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2765 Palavras
Simone Borbolini — Não deu certo — digo me deixando cair no sofá da sala de visitas da Flávia. A mulher me olhou com olhos agigantados e de boca aberta. — O lance da barata não deu certo? Alguma coisa você fez de errado, Simone. Só pode. — Ela acusa me apontando seu maldito dedo. — Eu não fiz nada de errado — rebato frustrada. — Fiz tudo exatamente como você me mandou. Fiquei completamente nua dentro daquele banheiro e encenei a minha melhor cena de desespero. — E ele não te olhou? Ele é gay — acusa deliberadamente. — Ele não é gay! — Rio do seu comentário descabido. — Como você sabe? Um homão daqueles, sozinho em um apartamento com uma mulher linda e loira e trancado dentro de um minúsculo banheiro com ela, completamente nua e o cara não fez nada? Não tirou nenhuma lasquinha se quer? Só pode ser gay. — Volta a acusar. Meu sorriso se amplia. — Petrus não é gay, Flávia. Eu sei porque pude sentir a sua dureza contra o meu corpo quando o abracei. — Solto de uma vez. Acredita que os olhos da mulher cresceram ainda mais? Mais um pouquinho e eles pulam da caixa craniana. Flávia corre para o sofá e se acomoda ao meu lado, colocando uma das pernas debaixo do seu corpo e fica de frente para mim. — Me conta isso direito, Simone. Não ouse me esconder nenhum fato — pede autoritária, mas de um jeito divertido. — Bom, o lance da barata foi só isso mesmo. A não ser o fato de quando saiu do meu banheiro e a sua toalha caiu. — Paro de falar quando a Flávia me olha ameaçadora, me apontando aquele dedo acusador outra vez. — A toalha daquele Deus grego caiu bem na sua frente e você escondeu isso de mim? — rosna com tom de mágoa. — Eu não escondi... eu... estou contando agora — gaguejei segurando uma bela gargalhada da cara impagável da criatura. — Simone Borbolini, você é uma pessoa intratante. Está escondendo o jogo da única pessoa que pode te ajudar no universo inteiro. Viu como eu juntei Agnes e o Adonis? Pus o homem para morar na mesma casa que ela, estou repetindo o jogo com você, mas aí você me trata assim — diz de forma dramática. Chego a rir por dentro. — Acabou com o drama? Posso continuar? — peço ainda segurando o riso. Ela abre o sorriso mais largo que eu já vi na vida e faz um sim com a cabeça. Às vezes eu me pergunto se essa peste é bipolar? — Pode não, deve. Você parou quando a toalha caiu e eu tenho uma enorme curiosidade sobre isso. — Semicerro os olhos. — Que tipo de curiosidade? — questiono. — A curiosidade é minha, Simone. Agora continua na parte que a toalha caiu, por favor! — pede. Na verdade, ela ordena. Solto uma respiração audível e continuo. — Ok, a toalha caiu e eu vi o seu corpo lindo e moreno todinho, por completo e ele é tão... — Sim, sim. — Tão...                              — Sim, sim. — Tão fabuloso! — digo com um suspiro alto, me jogando para trás no sofá. Agora é a Flávia que me olha com olhos miúdos. — Fabuloso, só isso? Não tem uma descrição mais detalhada do? — Ela faz alguns gestos com as mãos. — Do que vocês estão falando, meninas? — Oliver-deus-grego-metido me salvou bem na hora. A Flávia bufou baixinho e abriu um sorriso para o marido. Ela se levantou do sofá e o abraçou, depositando um beijo rápido em sua boca. — Coisas de meninas, amor. Onde está a Nathalia? — A danada sabe como mudar o rumo das coisas. Penso — Ficou na casa do Adonis para brincar com a Carolina. — Ótimo, pode ir tomando um banho que eu vou preparar o seu jantar em alguns minutos. — Ela diz empurrando o homem em direção a um corredor pequeno. Eu me ajeito no sofá para assistir a cena hilária desses dois. — Mas você não cozinha amor, lembra? — Não cozinho? — Ela