Pré-visualização gratuita Prólogo:
Alguns anos atrás.
Faltam apenas alguns minutos para o meu casamento. Meu coração bate descompassado e minhas mãos estão suadas. Amo a Brenda de uma forma que chega a ser dolorosa. Ela é a mulher da minha vida, a única que desejo ter ao meu lado para sempre.
Acabo de ajustar a gravata, respirando fundo na tentativa de controlar o nervosismo. Meu estômago está em revolta, e minha mente parece correr acelerada. Hoje é o dia mais crucial da minha existência. Preciso manter a calmo.
Conheci a Brenda na faculdade. Desde o primeiro momento, percebi que ela era a pessoa certa para mim. Seu jeito carinhoso e seu olhar terno me encantaram de um jeito que ninguém mais conseguiu. Não demorou muito para que eu a conquistasse, e um ano depois, ao nos aproximarmos da formatura, fiz o pedido de casamento.
Pode ser que eu tenha sido apressado, como o meu pai sempre insiste. Ele acredita que eu deveria ter esperado mais e conhecido melhor a Brenda antes de tomar uma decisão tão séria. Mas eu não sentia a necessidade de mais tempo. O que sinto por ela é amor.
Depois de arrumar a gravata pela última vez, olho para o meu reflexo no espelho. Estou preparado. No entanto, quando estou quase abrindo a porta, meu pai entra no quarto.
Ele me observa com um olhar hesitante. Então, com seu tom habitual, grave e sério, diz:
Rodolfo — Ainda acredito que você deveria esperar um pouco mais, Maike.
Engulo em seco. Ele nunca escondeu sua animosidade em relação a Brenda.
— Pai, eu sei que o senhor não a aprecia, mas isso não altera a realidade. A partir de hoje, Brenda se tornará minha esposa, parte da nossa família. E não aceitarei que o senhor a trate com hostilidade.
Ele solta um suspiro pesado, e seu semblante reflete memórias e arrependimentos.
Rodolfo — Eu só quero que você seja feliz. Sua voz sai mais branda. — Tanto quanto eu e sua mãe fomos um dia. Se ela estivesse entre nós, teria concordado comigo. Mas a decisão é sua, filho. Só posso aconselhá-lo.
Fecho os olhos por um momento, tentando assimilar suas palavras. Em seguida, dou um passo à frente e o abraço.
Deixamos o quarto lado a lado, enquanto me dirijo ao altar. Uma onda de expectativa invade meu peito. No entanto, antes de alcançar meu destino, percebo um murmúrio apreensivo entre os convidados.
Sinto meus músculos tencionarem. Algo não está certo. Acelero o passo, e meu coração acelera junto. Coloco-me no altar, aguardando a chegada de Brenda.
Contudo, uma inquietação começa a tomar conta de mim. E, naquele instante, sem entender o porquê, um frio gélido percorre minha espinha. Algo me chamou a atenção. O sorriso cínico, desdenhoso e debochado do meu primo Fernando. Ele estava completamente alcoolizado, uma verdadeira bagunça. Suas roupas desgrenhadas, os cabelos despenteados, o olhar perdido...
Fechei os olhos e soltei um longo suspiro, tentando manter a calma. O que diabos ele estava fazendo aqui, nesse estado deplorável? Por que veio ao meu casamento assim?
Mas não era só ele que me incomodava. Algo mais estava errado. A demora da Brenda.
Sei que noivas costumam se atrasar, mas isso já ultrapassou qualquer limite aceitável. Uma angústia começou a crescer dentro de mim, apertando meu peito como um aviso sombrio. Meus pés inquietos me fizeram andar de um lado para o outro, até que parei.
Fernando gargalhou.
O som ecoou pelo salão, carregado de desprezo. Seus olhos penetrantes me encaravam, e, naquele instante, soube que algo estava prestes a desmoronar.
Fernando — Ela não virá, primo.
Minha respiração travou. Meu coração errou uma batida. — Passamos a noite toda trancados em um quarto. Ele riu, sarcástico. — A v***a ainda está dormindo. Bebeu demais para comparecer ao próprio casamento. Ah, não! Espera... eu a droguei.
