30. Caveira

935 Palavras

A menina, a tal da Mariana; apareceu primeiro como todas as desculpas aparecem: com mão estendida e medo no olho. A mãe devia, a boca não perdoa, a vida é uma fileira de portas sem maçaneta. Eu podia ter ignorado. Talvez devia. Só que no morro eu não posso virar santo, santo morre cedo. Ela trouxe cento e cinquenta reais em nota amassada. Eu joguei de volta. Não paga nem a vergonha de olhar a conta. Ela tremeu, pediu desculpa, falou em catar latinha até sangrar. Eu ouvi. Não por piedade. Eu não acredito em piedade. Eu acredito em acordo. Eu fiz a proposta. Fria, clara, sem margem pra interpretação. Uma noite e a dívida some. Eu não romantizo moeda. E o corpo no morro é moeda desde antes de eu nascer. Quando ela disse que era virgem, eu vi uma coisa rara. O raro sempre vale mais. Mas não

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