indaga atordoada e eu pressiono os lábios para não rir. — Não, você é péssima na cozinha! — Oliver Borbolini, eu até ia fazer uma surpresa para você, mas depois dessa, acho que vou te pôr de castigo. — Flávia rosna irritada. — O que, de castigo? Mas o que foi que eu fiz? — indaga exasperado olhando da esposa para mim. Dou de ombro. — É o que você não fez, Oliver. — Amorzinho, me perdoe! Eu esqueci de trazer algo que me pediu? — Não. — Droga, é o nosso aniversário de casamento e eu esqueci de comprar o seu presente? — Nosso aniversário de casamento ainda é daqui a cinco meses Oliver, pelo amor de Deus! — Ele lhe lança um olhar perdido e começa a respirar ofegante. — Então eu não sei o que foi que eu fiz — rebate impaciente. — Você disse que eu sou péssima cozinheira. — Mas, você é. — Ele persiste. Flávia dá um passo firme em sua direção, com seus olhos de gata se preparando para seu ataque e eu vejo o meu primo, aquele homenzarrão engolir em seco e dar um passo vacilante para trás. — Você é tão bonitinho, mas é tão tolinho. — Flávia cantarola. — Ok, Oliver, última chance. Um banho e cama para nós dois ou fica aqui falando asneiras e castigo você por uma semana. — Ela rebate cruzando os braços e batendo a ponta do pé no chão. O olhar assustado do Oliver dá lugar a um olhar safado e seu rosto sério logo escancara um sorriso largo. — A primeira opção sempre é a melhor. — Ele diz animado. — Eu também acho. — Ela diz sorridente, eles se beijam, se amassam, se pegam e eu acho que está na hora de ir para casa. Me levanto devagarinho do sofá, pego a minha bolsa que está largada na mesinha de centro e me dirijo silenciosa para a porta de saída, mas não dou nem três passos. — Parada aí mocinha! A gente ainda não terminou aquela conversa e você, pare de me seduzir e vai tomar um banho agora. — Flávia diz interrompendo o seu momento safado. Oliver a puxa para mais um beijo rápido e corre corredor adentro e eu volto para o meu cantinho no sofá, largando a bolsa sobre a mesinha de centro outra vez. Ok, ter que relatar cada acontecimento com o Petrus nesses dias para Flávia não foi nada fácil. Tipo, subiu um fogo só de lembrar daquele homem completamente pelado dentro daquele banheiro e tão perto de mim. Uma pena que ele se cobriu rápido demais e praticamente colocando os bofes para fora, ele saiu imediatamente do meu quarto. Confesso que eu quase chorei de desespero, mas fazer o que, né? — Eu tenho uma solução que é bem prática, mas se você fizer tudo direitinho, ele não vai ter como escapar. — Flávia diz me despertando. Encontro os seus olhos travessos e fico impactada com a cabeça malévola dessa mulher. Minutos depois eu saio do apartamento da minha mais nova amiga, tentada a pôr o novo plano em prática e que Deus me ajude! São três e meia da madrugada e ainda está tudo escuro lá fora. Acordei assustada porque tive um p**a pesadelo. Sonhei com o Adam tentando matar o Adonis, mas quem levava o tiro era o Petrus. Automaticamente pulei para fora da minha cama, corri para a porta do seu quarto e fiquei ali, bem quietinha o olhando dormir e em algum momento, sem que eu percebesse uma lágrima começou a rolar por meu rosto. Eu a capturei com as costas da minha mão. Pela primeira vez na vida tive medo. Medo de perdê-lo de vez, de que morresse de verdade, de não poder mais vê-lo. Se isso acontecesse, o meu mundo acabaria junto com ele, porque eu não sei se notaram, mas ultimamente tudo em minha vida gira ao seu redor. Não sei o que deu em mim, mas em algum momento me peguei andando silenciosamente em direção da sua cama e com muito cuidado, eu me sentei na beirada do colchão e o olhei ali adormecido. Deus como pode ser tão lindo, tão perfeito? Os