Episódio 3

1637 Palavras
MELISSA POSITIVO Essa é a única palavra que tenho em mente no momento. Aparece como um eco constante, repetindo-se sem me dar trégua. Ainda preciso ir ao médico para confirmar, mas sei que não é um erro. Estou atrasada e nunca atraso. O meu corpo já me deu o sinal e não posso me enganar. Ser mãe sempre foi um dos meus sonhos. Eu imaginava isso como parte de um plano: casar, ter uma vida estável com meu parceiro, construir um lar e, então, nesse contexto, trazer filhos ao mundo. Não assim. Não nestas circunstâncias. Agora vou ter um bebê estando divorciada, com um pai que não é meu ex-marido, mas alguém com quem estive apenas uma vez. Uma única vez que jurei que podia deixar para trás, como um erro passageiro. Ethan. Um homem dedicado ao seu trabalho, um que pode ser perigoso. Alguém que eu nunca pensei que poderia cruzar o meu caminho dessa forma. Como me meti nisso? Uma única vez. Repito isso para mim mesmo para me convencer de que não é minha culpa. Deixei-me levar uma única vez e acabei com uma surpresa que muda todo o meu mundo. Oito anos com o meu marido e nunca levei um susto. Claro, ele sempre foi estrito: preservativo, rotina, pílulas. Tudo calculado. Mas depois do divórcio, parei de tomar os comprimidos e achei que não ia acontecer nada. Meu erro. Apoio a testa nas mãos, tentando assimilar essa notícia que parece maior do que eu. Posso fazer isso sozinha. Isso eu tenho claro. Não preciso do Ethan nem de ninguém para criar o meu filho, mas também sei que ele precisa saber. Não sei se me dá mais medo que ele não queira saber do bebê ou que queira assumir a responsabilidade. — Você está se sentindo m8al? Levanto a cabeça e me deparo com minha chefe, Margareth. O seu olhar atento me estuda como se pudesse ler os meus pensamentos. — Não, só lidando com algumas coisas. Respondo com um sorriso que m*al se sustenta. — Você parece pálida. Ela diz enquanto deixa algumas pastas sobre a minha mesa. — Eu já vou para casa, você também deveria ir. Pego as pastas automaticamente. — Preciso que você passe estes rascunhos a limpo, os imprima e me devolva. Você pode fazer isso amanhã. — Não posso fazer isso agora... Digo, sentindo-me presa entre a minha obrigação e o meu caos interno. — Melissa. Ela coloca as mãos sobre a pasta fechada e me olha com seriedade. — Você trabalha comigo há seis anos. Considero você alguém de confiança, até mais que isso. Preciso que você esteja cem por cento. As palavras me escapam antes de eu pensá-las. — Receio que o meu m*al-estar piore nos próximos meses. Abro os olhos tarde demais, mordo o lábio inferior e me arrependo imediatamente. Não devia ter dito nada. Ninguém precisa saber disso ainda. Nem eu processei isso totalmente. — O que você quer dizer? Ela pergunta suavemente. Desvio o olhar e pego a minha bolsa. Tento cortar a conversa. — Não me dê ouvidos, Margareth. — Você está grávida? A pergunta me atinge como um balde de água fria. Viro-me com tanta força que derrubo as canetas no chão. Agacho-me imediatamente para pegá-los, xi*ngando mentalmente. Não consigo nem mesmo xi*ngar em voz alta, porque a situação me desarma. Quando me levanto, ela ainda está lá. Não insiste, mas também não tira os olhos de mim. Ela espera uma resposta. Sei que poderia mentir, inventar algo, mas não consigo. — Tenho que confirmar com o médico. Digo finalmente. — Diga-me que o cretino do seu ex não é o pai. Ela responde rapidamente. Um sorriso me escapa. Ela nunca suportou o meu ex-marido, embora nunca tenha dito isso diretamente. Notava-se nos gestos, nos silêncios desconfortáveis cada vez que eu mencionava ele. — Não. É de alguém com quem estive apenas uma vez, por despeito. Ela apoia a mão no meu braço e sorri para mim com suavidade. — Não é o fim do mundo, Melissa. Há opções. — Só há uma para mim: ter o bebê. Isso eu não tenho dúvidas. Margareth assente lentamente. — Então conte para o pai do bebê. Acredite em mim, pode surpreendê-la. Eu estou saindo com um homem que tem uma filha adolescente com outra mulher, e eles se dão bem entre si pela menina. Talvez a sua situação não seja tão terrível. O seu otimismo me tira um pouco o fôlego. — Obrigada, Margareth. — Vá para casa e me avise se precisar de algo. Quando chegar a hora da sua licença, espero que você me ajude a encontrar alguém temporária para cobri-la. Sorrio. — Não vou te deixar na mão. Saímos