Era uma segunda - feira, eu havia saído para fazer algumas compras, e eu estava caminhando na rua quando avistei uma menina, ela era loirinha e tinha grandes olhos castanhos, devia ter mais ou menos uns 5 ou 6 anos e estava sozinha na rua, pelo menos, não tinha visto ninguém com a garotinha, e ela parecia tão assustada e parecia estar fugindo de algo ou alguém, acho que estava tentando falar com as pessoas, mas ninguém estava dando bola pra ela, talvez por acharem ser uma pedinte, mas como conseguiriam ignorar uma doce garotinha? Era tão pequena e parecia tão indefesa, não conseguia tirar meus olhos daquela pobre criança.
- Oi, você está perdida? - Perguntei à menina, fazendo a dar um leve pulo de susto.
- Tia, tia me ajuda, por favor. - Pediu parecendo um pouco nervosa e assustada.
- O que houve?
- Tem uns tios correndo atrás de mim, querem me machucar. Me ajuda, tia.
- Claro, vem comigo. - Falei.
Peguei a menina pela mão e saímos correndo, entrei com ela em um estacionamento de um shopping e nos escondemos atrás de um carro que estava estacionado.
- Cadê os seus pais? - Perguntei.
- Não sei. - Ela falou tristemente.
- Você se perdeu deles?
Ela apenas deu de ombros e se pôs a olhar para a rua em busca dos tais homens.
- Acho que foram embora. - Falou. - Valeu tia.
- Hey menina, cadê os seus pais? - Insisti.
Ela abaixou a cabeça e algumas lágrimas começaram a rolar pelo seu doce rostinho, o que me deixou um pouco triste pela reação da menina.
- Tia, eu não sei. Preciso ir agora. - Parecia apressada.
- Pra onde? - Questionei.
- Pra rua, ué. - Falou dando de ombros.
Não pude crer que uma menina tão pequena vivesse sozinha nas ruas e estava tão bem vestida, não parecia ser moradora de rua, quer dizer, estava um pouco suja, mas com um lindo vestido da Minnie e uma sandalia. Me deu uma pena daquela garota, não sabia nada dela, nem mesmo o seu nome, mas de uma coisa eu tinha certeza, não podia deixar aquela criança desamparada, eu precisava fazer algo por ela.
- Hey, o que você acha de ir comigo pra minha casa? - Perguntei. - Você pode tomar um banho, comer algo…
- Comer? - Ela perguntou com os olhos brilhando.
- É, você quer? - Dei um leve sorriso amigável.
- Quero sim, tia. Tô com muita fome, não como nada faz tempo.
A menina sorriu e eu retribui o sorriso, porém dei um sorriso triste, como podia uma criança ficar tanto tempo sem comer? Eu m*l conseguia aguentar 2 horas em jejum, e pelo jeito que a criança falou, acho que estava há bem mais tempo sem comer algo. A levei para minha casa e no caminho descobri seu nome e sua idade, ela se chamava Maytê e tinha 5 anos. Era uma garota muito esperta e curiosa, via tudo pela janela do ônibus como se fosse a primeira vez, e volta e meia fazia alguma pergunta, parecia querer saber de tudo um pouco.
''Da onde você saiu, pequena?'' - Pensei enquanto a olhava toda sorridente.
Assim que chegamos em minha casa, Maytê arregalou os olhos parecendo bastante surpresa e então, disse:
- Uau tia, sua casa é enorme.
Não, minha casa não era enorme, era uma casa padrão, sala, cozinha, banheiro e três quartos, talvez a garota não tivesse visto muitas casas parecidas com a minha. Mamãe não estava em casa quando eu cheguei, ainda bem, pois eu não sabia como contar pra minha mãe sobre o fato de eu ter levado uma menina de rua pra nossa casa, provavelmente, ela diria que eu enlouqueci, que eu perdi a cabeça, ou algo do tipo, mas eu jamais conseguiria deixar aquela criança desamparada.
- Luna, quem é essa criança? - Perguntou Nicolá ao ver a menina em nossa casa.
May assustada se escondeu atrás de mim. Contei sobre todo o ocorrido e ele ficou sem saber o que dizer, embora tenha achado que eu fiz a coisa certa, mas também não me deu muita força para que a criança ficasse em nossa casa, pois ele tinha medo da reação de mamãe quando a visse, e confesso que eu também tinha medo disso. Fiz uma torrada e dei um copo de nescau para a garotinha, que quase engoliu a torrada.
- Calma, pode comer devagar. - Falei com um leve sorriso.
- Desculpa tia, é que faz uns três dias que eu não como nada.
Oi? Como isso era possível? Será que tinha como uma criança sobreviver sem comer nada por 3 dias? Parecia impossível, mas pelo jeito não era, pois até que a garota estava bem, pelo menos, era o que parecia, e ah, eu queria tanto poder cuidar e ajudar essa pobre garotinha, nenhuma criança merece passar por nada disso.
