O Advento Natalino

Emma acordou com o despertador tocando naquela manhã. Ela gemeu por um momento não estava com a menor v*****e de ir para a faculdade, ainda que gostasse de estudar. Esticou o braço e desligou o alarme, voltou a deitar na cama. Virou seus olhos para o teto respirando fundo enquanto procurava criar alguma coragem para poder começar mais um dia. — Em, já acordou? Fiz café! — o pai avisou ao b*******a vez na porta do quarto. — Já vou, pai, obrigado. Ela suspirou. Poderia faltar, não tinha nada de importante. “Nem comece Emma, você tem que ir. Deixe para usar as faltas quando realmente não puder ir.”, ela disse para si mesma. E depois de um curto debate mental, a jovem se levantou e foi direto para o banheiro fazer suas necessidades matinais. Enquanto lavava o rosto no espelho encarava seus grandes olhos verdes, seu cabelo acobreado destacava a pele branca e as sardas em seu rosto. — Tenha coragem Emma, viva o mundo e todas as experiências, não se deixe abalar por nada. — ela dizia para si mesma. Secou o rosto e foi para o quarto. Abriu seu guarda-roupa analisando suas roupas. Ela inclinou a cabeça levemente para o lado considerando como seria o clima ao longo do dia e o que ela estava com v*****e de vestir. Escolheu uma calça jeans forrada com veludo, um suéter com estampa de O Estranho Mundo de j**k e um sobretudo. Era inverno já, então precisava estar bem agasalhada. Trocou de roupa e foi para a penteadeira fazendo uma maquiagem leve, queria apenas esconder a cara de cansaço de quase fim de semestre. Calçou a meia e então a bota. Deixaria a bolsa ali, ainda precisava tomar café da manhã e escovar os dentes. Desceu as escadas e foi direto para a cozinha onde seu pai a cumprimentou entregando uma caneca fumegante de café fresco. — Ah, graças a Deus, era tudo o que eu precisava. — Tenho certeza de que Ele te abençoa, mas o agradecimento pode ser para mim que fiz o café para você. — cutucou o pai. — Obrigado papai, o senhor salvou minha manhã. — ela respondeu rindo. — Agora sim. Está perdoada, pode tomar seu café da manhã. Ele deixou um beijo no topo da cabeça da filha enquanto servia uma fatia de torrada com manteiga para ela e também algumas frutas. — Você vai sair com Anaïs hoje ou vem jantar em casa? Emma considerou por um momento e então deu de ombros. — Não sei, não marcamos nada, mas encontrando com ela na faculdade eu pergunto e te aviso. *** Emma corria para conseguir entrar no vagão do metrô, se não pegasse aquele, iria chegar atrasada no estágio e já estava com a corda na cabeça, os chefes estavam definindo qual dos novos estagiários eles iriam demitir pois estavam com excesso na equipe e ela definitivamente não queria dar motivos para ser mandada embora. Ela apressou ainda mais a corrida e entrou pela a******a que ainda restava das portas que se fechavam e terminaram de fechar as costas dela. Soltou um suspiro de alívio e permaneceu próxima a porta, o vagão estava bem cheio. Aproveitava para checar as mensagens, Anaïs avisava que havia matado a última aula e ido direto para a revista. Emma rolou os olhos e riu, sabia que a amiga só gostava do trabalho por poder falar de livros, se fosse qualquer outro, a não ser Vogue, então Anaïs teria se demitido há muito tempo. Ergueu os olhos do celular e se deparou com Adryan a observando enquanto estava encostado nas portas do outro lado do vagão, exatamente de frente para ela. Emma sorriu para o rapaz, eles trabalhavam juntos na revista, ele era da área de design e ela de jornalismo, vez ou outra precisavam trabalhar juntos. Voltou os olhos para o celular, respondeu algumas mensagens importantes e então trocou o aparelho por um livro, Trono de Vidro, o primeiro volume da coleção. Imersa na leitura só foi despertada algumas estações depois quando ouviu o aviso de