O Salão de Festas dos Drummond era o epicentro da hipocrisia e do poder de Nova York. Lustres de cristal ofuscavam, o champanhe fluía, e o ar estava carregado de bisbilhotice e julgamento. Seraphina e Julian Kaine desceram a grande escadaria com a precisão de dois atores entrando no palco.
O silêncio não foi imediato, mas gradual, como uma onda que engole a praia. As conversas diminuíram, os copos pararam a meio caminho dos lábios, e todos os olhos convergiram para o casal. Julian e Seraphina eram o oposto perfeito: ele, frio e reservado; ela, uma estátua de beleza implacável em seu vestido n***o.
O anel de diamante esmeralda de Seraphina era o verdadeiro protagonista. Ele não brilhava; ele gritava a fortuna, o poder e a exclusividade de Julian Kaine, ofuscando qualquer joia na sala.
— Mantenha o contato visual comigo — sussurrou Julian, seu braço firme ao redor da cintura dela, o toque possessivo, mas cuidadosamente não íntimo. — Sorria, mas não demais. Seja a dona da sala, Seraphina.
E ela sorriu. Era um sorriso forçado, a máscara perfeita que ela havia praticado. A máscara da mulher que não foi derrubada, mas sim catapultada para um novo nível de poder.
E então, ela o viu. Marcus Thorne. Ele estava perto da fonte de mármore, envolto por um grupo de acionistas do Égide e pela herdeira Drummond, sua noiva. Marcus estava falando, confiante, até que sentiu o silêncio. Seus olhos varreram a sala e congelaram em Seraphina.
O copo de uísque que ele segurava escorregou de seus dedos, caindo silenciosamente no tapete espesso. O som foi abafado, mas a reação de Marcus foi audível para Seraphina, mesmo à distância: ele empalideceu.
A herdeira Drummond, confusa, seguiu o olhar de Marcus.
Julian Kaine parou no centro do salão, permitindo que a atenção ficasse nele. Ele não procurou Marcus; Julian fez Marcus vir até ele.
Os dois se dirigiram ao centro da sala, Seraphina e Julian marchando com propósito, e Marcus tropeçando em choque.
— Seraphina! — A voz de Marcus era uma mistura de descrença e fúria contida.
Julian apertou Seraphina gentilmente contra ele, um sinal claro de posse. Ele falou primeiro, seu tom calmo, quase condescendente.
— Thorne. Que surpresa agradável. Pensei que estivesse muito ocupado com o meu antigo negócio.
— O que… o que significa isso, Seraphina? — Marcus ignorou Julian, fixando seus olhos desesperados nos dela. Ele estava procurando pela Seraphina vulnerável, a mulher que ele havia deixado em ruínas. Ele encontrou apenas uma estranha imponente.
— O que parece, Marcus — ela respondeu, a voz perfeitamente modulada, sem falhas. Ela inclinou a cabeça, fazendo o diamante capturar a luz. — Julian e eu estamos noivos.
A palavra "noivos" ressoou pela sala. Era a confirmação que a elite esperava. O bilionário mais misterioso havia fisgado o peixe mais estratégico da cidade.
Marcus explodiu, perdendo a máscara de charme que ele usava para a sociedade.
— Isso é ridículo! Você estava de luto! Você estava... você estava destruída! Você não pode fazer isso! É uma piada de mau gosto!
Julian interveio com um sorriso frio que alcançou apenas o canto de sua boca.
— Marcus Thorne, a única piada aqui é a sua presunção. Seraphina e eu mantivemos nosso relacionamento privado por anos. Ela precisava de tempo após o fim do seu... arranjo de negócios. Eu, por outro lado, precisava garantir que ela fosse minha para sempre.
Ele beijou a mão de Seraphina publicamente, demorando-se o suficiente para que os flashes das câmeras começassem a explodir no fundo da sala. Seraphina sentiu o calor de seus lábios e teve que lutar contra o desejo de se afastar. Era atuação, mas era poderosa.
Marcus riu, uma risada histérica.
— Relacionamento privado? Você a está usando, Kaine! Ela é uma ferramenta para você. Ela me ajudou a construir o Égide e agora ela está se vendendo para você para se vingar!
Seraphina finalmente olhou diretamente para Marcus, e o desprezo em seus olhos foi a arma mais eficaz.
— Eu nunca me vendo, Marcus. Eu estabeleço o preço. E o preço de me casar com Julian Kaine é a sua absoluta e completa irrelevância.
Ela não disse mais nada, deixando suas palavras — e o silêncio que se seguiu — fazerem o trabalho.
Julian, percebendo o momento de fraqueza de seu rival, fechou o cerco.
— Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar.
— E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba.
Seraphina não desviou o olhar.
— Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios.
— E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa?
A lógica dele era frustrante, um laço de seda.
— Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem.
Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador.
— As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar.
A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos.
Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir.
— Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto.
Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele.
— Então defina-os. Prove-me que pode.
Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido.
Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida.
O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas.
O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético.
Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo.
— Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco.
Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso.
— O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente.
— O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos.
Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas.
— Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção.
Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse.
Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.