No meio da madrugada, Ethan estava terminando de montar uma placa de circuitos em sua garagem.
Ele sentia que faltava alguma coisa pra completar, e então coça o queixo, pensativo, até que ele tem a idéia de adicionar uma última peça, e usando óculos de p******o e solda, ele finaliza a placa, e então tira os óculos e respira fundo.
Ele olha no relógio e já eram quase 3 da manhã, e Ethan pega um frasco de remédio anti depressivo e toma com um pouco de água.
De repente ele ouve seu celular vibrar e o pega, e tinha uma mensagem:
"Ei, tá acordado?" - Evelline.
Ethan sorriu, e respondeu:
"Não conseguiu dormir também?"
Evelline estava digitando, e respondeu:
"Quer dar uma volta?"
"Agora?"
"Tem medo do escuro?"
Ethan riu, e respondeu:
"Onde?"
"Tem uma praça no meio do caminho entre a minha casa e a sua."
Ele pegou uma jaqueta e saiu para encontrar Evelline.
Chegando na praça, Ethan a vê de longe sentada em um balanço, Evelline estava usando um casaco de moletom.
Ethan vai até ela e se senta no balanço do lado.
- Tá difícil pensar, não tá? - disse ele.
- É... não consegui ler uma frase o dia todo. Como você está?
- Mais forte.
- Sério?
- Todas as minhas alergias sumiram, me recuperei de uma bactéria mortal, virei um fanático por amendoim...
Evelline riu.
- É muito estranho, eu consigo fazer coisas que não conseguia antes, e faço até melhor que muita gente.
- Você se sente... poderoso?
- Eu não diria isso. Não sinto aquele poder mais.
- Será que o efeito passou?
- A entidade falou que esse poder vai ser despertado no momento certo.
- Por que ela te deu esses poderes?
- Para ajudar as pessoas.
- Tipo um super herói?
- Eu ainda não sei, tá uma confusão só na minha cabeça.
Eles ficaram um tempo em silêncio, e Ethan perguntou:
- E você? Parece que ficar perto de mim não te incomoda nem um pouco.
- Por que incomodaria?
- Quando saímos do auditório ontem, ninguém nem ousava olhar pra mim.
- Estavam assustados, só isso.
- Todos menos você.
- Eu sei lidar bem com situações esquisitas e com muita pressão.
- Imagino que não era isso que você estava procurando quando veio pra cá, não é?
Evelline sorri, e com um olhar sonhador, ela conta:
- Eu vivi aqui por um tempo, quando minha avó ainda era viva. Depois que ela morreu, eu e minha mãe mudamos pra Ohio, alguns anos depois voltamos pra Downtown e aqui estou de novo. Mas só por 1 ano.
- Para uma Californiana, você é bem Peregrina.
- Disso eu não discordo. Mas e você, é daqui mesmo?
- Nascido e criado. Minha vida era totalmente diferente, minha família era muito rica, mas então meu pai gastou boa parte do que tínhamos e ele morreu logo depois.
- Sinto muito. Do que ele morreu?
- Eu nunca soube ao certo as circunstâncias da morte dele, só sei que ele foi assassinado depois de concluir o último grande trabalho da vida dele.
- O'Que ele fazia?
- Ele era o cientista mais curioso e o engenheiro mais ousado que o mundo já viu, chamavam ele de gênio.
- Espera... quem é seu pai?
- Henry Stevens.
Evelline ficou boquiaberta.
- Você é filho do Henry Stevens? O Henry Stevens? O Inventor?
- Esse aí mesmo.
- Cara! Você deveria ser uma celebridade. Seu pai foi simplesmente o maior nome da indústria tecnológica do século passado.
- Essa é uma das vantagens de morar em Pilgrim, só existe a meritocracia. Não importa quem seus pais ou alguém próximo a você foi, você só vai ser lembrado por aquilo que você mesmo fez de bom. Acho que isso é o que mais amo nessa cidade. - Ethan suspirou.
- Então você gosta do anonimato?
- A vida de famoso deve ser complicada, ou eu que sou muito tímido mesmo.
- Bom, de qualquer forma, lamento pelo seu pai.
- Eu também. Ele costumava falar que todo Stevens nasce destinado a ser um gênio, o que eu acho um exagero, um exagero que ele levou tão a sério e acabou tirando a vida dele. Com o tempo ele não tinha espaço pra mais nada na vida dele além do trabalho, nem mesmo pra família. Foi essa obsessão louca que matou ele.
- Sinto muito.
Ele olha pra ela sorrindo.
- São águas passadas. Então... você veio pra cá sozinha?
- Não, minha tia Lacy mora aqui, ela me ajuda.
- Ela não vai ligar se você estiver aqui fora falando com um até então desconhecido a essa hora da madrugada?
- Eu sei me cuidar. Além do que, ela está fora de casa também, lá naquela igreja. Ela gosta muito de ler livros, e bom, aquele lugar meio que já virou uma biblioteca pública hoje em dia, não é? - ela apontou para uma igreja no alto de uma colina um pouco distante.
- Ah, entendo. Você poderia estar com ela, mas mesmo assim decidiu ir até a igreja do Pastor Jarbas.
- Minha família era de lá, me sinto nostálgica visitando aquele lugar de novo.
- E nós nunca nos conhecemos antes, que mundo estranho.
- Não é?
Eles riram, então Evelline olhou pro relógio e já eram quase 4 horas da manhã.
- Acho melhor eu tentar dormir um pouco, se não, eu não sei se vou sobreviver amanhã. - disse ela.
- Claro, se quiser eu posso te...
*BOOOOM*
De repente uma explosão assustou a todos na cidade, e uma fumaça enorme podia ser vista de longe, muita poeira desceu e começou a cair pela cidade.
Evelline e Ethan ficaram juntos, eles começaram a correr para casa de Ethan, que era mais próxima.
Por um instante Evelline conseguiu ver a origem da explosão, e viu que a colina da igreja tinha sido completamente evaporada.
- Não... NÃO, NÃO, NÃO! TIA!
Ela tentou correr por uma outra rua, indo em direção a colina, mas Ethan segurou ela e a levou direto pra casa, fugindo da chuva de poeira que tomou conta da cidade toda.