MAIA SOLIS
O alívio é latente e meu desentendimento também. Depois de questioná-lo, permanecemos em silêncio, eu o encarando e aguardando a minha explicação.
— Desculpe por isso. Eu tinha um problema e você meio que me salvou. Devo dizer que o time da minha avó foi perfeito.
— Time? Tenho a sensação de que sou a única que não sabe o que está acontecendo. E por que raios me beijou?
— Como assim por que? Ah não! — Ele diz esfregando a mão nos cabelos. — Você não faz ideia do motivo pelo qual dona Sophia a enviou aqui, não é?
— Flores?
—Ela disse que mandaria alguém que precisava de um trabalho. E eu tenho um bem específico. Achei que era você.
— Sim, sua avó me mandou para que eu executasse o meu trabalho. Flores, eu planto, rego, colho, arranjo e entrego flores. Não para sair por aí sendo beijada.
— Um momento. Vamos nos acalmar e tentar entender se ela confundiu.
— Óbvio que há uma confusão! Meu Deus. — Eu estava começando a parecer um pouco histérica, mas realmente não estava entendendo nada. Uma coisa sobre mim e eu acho que sobre latinos em geral. Somos eufóricos, seja na alegria, na tristeza ou na confusão.
— Vó? — Quando noto ele já está ao telefone e a coloca no viva voz.
— Deu tudo certo? — Ela diz animada do outro lado.
— Dona Sophia, explique para seu neto que tivemos uma confusão.
— Oh, querida. Que cabeça a minha! Eu me esqueci de dizer que Damon precisava de um favor.
— Esqueceu? Bem considerando a recepção que eu tive, com toda a certeza não vou esquecer.
— Te destrataram? — Solto um pigarro, sem graça em dizer que o tratamento não foi exatamente r**m. Afinal aquela boca super desenhada e semelhante a um modelo de bocas me beijou. Não é o tipo de coisa que a gente reclame muito.
Divagando. Maia, pare de divagar!
— Sério vó?
— Deixe a menina falar.
— Estou confusa, pelo amor de Deus! Que serviço específico é esse que se supõe eu estaria fazendo?
— Simples, minha querida. Ser a noiva de Damon.
Eu engasguei. Mas não foi apenas aquele simples engasgo de quem é surpreendido, porém daqueles que matam se não houver socorro. Senhor Damon me dava pequenos tapas nas costas e me ofereceu um copo de água.
Lentamente fui me acalmando e percebi que a Dona Sophia fazia silêncio, esperando eu tragar suas palavras.
— Noiva? Dona Sophia, você me encomendou uma planta!
— Meus queridos, estou atrasada! Damon, explique tudo à menina e não esqueça do que combinamos!
— O que? O que combinaram? Explicar o que?
Ela desliga e o som da linha cortada dá lugar ao ambiente. O homem me encara, talvez esperando que eu tenha uma síncope, enquanto eu ainda tento voltar ao meu eixo.
— Acho que minha avó enganou nós dois. — Ele diz respirando fundo e pressionando a base do nariz, como se evitasse uma dor de cabeça. — Se ela fez com que viesse aqui, devo supor que é confiável, certo?
— Claro que eu sou! — Digo indignada.
— Não é do tipo que vende informações a jornalistas? Olha se for, vou saber quem vazou a notícia e não lido bem com isso. — O desgraçado me ameaça.
— Experimente me ameaçar de novo e vai entender que eu sequer precisaria vender. Bastaria sair gritando corredor afora que o todo poderoso Damon me agarrou sem permissão.
— Eu não…! Olha, vamos nos acalmar. Bem, ela me arranjaria uma noiva.
— Em que século estamos? Céus!
— Calma. Eu tenho um grande negócio para fazer e para isso tenho que ser visto como um homem de família, portanto, noivo, casado e com filhos e todas essas coisas. Eu não tenho noiva, então minha avó atravessou tudo e agora você está aqui.
— Não faz sentido. Eu a conheço e certamente ela me contaria algo assim antes de me colocar no meio dessa confusão. Aliás, qualquer um que leia jornais não acreditaria nessa história! — Mordo a língua quando me situo do que disse. — Desculpe. Mas…
— Paparazzis capricham, eu sei. Metade é verdade e metade mentira, mas essa não é a questão. Você aceitaria se ela te abordasse diretamente?
— Claro que não!
— Ela com certeza sabe disso e deixou nós dois sem opção, provavelmente por acreditar que você não se aproveitaria da situação. Ela é do tipo que ainda acredita nas pessoas. — Ele diz como se isso fosse absurdo.
