05

2131 Palavras
O quarto de Olívia era uma combinação meio maluca de verde e lilás, as cores que mais gostava. Ela observou, enquanto Caleb analisava o interior do cômodo com os olhos levemente arregalados de surpresa, ainda agarrando a alça da bolsa com uma das mãos, enquanto a outra permanecia na de Olive (que gostava bastante de contato físico, desde que fosse com alguém com quem ela se sentia confortável. E quem não se sentiria confortável ao lado de Caleb?). A cama de Olívia ficava em um dos cantos do quatro, ela era coberta por um grosso edredom roxo escuro, tão ajeitado que não havia nenhuma dobra fora do lugar. Haviam alguns travesseiros em cima dela, brancos, pretos e (obviamente) roxos e verdes claros. O guarda-roupas de madeira escura combinava com a cabeceira da cama e a escrivaninha perto da janela, que pareciam ser do mesmo tipo de madeira. Um carpete felpudo e cinza claro cobria boa parte do chão. O teto tinha um forro de gesso pintado de azul escuro e com pequenas estrelas fluorescentes espalhados por toda a sua extensão. Havia também uma porta do lado oposto ao que ficava a cama, e ela levava até o banheiro. — Vem. — Olívia puxou Caleb em direção a cama e o fez sentar, antes de ir até a escrivaninha perto da parede e pegar seu notebook, o livro de matemática, seu caderno e algumas canetas e lápis (que ficavam dentro de uma caneta com a foto da Taylor Swift). Caleb ainda estava observando atentamente o quarto quando Olive voltou e sentou ao seu lado, fazendo-o mover a sua atenção para o rosto bonito e delicado dela. Caleb prendeu a respiração e encarou aqueles lábios cheios e pequenos, que pareciam estar cobertos de brilho labial. Ele tinha total ciência de que quando Olive sentou, o vestido preto subiu um pouquinho, mas forçou a si mesmo à não encarar, pois já estava sentindo as suas bochechas arderem sem ao menos fazer isso. — Por onde começamos? — Ela perguntou, fazendo-o acordar daquela realidade paralela. — B-bom, vamos começar com a teoria. As regras e fundamentos básicos das Equações e funções. — Caleb gaguejou, empurrando os óculos um pouquinho mais para cima no seu nariz, antes de abrir a bolsa e tirar rapidamente um livro de matemática (o mesmo que Olive possuía) de dentro dela. Ele já estava completamente velho e amassado, cheio de rabiscos de contas e anotações, pois Caleb o usava praticamente todo santo dia. — Prometo que aprendo rápido. Eu só não tive tanto tempo ultimamente para isso. — Olívia soltou um grunhido e deitou na cama, erguendo o livro e o segurando em cima da cabeça. Caleb manteve o seu olhar fixo no livro, embora conseguisse ver mais do que deveria com a sua visão periférica. Ele se amaldiçoou internamente por ser um nerd i****a que não conseguia sequer chegar perto de uma garota sem ficar completamente desconcertado. A cama de Olive era bastante macia e confortável, então Caleb buscou uma posição melhor, retirando os tênis e as meias com um movimento ágil, sem sequer precisar usar as mãos para isso. — E-equações são igualdades envolvendo duas ou mais incógnitas. É como se fosse uma questão que já tivesse a resposta, mas a pergunta estivesse incompleta, entende? O seu trabalho é tentar desvendar a pergunta através da resposta. — Caleb começou a explicar, ainda um pouco envergonhado, enquanto tentava encontrar as melhores palavras para tentar expressar o que estava pensando. Ele pegou um lápis e rabiscou de forma rápida no canto da página do livro, escrevendo o primeiro exemplo aleatório que veio na sua mente. X-2=4. — isso aqui é uma equação, Olívia. Você sabe que o resultado da conta é quatro, mas ao invés de procurar o resultado, você precisa descobrir como é a pergunta inteira. — Bom, isso aí é fácil e sequer precisaria de cálculos para resolver. — Olívia revirou os olhos e rolou um pouco mais para perto, de modo com que seu ombro roçasse no joelho de Caleb. — O problema são aquelas coisas que o professor colocou no quadro, que tinha A, B e C's também. Não consegui entender absolutamente nada. — Já estava chegando lá. Só estava mostrando para você