Os dias seguintes passaram como se o tempo tivesse amolecido, derretido entre um gesto mecânico e outro. A casa cheirava a sabonete de bebê e amaciante, e pela primeira vez, o barraco inteiro parecia impregnado de algo doce. Mesmo que por fora tudo continuasse igual, a rua suja, o som dos tiros distantes de madrugada, a mãe sumida, o chão descascado, por dentro havia um espaço novo, preenchido com roupinhas minúsculas, mantas macias e fraldas cuidadosamente dobradas. Eu lavava tudo à mão, uma peça de cada vez, sentada num banquinho baixo na área dos fundos. Era o único canto da casa que pegava sol direto, e eu aproveitava pra estender os macacõezinhos e bodies nos varais feito com fios. Água morna, sabão neutro, enxágue com carinho. Depois estendia cada peça com cuidado, ajeitando os preg