juntas da empresa, embora logo tomássemos caminhos diferentes. Assim que entro no meu carro, a solidão me esmaga de novo. O silêncio é muito forte, então ligo o motor e, antes de me arrepender, marco uma consulta médica. Depois, acho o número da Vic. — Olá. Responde uma vozinha que reconheço imediatamente. — Olá, Henry. A sua mãe te deixou atender o telefone? — Sim, porque ele está trocando a fralda da Hope. Mamãe, é a tia Mel! Ele diz, e ouço ao fundo o choro do bebê. Sorrio sem querer. Aquele menino sempre consegue me fazer sorrir. Ouço como ele fala atrás da mãe e sinto um nó na garganta. Cada risada da criança me lembra que estou prestes a tomar decisões que mudarão a minha vida. — Tia, a mamãe disse que se você pode esperar ou que ela te liga depois. Ah, ela já está livre! Ouço-o gabar-se de que cuidará de Hope para que a mãe dele fale comigo. Henry é um encanto, e fico feliz que Vic e Tony o tenham adotado. A história dele sempre me parte o coração: um pai morto, uma mãe na prisão... e ele tão pequeno no meio de tudo. Agora ele tem uma família que o ama. — Mel, desculpa a espera. Diz Vic do outro lado. — Hope é tranquila, mas odeia que troquem a fralda dela. — Não tem problema. Gostei de ouvir o Henry. — Ele é um grande irmão. Hope adora ele mais que tudo. Sento-me mesmo que ela não me veja. Quando conheci Hope, o meu desejo de ser mãe acendeu mais forte do que nunca. Vi-me carregando o meu próprio bebê, embora não pensasse que seria tão cedo nem desta forma. — Vic, preciso de apoio moral. Sei que você está ocupada, mas a Ella está viajando e... — Mel, conte comigo para o que precisar. Bom, menos para esconder um cadáver, a menos que seja o do seu ex. Ela responde, fazendo-me rir pela primeira vez em horas. — Nada ilegal. Só tenho consulta com o ginecologista amanhã porque acho que estou grávida. O silêncio do outro lado é imediato. — Grávida? Ethan? Ela pergunta com naturalidade, como se já soubesse. — Por que você acha que é do Ethan? — Porque sei o que aconteceu no aniversário da minha filha. Tony insinuou algo e Ella confirmou, embora você nunca me tenha contado nada. E, porque você não é daquelas que se deita com qualquer um. Enquanto Vic fala, fecho os olhos e respiro fundo. A sua voz me tranquiliza. No entanto, não consegue acalmar a tempestade de perguntas na minha cabeça. — Sinto muito, não queria falar sobre isso. Quis fingir que não aconteceu. — Não me importo que você não tenha contado. O que importa é como você está agora. Diga-me a que horas é a consulta e eu vou com você, mesmo que tenha que levar as crianças. — Obrigado. De verdade. — Para isso servem as amigas. Você vai contar para o Ethan? — Quando tiver a confirmação do médico e tiver assimilado isso. — Nunca o ouvi falar de filhos próprios, mas ele adora crianças. É o tio favorito da Hope porque brinca com ela como uma criança a mais. Ele não é irresponsável, Mel. Se for o pai, será um bom pai. — Não planejo ficar com ele. — Isso já é problema seu. Mas não o subestime. A ligação termina e me sinto um pouco mais leve. O apoio da minha chefe, somado às palavras da Vic, me dá um mínimo de calma. Mas não posso me enganar. Eu não poderia ficar com Ethan. Não agora. Não depois do que vivi com o meu ex. Não estou preparada para me apaixonar por um homem que passa tantas horas trabalhando, que às vezes não volta para casa à noite e que, com seu trabalho, corre o risco de levar um tiro. O meu ex também estava sempre ocupado, mas, na verdade, estava ocupado com outras mulheres. Não quero repetir essa história. Não quero ficar sozinha com um bebê enquanto ele está fora, mesmo que os motivos dele sejam diferentes. Com certeza, quando Ethan chegar em casa, exausto, não vai querer ouvir o choro de um bebê. Uma coisa é ser o tio divertido que brinca um pouco, e outra muito diferente é ser pai em tempo integral. Sei que não deveria compará-lo com o meu ex, porque eles são diferentes, mas é inevitável. A ferida ainda está lá. Talvez eu devesse ir à terapia. Está claro que preciso curar o que o meu casamento me deixou, mas primeiro preciso confirmar esta gravidez e falar com Ethan. Um relacionamento é a última coisa que me passa pela cabeça. A única coisa que me importa agora é este bebê. ‍​‌‌​​‌‌‌​​‌​‌‌​‌​​​‌​‌‌‌​‌‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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