mais ou menos o que era uma equação. — Caleb riu baixinho, revirando os olhos. — As equações são divididas em graus. As mais simples são as de primeiro grau, como essa que acabei de te mostrar. Já as de segundo grau são aquelas de potência quadrada, e por isso também são chamadas de Equações quadráticas. — O rapaz começou a rabiscar novamente no livro, na parte superior da folha dessa fez. Caleb escreveu um X²+6=10. — A resposta é quatro, certo? — Olive perguntou antes mesmo que ele acabasse de escrever, então Caleb assentiu levemente com a cabeça, abrindo um pequeno sorriso. A conta era bastante fácil, mas indicava que pelo menos ela tinha um raciocínio absurdamente rápido. — Isso mesmo. E você acaba de resolver uma equação de segundo grau. — Está me dizendo que a equação é de segundo grau simplesmente porque o "X" está elevado ao quadrado? — Olívia levantou uma das sobrancelhas bonitas e arqueadas. — Isso mesmo. E se fosse... — Caleb parou de falar apenas por alguns segundos apenas para escrever outro exemplo no livro. X³-3=6. — Isso é uma equação de terceiro grau, ou então "Equação cúbica". Os graus dependem da potência do X, podendo ser de quarto, quinto, sexto... — Caleb explicou, já confortável o suficiente para deitar ao lado de oliveira na cama, de barriga para baixo e com sua perna roçando levemente na dela. Quando estava explicando alguma coisa, ele ficava tão entretido e eufórico com aquilo que sequer se importava com tudo ao seu redor. Era como se Caleb sentisse orgulho em explicar e mostrar que dominava determinado conteúdo. — Agora tô entendendo. — Olívia confirmou, analisando os vários exemplos que haviam no livro. Não havia espaço para mais, então Olívia abriu o seu caderno e o entregou para ele. — Sei que esses exemplos são bem mais fáceis que os que o professor passou, mas depois que você aprender a dominar o assunto e conseguir resolver sem problema algum os mais simples, os mais difíceis vão ser meramente um pouquinho mais demorados de se resolver. — Certo. — Olívia confirmou, pegando o lápis já começando a tentar resolver uma das equações de segundo grau que Caleb colocou como exemplo. Enquanto as letras do rapaz eram pequenas e pareciam aquelas fontes de computador, as letras de Olive eram arredondadas e um pouquinho tortas para a direita, como se ela sempre estivesse no modo itálico. Caleb achou engraçado e curioso ao mesmo tempo, vendo ela terminar de responder (e acertar a resposta) em menos de um minuto. — Agora vou explicar para você a fórmula de Bhaskara. Isso é um pouco mais difícil, mas depois que você pegar o jeito, vai ser fácil como respirar. — Caleb explicou, colocando outro exemplo aleatório no caderno. Esse era um pouco mais difícil que os outros e parecia com os que o professor Gerald sempre passava. X²(-13)+X=16²-2X. — p**a que pariu. — Olívia exclamou, encarando a equação com os olhos arregalados e fazendo Caleb soltar um risada baixinha e sonora. [•••] Eram pouco mais de 9:30 quando pararam de estudar. Caleb calçou os tênis e colocou suas coisas dentro da bolsa carteiro, enfiando os livros e os resumos de qualquer jeito bolso maior, já que eles já estavam bastante amassados mesmo. — Bom... Quanto você cobra por cada aula? — Olive perguntando, de espreguiçando lentamente e encarar o rosto de Caleb, que olhou por cima do ombro para encara-la. O cabelo dela agora estava preso um r**o de cavalo preso no topo da cabeça, deixando o formato levemente arredondado do rosto de Olívia um pouco mais visível. — Nada, não. — Ele deu de ombros, abrindo um pequeno sorriso. Os dois haviam rido e conversando por bons minutos, e foi bastante divertido, na verdade. Caleb sabia que ela não estava sendo bacana só por querer aulas particulares, pois mesmo para alguém que não gostava de socializar tanto assim, ele sabia ler as pessoas muito bem. — Vou ficar te devendo uma, então. — Olive disse, dando um beijinho rápido na bochecha de Caleb, precisando ficar na ponta dos pés e dar um pequeno pulinho para cima, deixando-o completamente abismado, enquanto sentia as suas bochechas