— Como sem opção? Claro que eu tenho opção! Onde já se viu encurralar alguém assim?
— Você fala rápido. — Ele comenta atordoado. — Eu fiquei sem a opção de achar outra pessoa e você sem poder recusar ser apresentada.
— Como sabia?
— O que?
— Que eu era a pessoa que sua avó enviou?
— Palpite. Conheço dona Sophia e sei que ela não mandaria ninguém que Hidalgo ou meu avô esperassem. — Não entendo seu raciocínio, mas eu mesma não sei onde enfiei o meu.
— Podia ser a samambaia.
— Que?
— A loira, que chegou há pouco.
— Como eu disse, conheço dona Sophia. Na cabeça dela você é a escolha ideal justamente por não ser o que qualquer um espera.
— Não é melhor escolher a opção mais óbvia?
— As pessoas gostam de acreditar no improvável. Por que Damon Fox mudaria de conduta pelo óbvio? — Ele me questiona.
— Bem, como essa loucura com toda a certeza terminou, vou fingir que foi um sonho abstrato e voltar para o outro lado da cidade.
— Impossível.
— Acho que a ideia subiu sua cabeça. — Digo, seriamente preocupada com essa gente.
— Preciso de você agora. Não é tão simples.
— Eu tenho o que fazer, então, buenas tardes!
— Espera! — Ele diz avançando e impedindo minha saída ao bloquear a porta da sua sala. Ficamos próximos. Bem próximos e eu esqueço as minhas próximas palavras. — Eu pago! Por alguns dias você fica e eu te pago.
Irracional, eu sei.
Mas meu cérebro atordoado pelos últimos minutos não sabia o que fazia quando ordenou e minha mão obedeceu esbofeteando a cara do homem que, incrédulo, assinalava meu atestado de louca.
Merda! Minha mão doeu.
— No soy ninguna p**a!
— Que?
— Não sou uma prostituta, pelo amor de Deus! — Repito em nossa língua comum, sacudindo minha mão no ar para cessar a ardência. No rosto do doido parece que não fiz sequer cócegas.
— Não! Me entendeu m*l. Ok, vamos com calma. Eu não disse que você era. Estou oferecendo um contrato. Eu contrato você para prestar serviços não sexuais para mim. — Ele diz seriamente, mas sinto minha bochecha corar e quero enfiar a cabeça em um buraco.
— Que serviços? — Me faço de i****a, mas nesse caso com razão.
— Apenas precisa fingir ser minha noiva. Alguns dias talvez, enquanto eu não fecho o negócio. Depois, enrolamos um pouco e dizemos que nos separamos por incompatibilidade.
— Acha realmente que vão acreditar que eu sou sua noiva? — Pergunto ironizando a proposta, enquanto indico meu vestido floral, minhas sandálias e, Deus, como eu queria que ele visse minha bicicleta.
— Vai dar veracidade. — Ele se convence em uma lógica que apenas ele e dona Sophia entendem. — Nos conhecemos por meio da minha avó, estamos juntos há um tempo e ficamos noivos. Mantivemos segredos, pois a mídia consegue ser…
— c***l.
— Sim, c***l às vezes. Para nos proteger, omitimos.
— Meu Deus, isso é absurdo!
— Cem mil.
— Cem mil? O que?
— Dólares. Cem mil dólares para fingir que é minha noiva por alguns dias. Se ultrapassar um mês, eu dobro, fique tranquila.
Jesus misericordioso!
O homem maravilhosamente sexy diante de mim, com olhos azuis vidrados nos meus, os cabelos em um corte perfeito e barba aparada parece ter perdido a noção de que, com essa aparência, ele poderia ter mil noivas sem pagar um centavo que seja.
Noto sua sobrancelha escura levemente erguida, indicando um traço de ansiedade pela minha resposta e perco o rumo da conversa, quando o vejo umedecer o lábio inferior. A boca ressecada, a sobrancelha erguida e a mão afrouxando a gravata indicam que ele terá um treco e nem isso consegue deixá-lo inapto de conseguir uma noiva por meios próprios.
Cem mil dólares.
Um fortuna para que a florista de bicicleta seja sua noiva temporária. Ninguém nunca acreditará nisso, mas aparentemente apenas eu vejo isso. Sim, pois ao oferecer tamanha quantia, esse homem já perdeu todo resquício de sanidade e eu provavelmente vou ter que ligar para a emergência.
— Você só pode ser louco!