A sede do Banco D'Argent era a epítome da riqueza opaca: pouca luz, muito mármore e a sensação de que cada passo custava milhares. Seraphina e Julian chegaram com uma hora de antecedência para a reunião, uma tática de poder que Julian insistiu em manter.
O CEO do D'Argent, Sr. Dubois, e a sua equipa legal esperavam por eles na sala de reuniões executiva. A atmosfera era pesada, cheia de cautela. Julian tinha agitado o ninho, e todos sabiam que essa não seria uma simples reunião de cortesia.
Seraphina estava impecável em um tailleur cinza-carvão. Julian, ao seu lado, parecia a personificação da calma implacável.
Julian começou, sem rodeios:
— Sr. Dubois. Estamos aqui para discutir o seu acordo com a Thorne Global, que, como você deve saber, foi orquestrado sob falsas pretensões, usando uma empresa de fachada.
O Sr. Dubois sorriu, um gesto tenso e forçado.
— Sr. Kaine, a Thorne Global é uma parceira de longa data. Os nossos contratos são herméticos.
— São herméticos até que o conflito de interesse moral toque a sua reputação. — Seraphina interveio, assumindo o controlo.
Ela projetou os documentos no ecrã principal, focando a atenção de todos na cláusula de penalidade do contrato, que mencionava o direito do banco de revogar o acordo se as ações do cliente causassem "danos reputacionais significativos".
— O Banco D'Argent se orgulha da sua ética, não é, Sr. Dubois? — Seraphina continuou, a sua voz como chicote. — Então, como o seu banco pode continuar a financiar a Thorne Global, sabendo que o seu capital foi usado para financiar a exploração de terras raras em Angola, através de uma subsidiária que utiliza trabalho forçado e violações ambientais maciças?
A sala ficou em silêncio. Dubois empalideceu. A fraude de Marcus era moralmente explosiva. Seraphina tinha todas as provas, graças a Julian: fotos, relatórios de watchdogs e ligações diretas entre as empresas de fachada e o projeto de Angola.
— Esses são relatórios não verificados... — tentou o advogado do D'Argent.
— São relatórios que o The Wall Street Journal está pronto para publicar às 14h, a menos que o Banco D'Argent demonstre que agiu rapidamente para rescindir o acordo e cortar laços com a Thorne Global. — Julian Kaine falou, o seu tom era suave, mas a ameaça era clara. — Você tem que escolher: protege Marcus Thorne e arruína a reputação do seu banco, ou assina a rescisão e se torna a vítima inocente da fraude de Thorne.
O Sr. Dubois olhou para o seu advogado, que balançou a cabeça em derrota.
— Eu preciso da garantia de que a sua esposa não está a agir por vingança pessoal, Sr. Kaine.
Julian sorriu, um sorriso aberto e cheio de adoração falsa. Ele se levantou, caminhou até Seraphina e, diante de todos, pousou a mão no ombro dela, o gesto de marido orgulhoso.
— Seraphina não está a agir por vingança, Sr. Dubois. Ela está a agir por um profundo senso de justiça e para proteger o nosso futuro financeiro. É a mulher mais moralmente rígida que eu já conheci. Ela é minha esposa.
Ele se inclinou e beijou-lhe o topo da cabeça, um toque de ternura que era, no contexto, totalmente desestabilizador para Seraphina. Não estava no guião! Ele estava a usar a i********e para minar a autoridade dela no momento de maior poder.
O Sr. Dubois, vendo a prova de que Julian Kaine estava totalmente por trás dela, rendeu-se.
— Envie-nos a documentação de rescisão, Sra. Kaine. Nós vamos assinar.
A vitória foi esmagadora. Marcus acabava de perder a sua principal fonte de capital.
De volta à limusine, Seraphina sentou-se em silêncio por um momento, a adrenalina diminuindo.
