Presente
Mel olha entre os rostos no restaurante de um luxuoso hotel em São Paulo.
De longe pode ver uma mão acenando freneticamente em sua direção. Ela caminhou com passos firmes, o olhar altivo e sexy, não havia um homem, acompanhado ou não, dentro daquele restaurante, que não torceu o pescoço para olhá-la passar.
Se tornou uma mulher extremamente fria com o passar dos anos, desde que fora obrigada a voltar para o Brasil, país de origem de sua mãe, sua vida tem sido um pesadelo atrás do outro. Todos os problemas que a vida jogou sob seus ombros a fizeram endurecer seu coração.
Mel – Senhor Fontana, que prazer revê-lo, espero que tenha boas noticias para me dar.
Sr Fontana – Temo que as notícias não sejam tão boas assim.
O senhor diante de Mel era ninguém mais, ninguém menos, do que o advogado de seu falecido pai.
Mel – Não posso acreditar que até isso aquele stronzo me negou.
Sr Fontana – Eu sinto muito Mel, eu tinha um grande apreço por seu pai, não gosto da situação que você e sua mãe se encontram, mas infelizmente ele está inflexível, dentre todas as propriedades de seu pai, a mansão de vocês é o patrimônio de maior valor. Sem nenhuma prova de que há um engano, continuamos de mãos atadas.
Mel – O senhor sabe bem que meu pai jamais teria entregue tudo de bandeja assim, ele não nos deixaria dessa maneira, ele nos amava.
Sr Fontana – Eu sei disso menina, mas infelizmente, na lei, preciso de provas, documentos, o que quer que seja, mas preciso provar que seu pai foi roubado.
O senhor diante dela, era de grande confiança de seu pai, dentre todos os processos que ele tem que cuidar, está tirando um tempo para cuidar do caso de Melanie. Vem ao Brasil sempre que pode para vê-la, lhe dá algum dinheiro, e não cobra absolutamente nada pelos serviços. Ela não sabe se algum dia poderá pagar todos os esforços que ele tem feito para que ela possa reaver seus direitos.
Mel – Isso é tão injusto, meu pai trabalho tanto por tudo que ele construiu, para vir um qualquer e tirar tudo que era nosso por direito. Senhor, se já for de mais para que continue, eu não vou me chatear se quiser parar por aqui, sei que tenho sido um estorvo. Não tem obrigação de nos ajudar.
Sr Fontana – Não tem sido nada de mais, seu pai me ajudou muito a chegar até aqui, foi meu melhor cliente, estou apenas tentando retribuir a ele.
Mel – Muito obrigada, o senhor tem feito muito por nós.
O homem enfiou as mãos nos bolsos procurando por algo, ela já sabia muito bem o que ele estava procurando. Sempre que vem ao Brasil, ele trás uma quantia generosa em dinheiro para que Mel consiga arcar com pelo menos alguns dos gastos, já que atualmente mora com a tia, e ela divide entre todos o pouco que tem.
Mel – Eu me sinto muito sem graça por aceitar dinheiro do Senhor, já faz tanto por nós...
Sr Fontana – Não se preocupe com isso, eu faço porque no momento eu posso. Eu preciso ir, minha passagem está marcada para daqui a algumas horas. Me perdoe por ter tão pouco tempo.
Mel – Não há o que ser perdoado, também preciso ir, de qualquer maneira, tenho uma entrevista para trabalhar em um restaurante próximo à casa da minha tia. Se eu não correr posso acabar me atrasando. – E foi terrível para conseguir a entrevista, já que o bairro que minha tia mora é m*l visto nas redondezas, pensou.
Eles se despediram com um aperto de mãos. E seguiram por caminhos separados.
Mel precisa chegar ao local da entrevista o mais rápido possível, sabe que já é bem em cima da hora.
Nunca em sua vida ela imaginou que passaria por isso um dia, se ver obrigada a servir mesas, lavar pratos, para ela, alguns anos atrás, pareceria o fim do mundo, mas foi obrigada a amadurecer bruscamente, depois do que houve com sua família.
A cada segundo que o ônibus demorava para andar, Mel sentia seu coração no peito doer, ela precisa do emprego para ajudar a tia com as contas, são mais duas bocas para alimentar desde que ela e a mãe chegaram.
Finalmente ela desceu no ponto próximo ao restaurante, a julgar pela localização, até que não era r**m, muito bem decorado, um estilo rustico e elegante.
Caminhou até a entrada e foi falar com uma moça que estava próxima ao balcão.
Mel – Com licença, eu me chamo Melanie Trevisano, estou aqui pela vaga que foi anunciada no jornal.
-Esta atrasada. – Disse a mulher num tom mau humorado.
Mel – Sinto muito, eu...
- Sem desculpas – A mulher a interrompeu – O senhor Emerson está te aguardando na sala dele. Vou te levar até lá.
Mel seguiu a mulher sem dizer mais nenhuma palavra, não quer irritar ainda mais a mulher que a está guiando.
Ela bateu em uma porta, e de dentro alguém respondeu que poderíamos entrar.
- Senhor, a candidata a vaga chegou.
Sr Emerson – Obrigado, pode se retirar. – Disse ele sem sequer erguer a cabeça, focado em algum documento que estava em suas mãos.
Sr Emerson – Então senhorita Trevisano, vejo que você não possui nenhuma experiência em restaurante, ou em basicamente nada, você é italiana correto?
Mel – Sim senhor, vim para o Brasil aos dezenove anos.
Sr Emerson – Você acredita que desempenhará bem o trabalho da vaga?
Mel – Sim senhor, eu aprendo muito rápido.
O homem que finalmente resolveu tirar os olhos do papel em suas mãos e olhar para a mulher que estava a sua frente, quase não acreditou no que seus olhos viram diante de si.
A mulher era de tirar o fôlego. Um corpo de parar o trânsito, os cabelos negros feito breu, a pele quase dourada, os olhos de um tom de verde quase chegando ao azul. Era perfeita, quase uma pintura. Ou uma visão.
Mel – Senhor? Está tudo bem?
Ela o tirou de seus pensamentos, forçando a voltar ao presente.