A sala do conselho do Égide nunca pareceu tão opressiva. No dia seguinte, às 9h em ponto, Seraphina entrou na sala de conferências com Julian Kaine. O ambiente estava carregado com a tensão do julgamento. Os membros do conselho, figuras pálidas da elite financeira, estavam sentados como juízes, prontos para executar a sua sentença: o voto de não-confiança que anularia a venda das ações e a removeria da presidência do Égide.
Seraphina estava vestida com um tailleur de lã fria e azul-marinho, a cor da autoridade incontestável. Ela usava o seu anel de noivado de Julian, um farol de poder. Julian sentou-se à sua direita, não como um parceiro passivo, mas como o acionista majoritário, o seu guarda-costas financeiro, vestindo um fato escuro que o fazia parecer um executor.
O Sr. Harrington, o líder da facção conservadora, começou sem preâmbulos.
— Sra. Kaine. A moção para o voto de não-confiança foi ativada devido à nossa preocupação com a estabilidade da liderança. A sua recente aquisição de capital pelo Sr. Kaine, embora legal, ocorreu sob circunstâncias altamente públicas e controversas, culminando num escândalo social que desestabilizou os nossos investidores.
— O escândalo social foi a exposição da fraude do Sr. Thorne e do Sr. Vance — Seraphina interveio, a sua voz calma e cortante. — A instabilidade não veio da minha liderança; veio da podridão que eu limpei.
— No entanto, a forma como lidou com isso, Sra. Kaine, sugere um déficit de controlo emocional. A sua união com o Sr. Kaine, um conhecido "predador financeiro", sugere uma aliança de risco que compromete a nossa reputação de sobriedade.
Seraphina olhou para Julian, que estava impassível, deixando-a enfrentar a acusação sozinha. Ele a estava a testar, a forçá-la a provar que ela merecia o poder que ele lhe havia concedido.
— Se me permitem, o meu casamento não é uma fraqueza. É a estrutura de controlo final.
Ela levantou-se e foi para a tela de projeção.
— Senhores, vocês temem a falta de controlo. O Égide foi construído sobre a minha visão, e Marcus Thorne quase o destruiu por vingança pessoal. A minha resposta não foi emocional, mas cirurgicamente estratégica. Eu me casei com o único homem em Nova York que tem o capital e a capacidade de esmagar financeiramente Marcus Thorne sem quebrar nenhuma lei.
— Mas a venda de suas ações ao Sr. Kaine...
— A venda das minhas ações a Julian Kaine foi o ato de estabilidade mais importante desta empresa em cinco anos! — Seraphina atirou, a sua voz crescendo em autoridade. — Ao vender as ações, removi a minha última vulnerabilidade pessoal a Marcus. Julian injetou liquidez maciça, permitindo-me esmagar o short-selling de Marcus. O Égide não está menos estável. Está blindado.
Ela olhou diretamente para Harrington.
— Vocês temem que Julian Kaine assuma o controlo. Deixem-me tranquilizá-los. O nosso contrato é claro. Eu sou a CEO, eu lidero as operações, e eu detenho a visão. Julian Kaine é o meu escudo. Ele fornece a defesa impenetrável que a sua liderança de "sobriedade" nunca conseguiu oferecer. Vocês preferem um CEO que gere a empresa ou um CEO que a salve?
O silêncio era tenso. Julian, pela primeira vez, sorriu, um sorriso discreto que era exclusivamente para ela. Ela havia dominado o argumento.
Harrington, no entanto, tinha a sua arma final.
— E a fusão das suas vidas, Sra. Kaine? O facto de terem destruído as suas barreiras físicas, morais e agora financeiras? Isso não sugere que a sua capacidade de tomar decisões frias e independentes está comprometida pelo seu... afeto por ele?
O ataque era pessoal e tentava invalidar toda a sua carreira através do seu relacionamento.