— Você me beijou! — Seraphina finalmente explodiu, a fúria ofuscando a satisfação da vitória. — Eu estava a fazer a apresentação perfeita, a provar a minha competência, e você a transformou em um teatro patético!
Julian estava relaxado, a folhear um jornal de finanças que ele havia pegado na portaria do banco.
— O meu trabalho não era apenas ganhar. Era garantir que eles acreditassem em nós o suficiente para quebrar um contrato blindado. E eles não acreditam em CEOs que se casam com estranhos, por mais brilhantes que sejam. Eles acreditam em maridos que agem por amor e proteção. — Ele fechou o jornal, virando-se para ela, os seus olhos azuis afiados. — O toque era necessário. E você sabe que funcionou.
— Eu não vi nenhum ator, Julian. Eu vi a sua tentativa de me desestabilizar.
— Eu sou culpado de ambos. — Ele acenou, admitindo o jogo com uma franqueza desarmante. — E a verdade é que, quando me inclinei para a beijar na testa, o meu impulso foi beijá-la na boca. Tive que me conter para não violar a regra de "demasiado íntimo em público".
O comentário atingiu Seraphina como uma flecha. Ele estava a ser honesto sobre a sua atração, e isso tornava a sua manipulação ainda mais perigosa.
— Não use a sua luxúria como estratégia de negócios.
— É a melhor estratégia. A atração entre nós é um ativo. — Ele estendeu a mão na cabine, a palma virada para cima, um convite silencioso. — Segunda vitória. Marcus acabou de perder a sua principal fonte de capital. Agora, vamos celebrar. O que você quer?
Seraphina olhou para a sua mão estendida. Ela não queria apertá-la. Ela queria agarrá-lo e beijá-lo novamente. O seu controlo estava a falhar miseravelmente.
— Eu quero... a sua lealdade incondicional neste processo. E quero saber o que você está a ganhar com tudo isto, além de ver Marcus Thorne cair. Não me diga que é pelo seu "sentimento de justiça".
Julian não moveu a mão, mas a sua expressão ficou séria, a máscara de marido atencioso completamente desfeita.
— Você já tem a minha lealdade. Ela é incondicional enquanto o nosso objetivo for o mesmo. Quanto ao que eu estou a ganhar... Isso vem depois. Quando você for Rainha, eu serei Rei. E eu sempre quis ser Rei de algo que vale a pena. E você, Seraphina Vance, é um império em ascensão que vale a pena proteger.
Ele estava a dizer que ela era o seu troféu, mas também a sua maior aposta. Ele via nela um valor além do financeiro.
Seraphina aceitou a sua mão, não em parceria, mas em rendição momentânea ao seu jogo. A vingança era doce, mas o preço, ela estava a descobrir, era a perda de sua própria armadura. O aperto dele era firme e quente, um contraste com a frieza do seu tom de voz.
— O que é o próximo passo? — Seraphina perguntou, retomando o controlo do tópico de negócios.
— O próximo passo é forçar a mão dos seus primos. Marcus vai tentar usar a traição de Theodore Vance para desviar a culpa para a sua família. Vamos expor Theodore antes que ele possa fazer isso.
— E como?
— Com uma festa de noivado. — Julian sorriu, a ideia acendendo um fogo nos seus olhos. — O mundo precisa de mais glamour e menos fraude. Vamos usar o nosso casamento para organizar o evento social da década. Onde Theodore e os seus aliados se sentirão obrigados a comparecer. E onde faremos o nosso próximo ataque.
Seraphina olhou para a sua mão ainda presa na dele. Ele estava a convidá-la para o centro do seu palco de manipulação, onde a linha entre o eu e o nós seria apagada para sempre.
— Um evento de noivado?
— Sim. Um evento tão grandioso que Marcus terá que observá-lo de fora, impotente. E você terá que atuar como a esposa mais feliz do mundo. — Ele soltou a mão dela, e a sua voz regressou ao tom seco de negócios. — Prepare a lista de convidados. A performance deve ser perfeita.