Capítulo II

1842 Palavras
Matteo desceu do ônibus e parou em frente a um grupo de casas luxuosas, já estranhando o lugar. Ele segurou o celular com força e verificou o endereço que lhe mandaram. Sim, era ali, Rua dos pinheiros… eh… o que parecia estar certo, havia árvores tão altas que pareciam desaparecer entre as nuvens. Ele deu de ombros e andou pela calçada larga, sentindo como se entrasse em um mundo desconhecido ao ver que os tijolos no chão eram pintados de uma cor amarela num tom dourado e fosforescente, se estendendo sem fim por longos quilômetros que mais parecia sair de um conto de fadas conforme as fileiras de residências se perdiam ao horizonte e além. Ele não podia evitar, se via deslumbrado por aquele lugar; eram os grandes portões que delimitavam as propriedades, as separando por muros ainda mais altos. Árvores gigantes e canteiros menores com flores em diferentes formatos e cores que bloqueavam a visão das outras casas ou do que havia dentro daqueles portões. Ele continuou andando e parou em frente ao conjunto que tinha o número 17, onde mais um grande portão de ferro n***o subia mais alto do que ele podia ver. Matteo não conseguia expressar como era estranho estar num lugar como aquele, o ambiente era tão quieto e a ausência de qualquer pessoa por ali fazia sua pele se arrepiar. E só para ter certeza, ele verificou mais uma vez se aquele era o endereço correto. Matteo coçou os cabelos, tentado a abrir mais uma vez o e-mail com os dados do contratante, porque aquilo só podia ser um engano; o que ele presenciava não podia ser chamado de casa. Agora que chegava bem perto dos portões podia ver que era um conjunto de pequenas mansões bonitas e bem estruturadas com cercas brancas, largos jardins, parques, piscinas, academias e tudo mais o que pudesse ser imaginado, além de seguranças protegendo o perímetro ao redor da propriedade e nas áreas comuns a todos os moradores. Parecia que ele de fato tinha entrado em uma realidade paralela, o que era estranho. Sentia que ele não era alguém que aquelas pessoas contratariam para trabalhar ali, alguém sem faculdade, sem qualificações ou indicações profissionais adequadas. Mas já que Matteo estava ali… ele deu de ombros outra vez. Que m*l tinha em tentar? Ele andou até a frente do portão e apertou o interfone: — Com licença, sou Matteo Rossi. Tenho uma reunião com Sofia Gray na casa 4. — Sim, bom dia. A Senhorita Gray deixou um recado. — O porteiro solicito e educado, lhe disse. — Ela pede desculpas por não poder recebê-lo pessoalmente. Nós o encaminharemos até o local. Restou a Matteo agradecer e esperar que os portões se abrissem. Ele jurava que estava tentando manter a mente aberta, porém, a coisa mais esquisita aconteceu em seguida. Enquanto parte do portão deslizava para o lado, dois seguranças com o triplo do seu tamanho o olharam de cima a baixo e pararam em sua frente. — Documentos. São regras do condomínio. — Matteo achou mais estranho ainda, mas tudo bem. Já que ele tinha embarcado nessa loucura, iria até o fim. Ele abriu o zíper da mochila e entregou a eles sua carteira de habilitação. O mais alto e ruivo pegou o documento de suas mãos e tirou uma prancheta de dentro do posto da guarita, se aproximou, olhou para as informações que tinha e depois pareceu comparar com as informações do documento. O mesmo guarda-costas escreveu alguma coisa no papel e entregou o documento e a prancheta para ele, dizendo: — Assine aqui. — Foi tudo o que o ruivo lhe disse antes de Matteo assinar rapidamente e o segurança conferir a assinatura. Quando as informações pareceram bater, o outro segurança que estava ao lado acenou e o guiou até um carro que o esperava em frente a outro portão menor. Matteo se deixou ser encaminhado até o próximo portão e sentiu vontade de rir; primeiro, esse era algum tipo de prisão luxuosa? E em segundo, por que havia um carrinho de mini golfe ali? O mais interessante era que o carinho até vinha com um motorista particular. Ainda achando graça, ele entrou no carro, colocou o cinto de segurança e se deparou com um garoto da idade dele, algo entre vinte e vinte e cinco anos, cabelos castanhos, olhos negros e um bonito sorriso largo. — Primeira vez? Ele acenou, tentando não demonstrar como tudo aquilo o incomodava e o divertia ao mesmo tempo. — Não se preocupe, todo mundo fica meio assustado na primeira vez. Qual o seu nome? — Matteo. — É um prazer, Matteo. Você pode me chamar de Gabe. Vou te dar uma carona pelo tempo que você ficar por aqui. — Por quê? Você acha que eu não vou ficar muito tempo? — Ninguém fica. Não é nada pessoal. Você sabe como são essas pessoas. — Como elas são? — Acho que você vai descobrir logo, não vai? Assim, quando ele menos percebeu Gabe parou o carro em frente a casa de número 4. Sorrindo todo charmoso com covinhas e dentes brancos, Gabe perguntou: — Eu posso? — E antes que Matteo pudesse responder, Gabe o ajudou a tirar o cinto de segurança, deu a volta no carro e estendeu a mão para ele. Por um motivo que Matteo não compreendia, sentiu uma quentura subir por seu pescoço até encontrar suas maçãs do rosto, um sorriso se formando em seus lábios quando a mão de Gabe tocou na sua e mais envergonhado ainda, ele aceitou a ajuda oferecida. Matteo