Minha mente se recusava a processar aquelas palavras. — Ela não ia me fazer de palhaço como tem feito com você todos esses anos. Eu a amo! Mas ela escolheu você... pelo dinheiro. Ele cuspiu as palavras, com uma fúria carregada de ressentimento. — Só que eu não deixaria meu filho ser criado por outro homem que não seja eu.
Meu corpo inteiro tremeu. A raiva começou a consumir cada célula do meu ser.
— Mentira! Minha voz falhou. — Ela... ela jamais faria isso. Não a minha Brenda.
Eduardo — Cala a boca, Fernando! Meu irmão rugiu.
Minha irmã caçula se aproximou e me envolveu em um abraço.
Isabela — Não ligue para ele. Sussurrou. — Ele está bêbado.
Ele riu novamente, debochado.
Fernando — Não me diga que vai bancar o corno conformado, primo... Ou será que ainda está cego?
Ele pegou um controle remoto e apertou um botão. O telão acendeu.
Era ali que deveriam passar os momentos mais felizes da minha vida com Brenda. Nossas fotos juntos, nossos sorrisos, nossas promessas. Mas o que surgiu na tela foi uma facada no peito.
Imagens de Brenda... com Fernando.
Minha visão escureceu. O som ao meu redor sumiu. Minha cabeça latejava.
Minhas mãos se fecharam em punho. Avancei sem pensar e soquei o projetor com toda a força que tinha. O aparelho estraçalhou no chão, junto com tudo o que eu acreditava ser verdade.
Minha respiração estava pesada, ofegante. Meu peito queimava. O que estava acontecendo comigo? Eu ia ter um infarto?
Meu pai explodiu em fúria.
Rodolfo — Tirem esse maldito daqui, agora! Gritou. — Saiam! Saiam todos!
Eu sabia. Eu sabia que ele nunca gostou da Brenda. Eu deveria ter ouvido. Os pais nunca estão errados. — O que ainda veio fazer aqui, sua vagabunda?! Ele cuspiu as palavras, e eu senti o peso delas esmagando o que restava da minha sanidade.
Virei lentamente para a entrada do altar. Lá estava ela. A desgraçada que acabou com a minha vida.
Meus olhos varreram os convidados. Alguns me olhavam com pena, mas outros... outros riam. Riam da minha cara, do meu sofrimento, da minha humilhação.
Brenda — Amor, me escuta. Eu posso explic...
— Cale a sua maldita boca! Explodi.
O choque estampado no rosto dela foi evidente. Eu nunca tinha levantado a voz para Brenda. Mas agora... agora eu não era mais o mesmo homem. — Você não tem o direito de me chamar assim. Cuspi as palavras, carregadas de ódio.
Meus olhos desceram até a barriga dela.
Uma risada sarcástica escapou dos meus lábios. Ela nunca quis ter filhos. Dizia que não estava pronta. Nunca transamos sem proteção. Nunca! Mas agora estava grávida.
E eu sabia que aquele filho não era meu.
Engoli em seco, sentindo um gosto amargo na boca.
— Suma! Foi tudo o que consegui dizer antes de me virar e sair dali.
O picadeiro do circo foi armado.
E eu? Eu era o único palhaço.
E todos estavam rindo da minha cara.
[. . .]
Enquanto isso, em algum lugar...
A escuridão dominava o ambiente. O cheiro de mofo e sujeira impregnava o ar. O choro baixo e sufocado da criança ecoava pelo cômodo apertado.
— Faça essa maldita criança calar a boca! Rosnou o primeiro homem, sua paciência já esgotada.
— Eu não quero mais trabalhar com isso. Resmungou o segundo, nervoso. —Sequestrar crianças é complicado demais. Se ela continuar chorando desse jeito, vai acabar chamando atenção. Vou ter que aplicar um calmante. Se estragarmos a mercadoria, o chefe nos mata.
O terceiro homem, o mais frio de todos, soltou uma risada seca.
— Essa daí já tem dono, se estragarmos a mercadoria, o chefe nos mata.. O comprador a escolheu pessoalmente. Vai ficar conosco até que os ânimos esfriem... e ela completar os 17 anos. Exigência do riquinho, não quer se sujar.
O silêncio caiu sobre o ambiente. Apenas o soluço abafado da menina se fazia presente.
O destino dela já estava traçado. E ninguém viria salvá-la.