cílios negros e longos emolduram as pálpebras morenas, a boca carnuda abre uma pequena f***a, por onde passar o ar tranquilo e calmo e os cabelos negros e bagunçados, estão desordenados em sua testa. Não resisti a tentação e comecei a tirar alguns fios negros de lá, os ajeitando em seus devidos lugares. Mas levei um tremendo susto quando senti a sua mão segurar firme o meu pulso e eu prendi a respiração, olhando os olhos negros e selvagens me encarando na penumbra do quarto. — O que está fazendo aqui, Simone? — pergunta com uma certa rispidez, embora sua voz esteja rouca e arrastada, por conta do sono prolongado da noite. Engulo em seco e começo a balbuciar algo que não sai. Por mais que eu me esforce, a minha mente não consegue formular nenhuma frase coerente no momento. Ele se senta na cama e o lençol que o cobria cai para a sua cintura, mostrando o peitoral e o abdômen bem esculpidos. — Me deixe adivinhar? A barata apareceu outra vez no seu quarto? Ou a sua cama dessa vez está molhada? O que está acontecendo, Simone, de verdade? Você nunca foi de tramar situações, sempre foi uma garota pé no chão e agora cada vez que eu entro nesse apartamento tem sempre uma surpresa me aguardando — sussurra entre dentes. Não é um tom ríspido e nem está sendo grosso comigo. Mas percebo que essa brincadeira está tendo uma reação contrária do que eu realmente esperava. Petrus não gosta de joguinhos e isso está bem claro aqui. E ele me conhece tão bem, que ficou claro até demais que tudo não passou de armações. Droga, onde eu estava com a cabeça quando me meti nas ideias malucas da Flávia? Elas podem ter dado certo para o Adonis e a Agnes, mas não comigo e o Petrus. Penso decepcionada. — Me desculpe, é que eu tive um sonho r**m. — Resolvo falar a verdade dessa vez. — Ah, então você teve um pesadelo e resolveu correr para a minha cama? — Agora o seu tom é seco. Seco até demais para mim. — Sonhei que o Adam matava você — sussurro. Ele arqueia as sobrancelhas e me encara calado por algum tempo. Então solta uma respiração audível, porém baixa. — Vem cá. — pede e eu me deixo envolver em seus braços. Sinto-o beijar os meus cabelos e fecho os meus olhos apreciando o seu contato, o seu perfume e o seu calor. Deus, porque ele não consegue ver que o amo? Que eu sou louca por ele?                                                 Por impulso ergo a minha cabeça e os meus olhos encontram a sua boca. Sua respiração bate quente e suave em meu rosto, então ergo o meu olhar e encontro o seu. Petrus me olha diferente dessa vez, mas eu nem sei dizer o que os seus olhos querem me dizer. Eu só os sinto que estão diferentes. Impetuosa e sem tirar os olhos dos seus, me aproximo um pouco mais... e mais... e mais, até sentir a maciez da sua boca na minha. Em seguida sinto o seu aperto na minha cintura e recebo isso como um sinal para seguir em frente. Fecho os meus olhos e o beijo levemente. Macios, quentes e ávidos. Sim, Petrus domina o nosso beijo com uma avidez surpreendente. Uma mão minha aperta o seu ombro e a outra massageia a sua nuca e acaricia os fios que a emolduram. A sua língua invade a minha boca e o meu mundo inteiro se derrete aos seus pés e com um movimento rápido demais, Petrus me deita no colchão e o seu corpo grande paira sobre o meu. O puxo mais para mim, sentindo a sua pélvis roçar dura sobre a minha, provocando um atrito gostoso, maravilhoso. É possível sentir o quão ele está e******o por mim. Me sinto aquecer sobremaneira e o meu ar fica preso lá dentro. Então solto um gemido baixinho em sua boca e Petrus para tudo tão rápido quanto começou e me encara ofegante e com extremo espanto. Sua boca entreaberta solta uma respiração pesada e