- Tá bom? - Perguntou Nick docemente para a criança.
- Delicioso. - Ela disse ao dar uma enorme mordida.
Fiquei a observando enquanto ela comia, só queria saber da onde ela havia vindo, onde estavam seus pais, e como ela havia ido parar nas ruas.
- Posso tomar banho? - Perguntou a garota ao terminar seu lanche.
- Claro. - Falei. - Você sabe tomar banho sozinha?
Ela negou com a cabeça e eu acabei lhe dando banho, porém quando ela tirou sua roupa, eu tive uma grande surpresa desagradável, a garota estava CHEIA de hematomas e quando eu digo CHEIA é CHEIA mesmo, braços, pernas, costas, barriga, b***a, fiquei apavorada quando eu vi.
- O que é isso? - Perguntei bastante assustada com a cena.
A menina não me respondeu, apenas começou a tremer e a chorar, e ficou um pouco trêmula, não entendi a reação da menina. E... Ah, meu Deus! O que havia acontecido com essa pobre criança? Para mim, aquilo estava com cheiro de agressão, mas quem teria coragem de bater em uma criança? Bom, tem gente capaz de coisa muito pior, mas... Ah, era tanta covardia, ela era só uma menininha, queria tanto saber o que havia acontecido com a garota.
- May, o que houve? - Perguntei bastante aflita.
- Hã… Eu cai de uma escada. - A garota respondeu um pouco nervosa.
- Isso está com marca de agressões, alguém te bateu?
Ela negou com a cabeça, mas eu não consegui acreditar muito, aquilo estava muito estranho. Coloquei nela uma roupa minha de quando eu era criança, mamãe havia doado a maioria das minhas roupas, mas havíamos ficado com as que ela mais gostava, tipo, para guardar de recordação, ou para o dia que eu tivesse uma filha e tal, eu ainda não sabia se um dia ia querer ser mãe (talvez se fosse por meio da adoção, porque por vias normais isso seria quase impossível, já que eu nunca namoraria um garoto).
- Serviu direitinho. - Falei ao terminar de vesti-la. - Gostou?
Ela acenou positivamente com a cabeça enquanto se olhava no espelho e lançou um enorme sorriso, o que fez eu sorrir também.
- Pode ficar com ela. - Falei me referindo a roupa.
- Obrigada tia. Eu adorei. - Sorriu novamente com os olhinhos brilhantes.
Quando fomos até a sala, mamãe já havia chegado, apenas olhou para a garota sem dizer uma palavra sequer. Engoli a seco, não queria que mamãe brigasse comigo na frente da menina, e sei lá, o que ela devia estar pensando naquele momento.
- Como você se chama? - Perguntou mamãe para May.
- Maytê. - Ela disse docemente.
Mamãe me olhou um pouco brava, e pediu explicações, eu contei tudo e ela me entendeu, embora não tivesse gostado nada disso, pois não sabíamos nada sobre a menina, e talvez estivessem procurando por ela. Em particular, minha mãe me falou que teríamos que levá-la até a delegacia ou juizado, pois os pais dela podiam estar preocupados, só que eu nem sabia se ela tinha pais ou não, pois pelo jeito que ela falara, havia dado a entender que não tinha pai e nem mãe. Confesso que eu havia adorado aquela menininha, era tão dócil e meiga, e apesar de tudo, ela tinha um sorriso fácil e muito contagiante, seria impossível não se apaixonar por aquele serzinho tão pequeno e frágil.
- May, precisamos conversar. - Falei ao me abaixar, ficando da altura da garota. - A gente precisa ir até a delegacia porque seus pais podem estar preocupados.
- Não estão. - Ela disse cabisbaixa. - Eu não tenho pais.
É, pelo jeito eu estava certa, ela realmente não tinha pais, mas então, com quem será que ela morava antes de ir para as ruas? Ou será que após a morte dos pais, ela ficou sem ter onde morar? Ah, eu precisava saber tudo isso.
- Não? E com quem você morava?
- Com meus tios. - Ela respondeu com um olhar triste.
- E o que aconteceu com eles? Morreram? - Perguntei.
Ela negou com a cabeça e tentou fugir do assunto, mas eu precisava saber o que havia acontecido, precisava saber de toda a verdade, pois só assim eu conseguiria ajudá-la.
- Tia, eu não quero voltar pra casa dos meus tios, por favor, não me leva de volta pra eles, os dois não se importam comigo, deixa eu ficar aqui, por favor. - Pediu aos prantos. - Eu prometo que vou me comportar, e vou obedecer, mas não me leva pra eles, não, por favor.
Ela estava tão triste, e chorava sem parar, por algum motivo de fato ela não queria voltar pra casa, eu só queria saber o porquê, aquilo não era normal, e eu precisava descobrir o que aquela menininha estava me escondendo.