sua parada. Ela continuou lendo mesmo quando abriram as portas e junto com várias outras pessoas, a ruiva saia do vagão. Sentiu um braço segurar seu cotovelo e ela olhou para trás, Adryan. — Você estava para enganchar seu salto, achei que uma ajuda seria útil. — ele explicou. Emma olhou para baixo e percebeu que ele tinha razão, o salto estava para ficar enganchado no pequeno vão da plataforma. — Obrigado. — Por nada, Emma, fico feliz em ajudar. Ela sorriu de forma educada e pisou firmemente na plataforma. Adryan soltou o braço, porém continuou ao lado dela, iriam para o mesmo lugar de qualquer forma. Emma guardou o livro e continuou a caminhada, não conhecia muito o rapaz para que mantivesse uma conversa longa. — Está gostando de Trono de Vidro? — ele perguntou. — Sim, a leitura é envolvente e Celaena é uma personagem fácil de se identificar. Além de ter essa aura de mistério envolvendo a história, quero dizer, se você lê A Lâmina da Assassina já entende um pouco melhor esse primeiro livro, mas ainda há tantas coisas a serem explicadas e entendidas que eu simplesmente quero continuar lendo para descobrir. Ele sorriu com o quão animada ela ficava falando e Emma imediatamente corou pedindo desculpas por falar tanto. — Não se desculpe, eu entendo o que quer dizer. Eu já li todos e garanto que até o fim tudo é explicado, mas que em nenhum momento você deixa de ser surpreendida mesmo dentro da cabeça dos personagens. — Livros assim são os melhores. — ela comentou e ele concordou. — Você vai ajudar na festa de Natal da empresa? — Eu não sei, Anaïs é a responsável, eu acho, se ela me chamar eu devo participar sim. — Eu também estou dentre a lista que está ajudando, vai ser legal se você for. Ela meneou a cabeça de forma positiva e sorriu, mas não respondeu. Emma sabia que ele gostava dela, desde que ela havia começado na empresa, ele estava sempre ao redor, era extremamente prestativa e sempre arrumava motivos para vê-la. E ela, bem, não gostava dele daquela forma, m*l considerava ele realmente um amigo. Continuaram a conversar sobre livros e filmes, era um assunto seguro, na opinião dela, ainda que soubesse que ele preferia falar sobre outras coisas, como, por exemplo, se ela já tinha par para a festa de Natal. Adryan realmente gostava de Emma, não só pela aparência, mas pelo cérebro, a personalidade, o modo como ela era sempre gentil com todo mundo. Ele sorria com as falas dela e as piadas, ainda que sem graça. Mas sentia que ela sempre colocava uma barreira quando ele se aproximava demais, não tinha certeza se era por ela não sentir o mesmo ou se ela sentia-se i********e com aproximação, medo de que realmente a conhecessem. Eles seguiram juntos pela rua e então pelo elevador do prédio. Ao chegar no andar dela, Emma se despediu com um aceno e sumiu porta adentro, aquele era o andar da redação, design e marketing ficavam no andar de cima. A ruiva caminhou por entre as mesas e pairou sobre a de Anaïs esperando que a melhor amiga a notasse, o que não demorou muito. Ao fazê-lo, a morena tirou os fones de ouvido e exibiu um sorriso a*******e típico dela. — Que milagre, chegando no horário. — Ei, eu tento ser pontual, não é minha culpa se muitas coisas acontecem e eu acabo me atrasando por conta disso. — retrucou a jovem. — Você vai me ajudar com a festa de Natal, certo? — Errado. — Por que? — Anaïs perguntou fazendo um biquinho. — Um nome: Adryan. — Ainda em cima de você? — Como um cachorrinho e eu fico com dó de dispensá-lo. Ele é tão gentil e realmente quer me conhecer, mas eu não sinto nada. A cara de Emma só podia ser descrita como uma mistura de desespero e dó, ela queria poder gostar de Adryan, mas não gostava e nada mudaria isso, para a tristeza dele provavelmente. Estava prestes a ir para a própria mesa quando Tristan se aproximou