ISABELA NARRANDO Eu empurrava a cadeira dele pelo corredor como se estivesse guiando uma granada prestes a explodir. O Davi estava duro, totalmente travado, parecendo uma estátua de mármore com crise de ansiedade. E eu entendia. Todo mundo olhava. Todo mundo comentava. Funcionário passava e abria um sorriso enorme: — Bom dia, senhor Davi! — Que bom tê-lo de volta! — Seja bem-vindo, doutor! E ele só… mexia a cabeça. Nem sorria. Nem tentava. Ele só ficava ali, rígido, com o olhar meio perdido, meio desesperado, meio “por favor, alguém me joga do trigésimo andar pra acabar logo”. Eu seguia empurrando, firme, com a mão no guidão da cadeira, observando ele de canto. O maxilar dele pulava, o pescoço tava tenso, e eu juro, dava pra sentir o coração dele acelerado só de estar perto. Quando

