04

2140 Palavras
Cerca de uns hora antes do seu expediente acabar, Olive cogitou mandar um "Oi" para Caleb, mas realmente estava sem tempo para trocar mensagem naquele momento (os cinco minutos livres foram para ir ao banheiro e limpar as mãos sujas de molho), então Olive sentou na tampa do vaso e ligou para ele, tomando cuidado para não esbarrar na descarga e entregar o seu esconderijo secreto. Ela observou a foto de Caleb brilhar na tela do celular enquanto "CHAMANDO" estava pulsando na parte superior dela, ele estava com um suéter grosso e cinza escuro, botas para neve e uma calça preta grossa, sorrindo para a câmera e levantando o polegar num joinha para quem quer que estivesse tirando a foto. A paisagem ao redor dele estava completamente congelada e cheia de neve, e ele parecia estar subindo a encosta de uma montanha. — Oi? — A voz de Caleb ecoou quando ele atendeu a ligação, alguns vários segundos depois. Olive conseguia ouvir crianças rindo e conversando no fundo (que provavelmente eram para quem ele dava aula depois da escola), e isso a fez querer soltar uma risadinha. — Oi, sou a Olive. — Ela começou, embora tivesse certeza de que Caleb tinha percebido isso pela sua foto de perfil. — Será que você tá livre hoje a noite? Se não tiver não tem problema também, podemos deixar para depois. — Na verdade, tô sim. Não faço praticamente nada depois das sete. — Respondeu Caleb, depois de alguns segundos como se estivesse consultando uma espécie de agenda mental para saber se estava livre ou não. Olívia abriu um pequeno sorriso, achando meio fofo a maneira como ele sempre exitava antes de falar, como se estivesse com medo de falar rapidamente e gaguejar. — Então nossa primeira aula pode ser hoje? Eu posso ir na sua casa se você quiser, ou então você pode ir na minha. — Olive disse, tirando o cabelo do rosto e se controlando para não soltar um pequeno suspiro. Saber que além de ter estudado durante o horário normal, os quarenta minutos da aula extra e ainda passar boa parte da noite fazendo isso era completamente desanimador, mas ela tinha que aprender aquilo o quanto antes de quisesse transformar aquela horrenda mancha vermelha que havia no seu boletim em um lindo e fofo pontinho verde. — Cê pode me passar o seu endereço, então. — Ele continuou, fazendo Olive quase saltitar de felicidade (e quase fazer o vaso dar descarga sozinho também, o que a faria ter que acabar com as aulas particulares e mudar de continente para não conseguir mais encontrar com Caleb por aí). — Obrigado, Caleb. Você tá praticamente salvando a minha vida! Vou te mandar o endereço por mensagem. — Olive disse, então os dois se despediram com "tchaus" meio sem jeitos e desligaram. Olive digitou o endereço rapidamente e mandou para ele, antes de levantar da tampa do vaso e sair da pequena cabine do banheiro dos funcionários, que era absurdamente limpo (Talvez por ser menos usado que os outros). Ela lavou as mãos e prendeu o cabelo comprido em um coque desajeitado, antes de começar a caminhar em direção a saída, limpando as mãos úmidas no avental. [•••] A casa da família Wilson ficava em uma rua planejada não muito distante da escola ou da lanchonete, de modo com que Olive conseguisse ir à pé sem problema algum caso tivesse alguns minutinhos a mais, mas quando isso não acontecia, ela tinha cartão verde para usar o carro dos pais quando quisesse. A casa tinha dois andares e um pequeno quintal na parte dos fundos, rodeado por uma cerquinha de estacas brancas. No primeiro andar ficava a sala, a cozinha, o depósito e um quarto que eles não utilizavam para praticamente nada. O segundo andar possuía quatro quartos e os banheiros. O quarto no fim do corredor era o de Olive, e de frente para ele ficava o quatro de hóspedes, enquanto o quarto dos seus pais ficava ao lado do de hóspedes e de frente para o quarto vizinho ao de Olívia (que havia sido transformado em uma espécie de escritório). Richard Wilson era advogado, tinha pouco mais de quarenta anos, era mexicano e definitivamente ainda estava bem conservado. O pai de Olive tinha