ofegante e o por incrível que pareça, os cabelos estão ainda mais bagunçados, mas o seu olhar parece... Irritado? Comigo? — Sai do meu quarto, Simone! — Ele pede áspero, parece assustado. Mas com o quê? Ainda ofegante e cheia de desejos, me sento em sua cama e ele se afasta, me dando as costas. — O que... porque quer que eu vá? — pergunto completamente frustrada. — Só... saia daqui, tá bom? — pediu sem me olhar. Irritada, eu saio da cama e encaro as costas largas. Ele ainda está ofegante. — Eu não entendo, Petrus. Estava tudo tão perfeito, tão gostoso. Eu senti que você me queria, então porque essa maldita luta? — O confronto com um tom baixo demais. Queria que ele falasse comigo, que se abrisse. Petrus se vira de frente para mim, mas aquele par de olhos irritados de segundos atrás, agora me encaram demonstrando um misto de sentimentos que eu m*l consigo decifrar, mas um deles eu reconheço muito bem... Pena. Ele está com pena de mim. — Eu só não posso, ok? Agora vai embora — pede. Sem dizer mais nada eu apenas o olho por um curto espaço de tempo e saio do seu quarto e é claro que as lágrimas tinham que romper logo agora. Ao entrar em meu quarto eu me joguei em minha cama e chorei em silêncio, sabe Deus por quanto tempo. No dia seguinte saí bem cedo de casa, pois não queria ter que vê-lo. Não depois do que houve na noite passada. Cheguei bem cedo a delegacia e comecei a arrumar a minha gaveta de arquivos. Detalhe, a gaveta está sempre arrumada e isso tudo é uma grande merda. — Café? — Nicolas, nosso detetive particular perguntou segurando dois copos gigantes em suas mãos. Ele expõe um belo sorriso másculo. Fecho a gaveta e caminho em direção a minha mesa, ficando de frente para o meu amigo de trabalho. — Claro — digo forçando um baita sorriso profissional. — Um bem quente e forte, do jeito que você gosta — diz me estendendo um dos copos. Eu o seguro e tomo um gole pequeno, apreciando o sabor levemente adocicado da bebida e sentindo a cafeína me acalmar imediatamente. — Então, o pessoal está pensando em fazer uma despedida de solteiro para Júlia. Vai ser uma surpresa para ela. — Ele diz. Ana Júlia é a nossa sargento. Ela irá se casar em poucos dias e de verdade, eu não estou nem um pouco empolgada para festas agora. — Ah, pois é, eu soube — digo com desdém. — Vai ser em uma boate, Simone. Vai ser divertido. Eu estava pensando. Será que eu posso te pegar em seu apartamento? Se quiser ir comigo, é claro. — Nicolas parece empolgado e isso me parece uma insinuação para um encontro. Mordo o lábio tentada a dizer sim. — Eu não vou poder ir, Nick — falo abrindo uma das gavetas da minha mesa, apenas para ter o que fazer. Então as fecho em seguida e encontro um par de olhos decepcionados me olhando. — Tudo bem, mas se mudar de ideia, sabe onde me encontrar — diz. O homem se afasta e eu fico olhando ele ir cumprimentar alguns amigos de trabalho. Seria tão simples eu e o Nicolas, não é? Ele até que é bem bonitinho. Um moreno alto e bonito, com cabelos curtos, muito curtos e escuros. O corpo alto atlético na farda azul é um t***o. Porque eu não me apaixono por ele? Nicolas parece ser um cara super legal. Ele é atencioso e é bem interessante também. Bufo internamente. Melhor eu ir trabalhar. Acho que já estou divagando demais. Tomo mais um gole do café quente e me sento na cadeira, ligando a tela do computador imediatamente. Uma mensagem da corporação me chama a atenção e ao abri-la a minha pele inteira se arrepia. NOTAS DO AUTOR: Uuuuuuh! Intenso minha cara Simone, porém, você precisa decidir entre o caminho mais fácil e o caminho mais espinhoso. Eu aposto que Petrus vale muito a pena.
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