Seraphina virou-se para Julian. A sua resposta tinha que ser mais do que lógica; tinha que ser uma performance que reescrevesse a definição de poder conjugal.
— O meu marido e eu tivemos uma conversa muito franca esta manhã sobre o nosso novo contrato. E, em nome da transparência total que nos prometemos, eu partilharei a essência dessa conversa convosco.
Ela olhou para Julian, e o desafio estava nos seus olhos. Julian Kaine, sabendo o que ela estava a fazer, acenou, dando-lhe carta branca.
— Eu exigi de Julian Kaine a transparência total sobre o seu passado, os seus negócios e os seus segredos. E ele aceitou. Porque ele sabe que o meu cérebro é o seu maior ativo. E a única forma de garantirmos que a nossa aliança é indestrutível é através da fusão total. Sim, moramos juntos. Sim, partilhamos a nossa vida. E sim, as nossas mentes estão ligadas na estratégia.
Seraphina deu a volta à mesa e parou atrás de Julian. Ela pousou as suas mãos nos seus ombros, um gesto de domínio e posse que era mais poderoso do que qualquer aperto de mão.
— O que vocês veem como uma fraqueza romântica é, na verdade, a maior prova da minha capacidade de liderança. Eu domino o meu medo, eu domino o meu ressentimento, e eu domino o meu desejo por este homem para garantir a vitória do Égide. Eu sou a única pessoa nesta sala que tem a coragem de transformar a i********e em poder corporativo.
Ela se inclinou sobre Julian, e a sua voz baixou a um sussurro que, ainda assim, preencheu a sala.
— Se vocês votarem contra a minha liderança, não estarão a votar contra mim. Estarão a votar contra os 51% de ações que o meu marido detém. E Julian Kaine não tolera que se vote contra a sua esposa ou contra o seu investimento. A vossa estabilidade financeira depende da minha permanência.
Julian levantou-se lentamente. Ele não disse uma palavra, mas a sua presença era ensurdecedora. Ele era a ameaça silenciosa que validava cada palavra dela.
Harrington estava visivelmente abalado. Ele tinha previsto um CEO defensivo, não uma Rainha a reclamar o seu trono com o seu Rei a reboque.
— O voto prossegue — disse Harrington, a sua voz mais fraca. — Os votos serão contados.
A contagem foi rápida. Os membros do conselho estavam divididos entre o medo de Julian Kaine e o desejo de derrubar Seraphina.
O resultado: 2 a favor da moção, 5 contra, 2 abstenções.
A moção de voto de não-confiança foi derrotada.
Seraphina permaneceu na sua posição, o triunfo gelado no seu rosto.
— A reunião está encerrada. O Égide regressa aos negócios imediatamente.
Julian Kaine olhou para os membros do conselho, um olhar de advertência que congelaria o sangue de qualquer um. Eles saíram apressadamente.
Quando a sala ficou vazia, Julian virou-se para Seraphina. Ele pegou nas suas mãos, e o seu sorriso era de respeito absoluto.
— Você não apenas os derrotou. Você os humilhou. E você os fez pagar. A sua defesa foi mais do que perfeita.
— Foi a verdade — Seraphina admitiu, sentindo o peso da performance a desaparecer.
— Não. Foi a nossa verdade. E agora eles acreditam.
Julian pegou na sua nuca e puxou-a para um beijo, não de paixão, mas de celebração e posse partilhada. Era o beijo entre dois guerreiros que acabavam de vencer a batalha final pelo seu reino.
— Agora — sussurrou Julian, encostando a testa na dela —, o Égide está seguro. Marcus está na ruína. E nós... somos inevitáveis.
Eles regressaram ao penthouse não para celebrar, mas para começar o trabalho de verdade: o trabalho de gerir o seu império juntos, lado a lado. A sua parceria de negócios estava consolidada; a sua parceria conjugal estava apenas a começar. Seraphina sabia que havia trocado a sua solidão pelo poder total, e o preço era viver sob o olhar constante de Julian Kaine.