a mesma pele dourada e os mesmos olhos escuros que ela, apesar de todos a acharem uma verdadeira cópia da mãe. Annie Wilson era baixinha, curvilínea e tinha o sorriso mais bonito que qualquer pessoa veria em toda sua vida (apesar de Olive conhecer a mãe o suficiente para saber que ela poderia ser bem dura quando queria), ela era branca e tinha cabelos castanho escuros, mas o rosto de Olive era uma verdadeira cópia do da mãe. Richard Wilson gostava de brincar dizendo que só haviam tirado uma xerox de Annie. — Um... Amigo, vai vir aqui aqui em casa daqui a pouco. — Olívia disse para os pais enquanto comiam na mesa da cozinha. Ela colocou uma garfada da enchilada na boca e mastigou sem pressa alguma, alternando entre encarar o rosto do pai e o da mãe. — Amigo, é? — Sua mãe levantou uma das sobrancelhas, fazendo Olívia revirar os olhos. Ela falava a mesma coisa quando Edgar iria para lá, antes de anunciarem que estavam namorando e serem pegos em... Situações comprometedoras (mas não tão comprometedoras quanto estão pensando). — Sim, nós vamos estudar. — Ela respondeu tranquilamente, sustentando o olhar. A desconfiança dos seus pais era porque confiavam em Edgar e ele já era praticamente um m****o da família, mas o namoro com Olívia terminou da pior maneira possível, e ela descobriu que já não era mais a única garota com quem ele ficava à tempos antes de isso acontecer. — Posso saber quem é ele? — Perguntou o seu pai, fazendo Olive soltar um suspiro longo. Richard Wilson era definitivamente mais fácil de lidar do que com sua mãe, mas depois do lance com Edgar... As coisas ficaram um pouco difíceis para Olívia, e se ela falasse que estava com notas baixas, iriam ficar ainda mais, já que eles definitivamente iriam associar isso ao fato de que ela entregava todo o seu tempo livre à ele, ao invés de focar nos estudos. — Ele é um dos professores assistentes da escola. Está no terceiro ano também. — Olive explicou, torcendo para que Caleb chegasse logo, porque assim que seus pais colocassem os olhos nele, todas as suas preocupações iriam sumir, já que ele passava um ar de inocência e tranquilidade tão absurdo que isso geralmente se estendia às pessoas a sua volta. — Hum, então é um rapaz inteligente, e não um i****a como o último. — Richard disse, colocando uma garfada da enchilada na boca, ainda analisando Olive com os olhos levemente franzidos. A menção de Edgar à incomodou um pouquinho, mas a expressão do seu pai era tão engraçada que ela quis rir um pouco, porque mesmo quando ele tentava ser um pouco sério, definitivamente não conseguia fazer isso. [•••] Eram quase oito horas quando a campainha finalmente tocou. Olívia, que estava esparramada no sofá mexendo no celular e explorando algumas contas no i********:, levantou rapidamente do sofá e correu até a porta, totalmente ciente de que seu pai havia surgido num passe de mágica, vindo da cozinha, e apoiando as costas na parede ao lado das escada e seguindo Olive com o olhar, enquanto cruzava os braços e esperava pacientemente para ver quem era o misterioso amigo da filha. Olivia abriu a porta de madeira escura e polida sem sequer olhar pelo olho mágico, encontrando Caleb à meio metro de distância. Ela não lembrava que ele era tão alto assim, então deu passo para trás e inclinou a cabeça para conseguir encara-lo. — Oi! — Olive disse, encarando os olhos esverdeados através dos habituais óculos de grau quadrados e de armação transparente. Caleb vestia uma camisa branca com gola, uma bermuda cargo preta e um par all stars. O cabelo loiro e liso caia ao redor da sua cabeça, como sempre. Ela percebeu que apesar de meio magrelo, ele possuía músculos visíveis nos braços. — O-oi. — Caleb respondeu, apertando levemente a alça da bolsa carteiro que tinha presa em um dos ombros. — Vamos, entre. — Olívia disse, dando um passo para o lado e indicando levemente com a cabeça para que ele entrasse. [•••] Caleb engoliu em seco e entrou na sala bem iluminada, agradecendo internamente por estar em um lugar com aquecedor, longe do frio da noite lá de fora. Ele