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977 Palavras
Arthur: Ontem, o dia foi agitado. Tive uma discussão com o terror, que, por sorte, minha pequena não ouviu quase nada e não quis tocar no assunto. Eu comentei com minha vó e ela só negava com a cabeça, mas não falou muito. Acordei cedo hoje porque minha pequena tem a terapia dela cedo. Hoje eu levo ela para o asfalto, a gente vai de Uber. Eu ainda não consegui ter meu carro, mas estou trabalhando por essa meta. Sempre conquistando minhas coisas no tempo que Deus decidir, não pisando nem tendo alguém para me dar, e essa é a raiva do terror. Hoje preparei iogurte com cereais, deixei gelar na geladeira. Bem, eu percebo que o gelado ela consegue aceitar, mas que o quente vou subindo as escadas e já sinto ela xingar. Acho engraçado porque ela fala palavrão e ela mesma se fala que fica feito. Ela está lutando com uma calça legging que custa a subir. -Bom dia, minha vida! Falo indo ao encontro. -Juju: Oi, me ajuda -Ajudo sim, que aconteseu?. -Juju: Ela não quer subir, acho que apequeno. Eu creio que é você a que não tem paciência. Falo perto do ouvido dela, com a voz calma. Pego a calça com minhas mãos e começo a fazer leves puxões, movendo um pouco o tecido. Assim, consigo que ele se deslice sem problemas e fique bem no corpo. Olho fixo para os olhos dela e dou um sorriso, falando "Deu." -Juju: Obrigado, ajuda a colocar a blusa? Eu respiro fundo. Ela fica só de sutiã branco, um sutiã comportado, nada ousado, simples e delicado, que em teoria não chamaria atenção, mas em mim desperta sempre algo que não sei decifrar. Coloco a blusa florida e sorrio enquanto a acomodo. Pego o pente e começo a pentear os longos cabelos. Ela fica quietinha enquanto eu estou penteando. De vez em quando, dou uma cheirada nele. Cheira tão bom! Separei ele em três partes iguais e começo a fazer uma trança simples, discreta, mas que nela fica linda. Termino de fazer e coloco uma gominha para não desmanchar. Pronto, falo, virando ela para mim, e ela me Regala um sorriso que me deixe satisfeito. Vem cá, senta na cama, vou colocar teu tênis. Falo já pegando os tênis e as meias. Ela mexe os dedinhos, essa mania, ela tem desde miúda, e eu sorrio... -Juju: Quantos dedos tem a Juju? Não sei, Juju, vou contar. Eu falo dando um beijinho em cada dedo do pé dela. Quando termino no décimo dedo, sorrio e olho pra ela: você tem dez dedinhos... -Juju: Tu ainda faz isso? A vovó diz que já estou grande pra essas coisas. Pra mim, tu não tá grande não, e eu vou dar todos os beijos do mundo para teus dedos. Falo terminando de colocar o tênis. Está pronta? Vamos tomar iogurte e não bota cara f**a, falo já puxando ela pelo braço. -Juju: E iogurte sem gosto, né? Sim, o que tu gosta, vamos descer a escada pé por pé. Minha avó foi fazer uma faxina hoje, só eu e a Juju estamos em casa. Sento ela na cadeira e empurro pra mesa que fica aqui. Ela apoia os cotovelos na mesa e levanta as mãos pra cara, tampando os olhos. Eu vou até a geladeira, saco o iogurte e o cereais que já amoleceu. Olha aqui, come! Falo, entregando pra ela. Eu me sirvo um café que minha avó deixou passado. Vamos, Juju, hoje temos o tempo justo, falo, mais rápido do que eu queria. Ela me olha e pega a colher, mexe um pouco, cheira e pega uma pequena porção, leva até a boca e faz cara f**a. Eu fico só olhando com a testa franzida. Júlia, se tu não.. Foi uma luta, pra ela comer um pouco menos da metade e nem é muito. Tem dias que eu tenho menos paciência que outros, mas eu tento ter muita com ela. Agora estamos quase correndo; o Uber já chegou lá embaixo e a gente saiu atrasado. Sempre é a mesma pesoa, faz anos que vamos às terapias e ele nos leva sempre. Bom dia, senhor Jenaro. -Jenaro: Bom dia, Tutu e Juju. Essa cara? -Juju: Ele tá bravo hoje e me fez correr... Eu n**o com a cabeça, já subindo, e vamos conversando um pouco sobre vários assuntos. Chegamos, pagamos a corrida e fomos indo. Entramos e Juju conhece todos aqui; cumprimentam ela. Hoje, ela tem fonoaudióloga. A gente espera ser chamado e ela entra. Quarenta e cinco minutos depois, ela estava sorrindo e rindo Fazendo tchau com a mão para o doutora peguei ela pela mão para sair do local. -Juju: Podemos comprar um livro de colorir? -Aqui perto tem uma papelaria, podemos sim, tem lápis de cor? -Juju: Não tenho que comprar também, ela fala pensando, caminhando. No automático, eu olho para ela e pergunto Que foi? Tá longe? -Juju: Tô pensando só... Em que não quer me contar? -Juju: Meninas, mulheres como eu nunca beijam na boca, não? Aquilo me pegou como um chute na boca do estômago,o cora era a batida,que era essa pergunta e o mais importante, por quê? Por que tu tá falando isso? -Juju: Eu vi uma mulher e um homem se beijando e... E bateu a curiosidade? Sim... ela falou simples, assentindo com a cabeça, e eu fiquei meio sem saber o que falar. Chegando à papelaria, ela escolheu um livro de mandalas para colorir, uma caixa de cores, um apontador e um estojo lilás com bolinhas brancas. Ela saiu feliz com sua sacolinha. Voltamos para o morro em silêncio. Na barreira, estava o terror e o sub. O panqueca nem olhei hoje, e minha folga não estou devendo. Eu vi de canto de olho que olho com cara de desprezo, mas é aquilo: tô nem aí. Vamos subindo para casa..
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