arderem levemente. Os dois saíram do quarto e desceram as escadas de forma tranquila, conversando sobre coisas aleatórias. — Bom... até depois então. — Olive disse assim que saíram da casa. A noite estava bastante fria, e o carro dos pais de Caleb estava estacionado ao lado da calçada do outro lado da rua bem iluminada. — Até depois. — Caleb abriu um pequeno sorriso, tendo total ciência de que o senhor Wilson estava sentado no sofá, lançando ocasionais olhares por cima do ombro. Olive abriu a boca para dizer alguma coisa, mas resolveu ficar calada, provavelmente por causa da presença do pai. — Manda mensagem quando chegar. — Ela disse, acenando levemente com a mão enquanto Caleb caminhava pela calçada que cortava o gramado. Ele acenou de volta e correu para atravessar a rua, aproveitando os poucos segundos sem que nenhum carro estivesse passando. O carro do pai de Caleb uma SW4 cinzenta. Na verdade, o carro havia sido um presente para ele poucos meses atrás, quando John, seu pai, havia comprado um carro novo e lhe dado o antigo, mas para Caleb, o carro sempre seria praticamente emprestado. Ele colocou a bolsa carteiro no banco da ao lado do banco do motorista, já ligando o carro e começando a dirigir pela rua, em direção a zona oeste da cidade. A casa da família Ward ficava à quase quinze minutos de carro, e após pegar alguns atalhos e optar por ruas mais vazias, Caleb se sentiu seguro o suficiente para passar de setenta quilômetros por hora, não demorando mais do que dez minutos para então chegar em casa, entrando no garagem logo em seguida. Havia uma porta na garagem que levava até o corredor principal do primeiro andar, então logo após se certificar que o portão automático estava completamente fechado, ele atravessou a porta, sendo recebido por sons altos vindos da sala de estar, onde mesmo sem ver o que estava passando na gigantesca TV que havia lá, ele sabia muito muito bem que era algum jogo de futebol americano. Caleb caminhou até lá e encontrou o irmão mais velho esparramado em um dos sofás da sala, vestindo não mais do que uns boxer preta. Ele tinha uma tigela cheia de batata frita e uma latinha de cerveja ao seu lado no sofá. — Hey, Caleb. — Disse Thomas, ele tinha vinte e três anos e possuía os mesmo traços que o irmão mais novo, apesar do seu cabelo curto ser cortado num estilo militar e ele ter um corpo definido, provavelmente por causa das várias horas diárias que passava na academia. — Oi. — Caleb respondeu, sentando no outro sofá, mas não sem antes pegar uma das batatas fritas. Ele achava engraçado como eram um total oposto um do outro, apesar de serem praticamente melhores amigos. Caleb sempre achou o irmão praticamente um maluco, e depois que a mãe dos dois morreu, o rapaz só tinha o irmão e o pai com quem contar, os deixando mais próximos. — Como foi lá? — Thomas perguntou, alternando o olhar entre Caleb e a TV que estava com o volume praticamente no máximo. — Lá onde? — Caleb tirou os óculos e levantou uma das sobrancelhas. Sem eles, o rapaz não enxergava nada mais que um borrão. — Papai disse que você tinha ido na casa de um garota "dar umas aulas" para ela. — Thomas fez aspas com as duas mãos enquanto falava a última frase, soltando uma risada logo em seguida. — Hahaha. — Caleb sentiu suas bochechas esquentarem, desviando o olhar. — Quanto tempo você vai ficar aqui? — Na verdade, vou voltar pra universidade amanhã, mas prometo que vou ficar voltando de vez em quando para te ver, mané. — Respondeu o mais velho, piscando levemente para Caleb com os olhos esverdeados idênticos aos seus. Thomas vivia no dormitório da faculdade nos últimos dois anos, onde estudava economia e jogava no time de futebol americano. — Okay, mané. — Respondeu Caleb, roubando mais algumas batatas fritas da tigela de Thomas, que não foi rápido o suficiente para impedir a mão do mais novo de roubar um punhado delas. Ele riu baixinho e observou o irmão soltar um rosnado, segurando a tigela contra o peito nu como se aquilo fosse o seu tesouro mais precioso.
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