desceu do carro e Gabe que estava perto dele o puxou suavemente por um momento, os deixando mais perto ainda, Matteo quase podendo sentir a respiração de Gabe contra seu rosto. Ele observou a forma que Gabe parecia querer se aproximar o resto da distância e pigarreou, enfim dando um passo para trás em direção a casa. Matteo encarou uma última vez os olhos negros de seu mais novo amigo que pareciam brilhar quase maliciosos ao encará-lo e viu o tal sorriso se alargar por algum motivo que Matteo não entendia. — Não se esqueça, não leve para o lado pessoal. — Ele piscou para Matteo, todo charmoso e deu a volta no carro, entrou no lugar do motorista e arrancou para longe dali. “Certo. Nada pessoal. Claro.” Matteo pensou consigo mesmo, vendo Gabe se afastar rapidamente pelas ruas do condomínio, arrancando para longe dali. Ele se permitiu respirar fundo e encarou a casa de dois andares que era rodeada por um jardim tão extenso que não era possível ver nada além da natureza, alguns carros e mais árvores que cresciam altas com folhagens volumosas. Ele tentou ignorar a exuberância do lugar e disse a si próprio, não era nada demais, esse seria apenas mais um emprego onde ele ficaria alguns meses, faria um pouco de dinheiro e seguiria para o próximo trabalho até que tivesse dinheiro o suficiente para custear seus estudos. Apenas mais um dentre tantos outros. Ele deu mais alguns passos em direção a porta e subiu os poucos degraus, esses feitos de um mármore branco e cinza, seguindo o resto do design da casa, tudo muito pálido e em tons pastéis, isso ficando claro até mesmo do lado de fora da casa. Em seguida, tocou a campainha antes que seus nervos falassem mais alto, restando a Matteo respirar fundo mais uma vez tentando se acalmar. Ele arrumou suas roupas amassadas e segurou na alça da mochila passando a mão nos cabelos, tentando ajeitá-los no reflexo da tela do celular, o que se provou ser inútil. Não havia milagre naquele mundo que o faria se sentir adequado ou bem-vestido, assim, ele se forçou a esperar o mais paciente que alguém como ele poderia. Não era nada demais, disse a si mesmo mais uma vez. Ele sempre ficava nervoso no primeiro dia e isso nem tinha a ver com os chefes insuportáveis ou abusivos que Matteo já teve o prazer de aturar, não, tudo isso estava impregnado em sua pele não importando para onde ele fosse. Fazia parte de sua condição psicológica. Impaciente e vencido pela ansiedade, ele tocou novamente a campainha, apertando o botão mais forte do que pretendia no exato momento em que a porta se abriu bruscamente, revelando um homem alto de quase dois metros de altura, cabelos negros bagunçados e intensos olhos verdes que o fitavam com desinteresse. O homem parecia ter pulado para fora da cama, vestindo apenas calças de moletom cinza e mostrando… mostrando uma trilha de pelos que levava a um certo volume avantajado naquele lugar. — Sim? — O homem murmurou rouco, seus olhos m*l se abrindo e tão sério que Matteo pensou em dar meia volta e escapar daquela situação estranha. Se sentindo pior ainda, como se alguém revirasse suas entranhas, Matteo manteve seus olhos acima dos ombros do homem seminu e conferiu o celular, verificando novamente o e-mail que a agência tinha enviado. Casa 4. Empregadora - Sofia Grey. — Posso falar com a senhora Sofia Grey ? — Volte no próximo mês. Talvez no próximo ano, sim? Nunca pensei que ela gostasse dos mais novos… — O homem murmurou quietamente como se Matteo não devesse ter escutado, principalmente a última parte, distraído, nem parecendo se importar com a presença dele. — Senhor…? — Moore, Derek Moore. — Ele disse de má vontade, bocejando. — Sr. Moore. — Matteo falou. Ele fez questão de ignorar o que aquele senhor insinuava. — Me avisaram sobre a vaga de cuidador infantil. A agência me enviou aqui. — Ah. Derek Moore não agiu como ele esperava. Não, o homem apenas levantou as sobrancelhas e o encarou pela primeira vez parecendo lhe analisar, o dissecando com seus analíticos e intensos olhos verdes, como se tentasse decidir se Matteo valia o seu tempo. O que fez Matteo se sentir ainda mais estranho, querendo se esconder e socar a cara daquele homem ao mesmo tempo. — Você tem experiência com crianças? — Derek Moore lhe disse, mesmo que não fosse o que o homem pretendia falar. Isso estava nítido para Matteo. — Cuido dos meus irmãos desde criança. Serve? — Quando Matteo viu que parecia desrespeitoso demais, completou: — O anúncio não exigia especificações. — Me deixe ver. Não parecia ter sido um pedido. — Claro. — Ele deu de ombros, fingindo não se importar com aquele interrogatório todo. Matteo entregou o celular para o Sr. Moore e se sentiu vitorioso quando o homem não achou nada de errado. Sr. Moore apenas pareceu ler, virou a cabeça para o lado e suspirou fundo, dizendo: — Típico dela. — Se o senhor quiser posso ir embora. — Afinal, nenhum dinheiro era suficiente para passar aquele tipo de humilhação. Ou o que ainda estava por vir. Matteo nunca tinha certeza do que poderia acontecer. — A culpa não é sua. Entre. Sr. Moore deu espaço para que Matteo entrasse e assim a porta se fechou, dando início a algo que ele em hipótese alguma poderia ter previsto.
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