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Ela e os Dois

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Sinopse

Aos 15 anos, a brasileira Michelle Esteves viveu um romance tórrido com Adam Nicolas, jovem francês, filho de diplomata. Quando ele a abandonou e voltou para França, ela quase desistiu de viver. Salva e protegida pelo melhor amigo de ambos, Pierre Leverne, conseguiu retomar a sua vida. Vinte anos depois, Michelle está diante da porta da casa de Adam e Pierre, em Paris, e traz consigo a filha que teve com um e a vontade de vingar-se do outro. Mas assim como o d***o, o amor possui inúmeros disfarces.

Uma história de amor a três.

Uma mulher e dois escritores, dois amores.

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Capítulo 1
Adam Nicolas bocejou antes de pôr os pés nus sobre o tapete rústico ao lado da cama com dossel. Coçou a cabeça, o cavanhaque castanho quase loiro e, em seguida, o pescoço. Enumerou mentalmente as tarefas da manhã e bocejou, antecipadamente, entediado: mergulhar na piscina, desligar os celulares, bolar um plano para fugir de Dominique e escrever o maldito terceiro capítulo do maldito quinto livro da saga Zumbis Detonando. Desligava os celulares a fim de evitar a sua editora, que o pressionava a entregar as primeiras 100 páginas da obra que ainda nem chegava a 20. Após o sucesso do seu primeiro livro e a venda dos direitos da saga para um estúdio de Hollywood, Adam fechara-se em concha. Desanimado com a facilidade de fazer dinheiro com algo que estava muito longe de representar a arte escrita. Decepcionado com a facilidade que ele próprio tinha em escrever bobagens lucrativas e a dificuldade em elaborar a sua “grande obra literária existencialista”. Cigarro, cerveja e futebol ajudavam-no a não se desesperar de todo. Ser conhecido como o Mestre dos Zumbis não era nada intelectual, verdadeiramente não podia posar como um Flaubert, mas o mundo também precisava dos Adam Nicolas; caso contrário, o mundo seria um lugar muito mais chato de se viver. A bem da verdade, ele sabia que Zumbis Detonando era tão descartável quanto um fósforo riscado, mas, bem ou m*l, pagara parte da construção de sua mansão num bairro charmoso de Paris, além do bangalô em Malibu, onde passava as férias. Ele gostava de dinheiro. Gastava muito e precisava repô-lo. Às vezes, ressentia-se em não ser um artista mais profundo e espiritualizado. Nesses momentos, cada vez mais raros, inventava uma nova dieta alimentar e a seguia como uma religião perfeita e sem contradição. Tentava não ser fútil, procurava desesperadamente manter-se sensível à vida ao redor de si, porém era um escritor e, como tal, irremediavelmente egoísta e com síndrome de Deus. Na academia particular, próximo à casa de hóspedes, subiu na esteira e iniciou a simulação de uma longa caminhada. Poucas horas depois, o suor tomava-lhe o corpo inteiro e o cabelo loiro, anelado e farto, mantido curto e bagunçado. Uma nódoa disforme à altura do tórax e debaixo das axilas. Trinta e cinco graus antes das dez da manhã. Paris fervia naquele verão incomum. Pulou do aparelho jovialmente, abriu o frigobar e serviu-se de uma garrafa de isotônico. Tirou a roupa e pulou na água azul e deliciosamente fria da piscina. Mergulhou fundo até tocar nos ladrilhos coloridos, atravessou-a por toda a extensão, as braçadas lentas e preguiçosas, o tronco e as pernas estirando-se ao máximo. Parou num átimo ao perceber uma presença a acompanhar-lhe no mergulho. Voltou a cabeça e metade do corpo a tempo de ver somente um longo cabelo preto flutuando. Tal visão mesmo que fugaz o fez perder o fôlego, expelindo todo o ar dos pulmões. Emergiu rapidamente em busca de oxigênio. Quando atingiu a superfície, respirava com rapidez, os olhos arregalados