moore andou a passos largos em direção aos sofás na sala de estar e se sentou pesadamente contra uma das milhares de poltronas que enfeitavam o cômodo, o forçando a ir atrás dele. — Não vou enrolar. Minha esposa viaja na maior parte do tempo e eu cuido das crianças. Sou pesquisador e não tenho tempo a perder. Elas têm uma rotina. Você deve acordá-la às sete em ponto, trocar elas, me ajudar com o café da manhã, levá-las para a escola, buscá-las, ajudá-las com o dever de casa, mantê-las entretidas até a hora de ir dormir e dar banho nelas no fim do dia. Durante o resto do tempo, eu não me importo com o que você faz. Se você fica aqui ou em outro lugar, não é da minha conta. — Hmm… tudo bem? — Matteo disse meio confuso, a irritação voltando a subir por seus nervos. — O senhor vai estar presente em algum momento? Ou devo fazer alguma coisa a mais? — E o que seria isso? O homem finalmente sorriu para Matteo, mas era algo tão zombador e cínico que ele quase se levantou da cadeira para dar um soco nele. — Olha, eu não sei o que você faz na casa das outras pessoas, mas aqui você vai fazer o que foi contratado para fazer. Cuidar das crianças e arrumar a bagunça que elas fizerem. Duzentos reais por dia é o suficiente? — Duzentos reais? — Matteo disse, surpreso. Isso era o dobro do que ele esperava. — Duzentos reais mais transporte e almoço. Você está livre para comer ou fazer o que quiser. Sr. Moore deu mais um sorrisinho na direção de Matteo e se espreguiçou lentamente ao se levantar, Matteo observando cada movimento com mais atenção do que o necessário, ainda levemente confuso e se negando a corar. O pior era saber que ele era tão óbvio, não conseguindo evitar o constrangimento. — Não se preocupe. Acontece com todo mundo. — Sr. Moore piscou para Matteo e enfim se afastou, mas não sem antes falar: — Subindo as escadas, estou no primeiro quarto à direita. As crianças devem ser acordadas em vinte minutos. Matteo acenou meio zonzo e viu a silhueta dos ombros largos de seu mais novo chefe desaparecer escadas acima.
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