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957 Palavras
Liz Finalmente chegou meu horário de almoço. Fecharam a sala, e eu me dirigi ao refeitório dos funcionários. Encontrei a Samanta, que havia chegado recentemente para me substituir quando meu turno terminasse. Liz: Samanta, tudo bem? Samanta: Tudo certo, Liz. Mas tenho uma novidade: o José quer conversar com você. Fiquei surpresa. Liz: Comigo? O José é um dos diretores mais respeitados e temidos aqui. Na verdade, só conversei com ele uma vez, no meu primeiro dia, quando ele me mostrou as instalações. Samanta: Sim, ele mandou avisar que você deve procurá-lo assim que terminar aqui. Senti um frio na barriga. Meu Deus, não posso ficar sem esse emprego. Após o almoço, a ansiedade tomou conta de mim. Dei três batidas na porta da sala do José e entrei somente após ele permitir. José: Boa tarde! — ele disse, concentrado em alguns papéis na mesa. Liz: Boa tarde, Sr. José… a Samanta me disse que… Ele me interrompeu. José: Que eu queria falar com você? Sim. Liz: Pode falar. José: Sente-se. — Ele apontou para a cadeira em frente à mesa. Sentei-me, nervosa, e o observei. — Você está se saindo muito bem aqui. Soltei um suspiro aliviada ao ouvir isso. José: Até melhor do que a Samanta, apesar de ela ter mais experiência e ser mais velha que você. Mas vamos ao assunto. Eu planejava passar esse desafio para ela, mas depois de muito pensar, decidi que você é a pessoa certa para isso. Meu coração disparou. José: Um detento transferido de um presídio de outra cidade chegará em breve. Ele passou um ano em isolamento porque matou um colega de cela por motivos que ninguém conhece. E não é só isso; ele tem um histórico de tráfico, roubos e homicídios. Ele ficou muitos anos encarcerado. Essa semana, ele saiu do isolamento e está sendo transferido para cá. Ele é extremamente calculista e misterioso; ninguém consegue prever suas ações ou seus movimentos. Entendeu? Ele me olhou com intensidade. José: Você terá que investir em seu tratamento. Se precisar, passe dias apenas com ele. Se conseguir desvendar o que está por trás do comportamento dele, poderá até descobrir informações sobre outros traficantes que ele comanda fora da prisão. Preciso que você mexa com o psicológico dele. Se conseguir, será recompensada com uma fortuna e ganhará o título de uma das melhores psicólogas jurídicas do Brasil! Senti um tremor incontrolável. As palavras dele ecoavam na minha mente. José: E tem mais uma coisa: você terá apenas quatro meses para alcançar isso. Se não conseguir, colocaremos a Samanta em seu lugar. Pense bem… Ele me fitou, como se esperasse uma resposta. Se eu conseguisse isso, seria uma das melhores oportunidades da minha vida. Eu precisava tentar, mesmo me sentindo insegura. Liz: Eu quero! Estou dentro. Quando começo? José: É assim que gosto de ouvir — ele respondeu, sorrindo. — Você começa hoje. Como assim hoje?! Eu gostaria de ter mais tempo para estudar, para me preparar melhor. Queria uma estratégia, uma forma de conseguir tudo isso de maneira mais rápida. Mas não discuti com ele; aceitei a proposta e fui em direção à minha sala. Ao entrar, conversei com um dos policiais que estavam de plantão. Ele perguntou se eu queria que três policiais ficassem dentro da sala, já que o detento em questão era extremamente perigoso. Liz: Não posso passar essa mensagem de desconfiança para ele. Como vou deixá-lo tranquilo se estiver cercado de policiais? Comecei a organizar meus papéis, tentando encontrar uma maneira de solucionar essa situação rapidamente. Minha sala ficava de frente para um corredor, e todos os detentos precisavam passar por ali antes de entrar. De repente, notei um movimento intenso no corredor. Um grupo de cerca de dez policiais se aproximava, cercando um único homem. Ele estava algemado, mas mesmo assim, vários policiais seguravam seus braços com firmeza. Ele olhava para o chão, com um semblante fechado. À medida que se aproximava, pude ver seu rosto mais claramente. Ele estava claramente revoltado, com uma expressão que transmitia uma frieza assustadora. Um frio percorreu minha espinha, e eu me arrepiei instantaneamente. Ele parou em frente à porta da sala, e os policiais a abriram para que ele entrasse. Quando entrou, não levantou a cabeça. Nunca vi um olhar tão gélido, tão repleto de ódio. Pela primeira vez, senti medo no trabalho, mesmo cercada de policiais. Sentaram-no na cadeira, e ele continuava olhando para o chão, completamente indiferente. Algemaram seu pé, prendendo-o à cadeira. Após terminarem, os policiais ficaram em pé ao redor dele, em posição de alerta. Liz: Podem se retirar, deixem-nos sozinhos — pedi, tentando transmitir confiança. Eles concordaram e saíram da sala, mas eu realmente gostaria que ficassem, pois a presença deles me fazia sentir mais segura. Assim que as portas se fecharam, o medo tomou conta de mim. Eu não podia mostrar fraqueza; isso seria inaceitável na minha profissão. Abri minha gaveta e peguei a ficha dele, que havia acabado de chegar. Liz: Boa tarde… — disse, tentando quebrar o gelo, mas ele continuou em silêncio, olhando para o chão. Liz: Você é o Raul… Hell: Raul não. — A voz dele era grossa, e eu tremi. Liz: Ah, tudo bem, então, Hell. Você está preso há quanto tempo? Ele permaneceu calado, respirando pesadamente, claramente se irritando sem que eu tivesse feito nada. Liz: Poderia me passar algumas informações sobre você? Quanto tempo você está preso, quais cadeias você já frequentou… O que sente dentro delas? Posso te ajudar. Foi a primeira vez que ele levantou a cabeça e me olhou. Seu olhar era diferente, difícil de decifrar. Hell: Tem tudo isso na minha ficha. Quer que eu diga pra você, pra quê?! — respondeu, com desdém. O desafio estava apenas começando.
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