delas e imediatamente colocou o braço ao redor dos ombros de Emma. — Ainda com isso da festa de Natal? Essas festas são o maior fiasco, deveriam cancelar. Emma girou o ombro fazendo com que a mão de Tristan saísse de seu ombro. — Você é praticamente o Grinch, Tristan, zero espírito natalino, n******e opinar. — retrucou Emma. — Assim você me magoa, Em. — ele disse dramaticamente e ela riu. — Eu menti? — Justo, mas gostando ou não, se precisarem de ajuda, podem me chamar. Pelo menos eles pagam hora extra para quem ajuda na festa. — Verdade, eu esqueci desse detalhe, tudo bem Ana, coloque meu nome e o dele na lista. — Emma decretou. — Se já acabaram de papear, todos vocês tem muito o que fazer e já vai dar o horário de comecarem. — avisou a supervisora deles. — Em, vamos sair hoje depois do trabalho, avise seu pai. — Pode deixar, Ana. A ruiva saiu correndo para sua mesa e imediatamente ligou o computador e colocou os fones ao chegar. Havia três críticas para revisar e colocar no layout da revista, além de enviar uma lista com propostas de livros para serem escritos para aquele mês. Abriu os documentos no e-mail e passou a corrigir um por um, todos eram livros de poesia, escritos por Tristan. Ela podia achar o rapaz mulherengo e um tanto sem caráter, mas ele sabia avaliar bem livros e tinha uma forte opinião sobre poesia. m*l havia terminado de corrigir o primeiro texto quando recebeu uma mensagem de seu pai. Papai: Ei Em, achei um antigo calendário do advento da nossa família, está meio empoeirado, mas vou limpá-lo se você quiser para você. Emma: Eu aceito, adoro Natal e sempre quis saber como um desses funcionava. Papai: Até amanhã a noite eu coloco no seu quarto, limpo depois da minha aula. Emma: Não seja severo demais com seus alunos, boa aula. Papai: Bom trabalho e prometo tentar, Ela deu uma pequena risada silenciosa e abriu a revista no InDesign para colocar o texto de Tristan ali e formatar. Enquanto fazia pensava sobre o que significava o advento, sabia que era uma espécie de preparação para o Natal, mas nunca havia se aprofundado naquele assunto. Talvez propusesse aquela pauta para a sessão de curiosidades da revista. Mas primeiro tinha que terminar seu trabalho ou a chefia chamaria a atenção. Emma colava o texto na página e passava a ajustar fonte, tamanho, espaçamento. Colocou a imagem da capa do livro em cima da última coluna e a quebrou para que ficasse no estilo do que sempre faziam. Salvou a página para que ficasse no projeto geral e também salvou o arquivo separado e jogou na nuvem, assim ela não perderia mesmo se tudo da revista acabasse excluído por algum erro. Abriu a segunda crítica, mas sua mente ainda viajava para a pauta do calendário de advento. Abriu a conversa com o pai e ficou encarando a imagem, o calendário não parecia muito grande e era feito de madeira, tinha um saquinho ao lado de veludo vermelho, provavelmente seriam coisas para serem colocadas no calendário. — Emma, pare de viajar e faça seu trabalho. — ralhou a editora ao passar pela mesa dela. — Desculpe, é que eu estava pensando que para a nossa sessão de curiosidades poderíamos falar sobre o que é um calendário de advento e como ele funciona. A editora parou por um momento considerando a ideia, era, na verdade, uma ideia muito boa, já que a edição de dezembro sairia na próxima semana. — Se você conseguir fazer até quarta-feira e me mandar, eu corrijo e te envio para os ajustes, a sua pauta entra para a seção de curiosidades, mas primeiro termine seu trabalho. — Pode deixar. Imediatamente ela abriu a crítica e voltou a corrigir, estava animada, provavelmente teria que fazer toda a pesquisa e escrita em casa, mas seria sua primeira matéria assinada na revista, era uma curiosidade, mas era um começo de uma carreira na escrita como sempre quis.