procuravam a dona do cabelo pela água azul clorada. Procuravam por quem, se não havia ninguém com ele? Ninguém na piscina. Ninguém na sua vida, a não ser os zumbis. Chocado pela intensa angústia que se seguiu após – o que verdadeiramente havia acontecido, uma ilusão óptica – levou a mão acima da boca verificando que o nariz sangrava. Por um momento pensou que a saudade havia passado e que o tempo de fato cicatrizava as feridas. Falácias. A dor, quando antiga, enraizava-se no DNA. Para sempre. Temeu perder novamente a sanidade, como nos primeiros dias longe dela, quando cheirou, fumou e injetou todas as loucuras que o dinheiro podia comprar. A mãe, sempre prática, o propôs terapia. O pai vociferou que não o tiraria mais da cadeia, filho seu endireitava-se em casa e não detrás das grades! Então, para escapar dos psicanalistas e dos policiais, começou a escrever histórias de terror, o terror que sentia em ser um fraco, un lâche, um covarde, um homem que pagaria no futuro as merdas feitas no passado. Na extremidade interna da piscina, uma escada principiava os primeiros degraus debaixo da água até alcançar a borda de pedras italianas. Ele subiu os degraus com a mão fechada sobre o nariz na vã tentativa de estancar o sangue, que descia em filetes finos mas abundantes de ambas as narinas. Atravessou o imponente jardim cercado por arbustos verdejantes, flores e cascalhos e entrou na cozinha. Abriu a geladeira e pegou alguns cubos de gelo. Fez uma trouxa com um pano usado por Marguerite – a governanta que estava de férias com o marido, Ronald; os dois de Nova Orleans – e pressionou-o contra o nariz. Ainda nu, subiu ao quarto a fim de vestir uma bermuda e uma camisa surradas. Sentou-se na beirada da poltrona junto ao janelão que divisava a suíte da sacada e deitou a cabeça para trás. Quando o sangue parou de escorrer, acendeu um cigarro e tragou fundo. Suas mãos tremiam. Recostou-se com as pernas abertas e os olhos fixos no teto. E era lá, na alvenaria perolada, que via o cabelo longo, liso e n***o da mulher que quando se pronunciava o nome uma música fazia-o recordar a vida que tinha perdido, que tinha deixado escapar por entre os dedos, o primeiro e grande amor que se dissipava no ar ao não ser tragado fundo para a alma. Não se poupou em se deixar levar pelo devaneio. A imagem de uma menina de 15 anos sorrindo... a pele morena e a dificuldade com a língua francesa...o corpo nu esperando pelo dele... os sonhos compartilhados. Por que aos 19 ele ainda não sabia que tudo aquilo que viviam e sentiam era para sempre? Por que acreditou nos seus pais e na suposta efemeridade dos “namoricos de adolescentes”? Por que, hoje, vinte anos depois, ainda tinha visões da única mulher que verdadeiramente amara na vida e que por ela jamais lutara? Balançou a cabeça dispersando os pensamentos. Detestava sentir-se arrependido e com remorso. O passado deveria manter-se no seu lugar: no passado. Nunca mais voltara ao Brasil e, provavelmente, ela estaria casada e com filhos. Era melhor pensar assim. Precisava de um pouco de sanidade para escrever. Entrou no amplo estúdio onde estava sua escrivaninha de vidro e o notebook sempre ligado e pronto para ser usado, dia e noite. Sentou-se na cadeira em frente ao computador, deu mais uma tragada no cigarro e leu o último parágrafo escrito havia dois dias:   “Jim removeu seu olho cuidadosamente, deixando-o sobre a mesa, antes de ajeitar-se na nova jaqueta diante do espelho. Da mesa, via-se belo e jovem outra vez. Apesar dos vermes.”   Contraiu os lábios com raiva. Que bela m***a havia escrito. E o pior de tudo: seus fãs se mijariam de tanto rir da cena. Com mais raiva ainda, decidiu esmagar o olho de Jim...   “Num gesto de desprezo por si mesmo e por sua fraqueza, Jim esmagou o olho morto, sentindo uma dor morta no peito que não sabia amar direito. Jim merecia morrer de novo. Do outro lado da janela aberta, o xerife de El Paso puxou o gatilho e o projétil estourou os miolos podres do zumbi.”   Relaxou na cadeira após m***r o personagem. Apertou a guimba de cigarro no cinzeiro, passou a mão pelo cabelo ainda molhado e constatou que era capaz de passar o dia escrevendo. Cheio de ideias e vontade. Tinindo de energia. Vivificado. Pensar em Michelle e martirizar-se sempre lhe rendia bons frutos. E como um bom mercenário que era, usava os próprios sentimentos e fracassos para criar mais um Best Seller. Levantou-se duas horas depois, esfregou os olhos e bocejou, espreguiçando-se. Olhou por cima do ombro e verificou a hora, no relógio sobre a estante de aço e vidro, onde descansavam seus quatro livros e os vinte de Pierre; além de alguns dicionários e duas centenas de CDs e DVDs de filmes de terror e suspense e mais outra centena de obras da literatura dos séculos XIX e XX. Voltou-se para o trabalho da manhã e constatou decepcionado que havia escrito apenas dez páginas. Era uma pena Pierre não estar para brincarem sobre tal feito. O amigo dizia que arrebentava uma veia para escrever, um ato tortuoso (e um tanto dramático, pensava Adam) de expor a alma em palavras e que, normalmente, “paria” apenas dois parágrafos por hora. Ao passo que Adam ejaculava-os em minutos. Adam sorria torto, mas aceitava numa boa a provocação do outro, que morava na casa de hóspedes. Pierre contribuíra com o pagamento de metade do valor da mansão e, atualmente, com as despesas mensais da manutenção do lugar, suas provocações e companhia para o futebol. Pierre não jogava, mas trazia Adam bêbado após as partidas acompanhadas, inevitavelmente, de vários engradados de cerveja. Adam, de origem franco-americana, não era nem homem nem escritor sofisticado. Quem tinha classe era Pierre. Quando queria utilizar-se dela. Lembrar-se de cerveja o fez erguer-se da cadeira, largar o livro de lado e descer os trinta degraus até o primeiro andar. Beberia o resto do dia. Isso também o animava. Antes que pusesse o pé esquerdo no piso de mármore da cozinha, ouviu a campainha tocar. Parou e ponderou se deveria atender ou fingir que não havia ninguém em casa. Provavelmente, os portões de entrada estavam abertos... Coisa de Pierre, sair e deixar o r**o! Praguejou, pondo as mãos na cintura e fitando a porta. O máximo que poderia encontrar era Dominique, a agente meio doida, ou o carteiro, o inconveniente. Seus fãs, também meio doidos e inconvenientes, não sabiam o seu endereço francês, apenas em Malibu. Aliás, o seu público basicamente estava todo, dos dez aos oitenta anos, nos Estados Unidos. Por isso era obrigado a viajar constantemente para lá. Merdè!, arou o cabelo já seco num gesto todo seu, destrancou a porta e deparou-se com uma figurinha interessante. Sorriu automaticamente, simpatizando com a menina que aparentava uns doze anos ou pouco mais. Jeans desbotado, camiseta do Ramones, cabelo com dreads loiros, piercing no lábio e no nariz, rostinho de anjo e um sorriso encantador. Com certeza era uma de suas fãs, meninas descoladas e nerds sempre liam seus livros e acompanhavam a saga dos zumbis, os mortos-vivos que também não eram sofisticados. Pelo menos não como outros mortos-vivos, os vampiros. – Bonjour, mademoiselle. – saudou-a, ampliando o sorriso e observando que ela não carregava nem livro seu nem caneta para autografá-lo. Por isso alçou a sobrancelha. Ela o fitou sorrindo, seus olhos brilhavam de admiração, de emoção e quase sem conseguir pronunciar direito as palavras, disse num fôlego só: – Bonjour, monsieur. Je m'appelle Jô, Joana, sua filha, votre fille.

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