estava absurdamente nervoso, não só por estar na casa de uma garota, mas porque essa garota era simplesmente Olívia Wilson, a menina mais popular da escola, além de simplesmente ser a mais linda que ele já havia visto em toda sua vida. Se Caleb já se sentia um pouco nervoso em interagir com pessoas da mesma idade que ele, esse nervosismo quadruplicava quando era com uma garota, ainda mais uma como Olívia. Caleb quase ficou petrificado no lugar quando percebeu o homem em pé ao lado da escada, que deveria ter quarenta e poucos anos e com certeza era o pai de Olívia. Ele tinha as mesmas cores que a filha, e apesar de estar com os braços cruzados e analisando-o de cima à baixo, o olhar do homem não era assustador ou algo do tipo. Na verdade, ele curiosamente tinha um olhar gentil, apesar de avaliativo. — Pai, esse aqui é o Caleb. — Olive explicou, passando o braço pelo do rapaz e o fazendo suspirar baixinho de surpresa, sentindo a pele dela contra a sua. Para olhar para ela, Caleb precisava olhar um pouquinho para baixo. Ela estava com o cabelo escuro solto, fazendo-o descer em uma longa cascata até a sua cintura. — Olá, senhor. Boa noite. — O rapaz disse sem gaguejar, sustentando o olhar e encarando os olhos escuros do homem, porque apesar de não se dar muito bem com adolescentes, ele tinha um pouco de jeito com adultos, que geralmente gostavam dele logo de cara por ser gentil, educado e inteligente. — Boa noite, Caleb. — Respondeu o senhor Wilson. Suas palavras carregavam um pouco de ataque, então Caleb constatou que ou ele era mexicano, ou descendente de mexicanos (ou de qualquer outro país em que a língua nativa fosse espanhol). — A gente vai subir agora, pai. Temos muito o que estudar. — Olive disse, puxando o rapaz pelo braço em direção às escadas. o senhor Wilson assentiu levemente e começou a caminhar em direção a cozinha, lançando um último e demorado olhar para os dois, como se conseguisse ler os pensamentos deles. — Foi um prazer conhecê-lo, senhor Wilson. — Caleb disse, já começando a subir os degraus de madeira escura e brilhante. — Igualmente, Caleb. E pode me chamar de Richard. — respondeu o pai de Olive, acenando levemente com a mão, antes de desaparecer no outro cômodo ao lado da sala, que só poderia ser uma segunda sala ou a cozinha. Caleb soltou um suspiro ao perceber que ele era visto de forma tão insignificante pelos pais que nem quando estava subindo para o quarto de uma garota linda, eles não falavam aquele típico "deixem a porta aberta, pessoal" ou então aquele bom e velho "juízo", que soava como "juíííííííízo" e era o suficiente para fazê-los pensar duas vezes. Era como se Caleb fosse tão nerdizinho que não apresentava qualquer perigo para a honra das garotas. Outro pensamento o deixou um pouquinho mais desconfortável: de que talvez ele fosse tão esquisito que nenhuma garota sequer cogitasse ficar com ele, e os pais delas soubessem exatamente isso. Olívia subia as escadas dois degraus acima dele, e Caleb não deixou de olha-la de cima à baixo discretamente, sentindo as suas bochechas arderem um pouquinho. Ela vestia um vestido preto e curto, deixando à mostra as pernas bonitas e evidenciando a cintura fina. O cabelo preto e ondulado nas pontas chegava até a b***a dela, e Caleb só percebeu que estava encarando descaradamente quando Olive olhou por cima do ombro, fazendo-o quase escorregar da escada de susto, desviando rapidamente o olhar. — Obrigado por ter vindo, prometo que vou aprender rápido aqueles cálculos. — Olive disse assim que chegaram no topo das escadas. O corredor era largo, decorado com vasos de flores e quadros, haviam duas portas de cada lado, e Olívia puxou Caleb pela mão em direção a última porta do lado direito. — Esse aqui é meu quarto, não repara na bagunça. — Ela continuou, abrindo um pequeno sorriso, antes de abrir a porta lisa de uma madeira clara, entalhada com alguns arabescos clássicos. Caleb foi puxado para dentro do quarto rapidamente, antes da porta ser encostada atrás dele logo em seguida.
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