06

2087 Palavras
Olive passou a noite do dia seguinte com Hellen, então não teve como encontrar Caleb para terem mais uma aula extra, embora continuassem trocando mensagens praticamente toda hora. Não era uma surpresa que o rapaz fosse inteligente, mas não eram só sobre matérias escolares que Caleb tinha domínio. Os dois passaram horas conversando sobre filmes aleatórios e músicas, além de que quando Olive estava fazendo uma atividade de química, pouco depois das dez da noite, Caleb à ajudou por ligação. Olívia definitivamente gostava da risada dele, que era levemente rouca e engraçada. Ela se pegou tentando fazê-lo rir vez ou outra, como na hora que se despediram e ela agradeceu pela aula EAD. Olive grunhiu quando colocaram seus horários juntos para comparar as aulas e perceberam que não tinham praticamente nenhum horário na mesma sala, o que era de se esperar, até porque Olive tinha certeza que nunca tinha visto Caleb em alguma aula antes, e ela não era do tipo que costumava esquecer um rosto. Durante a manhã seguinte, Olive não vou Caleb em lugar nenhum até a hora do intervalo, pouco mais das dez horas da manhã. O imenso salão da cantina estava completamente lotado de alunos, rindo e conversando alto como um bando de malucos, que só faltavam subir em cima das mesas para a algazarra ser maior ainda. A cantina ficava no térreo e dava acesso a uma área gramada ao lado da escola, onde tinham algumas árvores enormes e para onde alguns alunos costumavam ir comer ou descansar sob elas durante alguns minutos entre os horários. A comida era servida em um imenso balcão do lado esquerdo, onde também havia uma fila de alunos nada pequena, que Olive aproveitou para entrar antes que ela ficasse maior ainda. No meio do salão haviam várias mesas de diferentes formatos. A maioria delas eram compridas e estreitas, mas haviam algumas circulares e quadradas pequenas aqui e alí. Quando finalmente chegou a vez de Olívia, ela pegou uma caixinha de achocolatado, uma maçã e um potinho com salada de frutas. Haviam várias outras coisas na outra parte do balcão, mas ela realmente não queria ficar enfrentando aquela fila (que estava apertada pra caramba) por mais algum tempo. O intervalo tinha vinte minutos, mas todos os alunos só começavam a se preocupar em voltar para as suas salas uns bons dez minutos depois que aquela sirene que Olive tanto odiava tocava. Ela olhou ao redor e tentou encontrar Hellen em meio a multidão, que quase todas as vezes costumava esperar por Olívia para que fossem sentar na mesa em que a maioria das líderes de torcida e os atletas do time de futebol americano e Hockey também ficavam. Depois de quase um minuto analisando rosto por rosto, Olívia desistiu de tentar encontra-la, chutando que a amiga provavelmente estava enfiada em algum lugar com Pedro por aí, como sempre faziam quando estavam de bem. Olivia soltou um rápido suspiro e fez menção de começar a caminhar até a mesa em que o resto da equipe de líderes ficava, mas parou assim que viu uma cabeleira dourada cortar a gigantesca multidão e sentar em uma das poucas mesas vazias, colocando a bandeja que estava carregando na sua frente. Olive começou a caminhar até lá, fazendo um ziguezague e desviando de todos que estavam na sua frente, além de cumprimentar todos que falavam com ela, desde os que lhe lançavam frases sinceras às garotas que eram estupidamente falsas. Ela agarrou as bordas da própria bandeja de alumínio com força, não querendo derruba-la quando alguém trombasse com ela, o que era bastante frequente, na verdade. Caleb estava sentado de costas para ela, então não percebeu sua presença até Olívia passar por cima do banco em que ele estava sentado e sentar ao seu lado, com sua coxa roçando à dele. O rapaz arregalou levemente os seus olhos verdes por trás dos óculos, como se estivesse surpreso ao vê-la alí. — Oi! — Ela disse, dando uma leve cotovelada nele enquanto encarava o seu rosto. Caleb vestia um dos seus habituais conjuntos engomadinhos: uma camisa social preta com botões e de mangas curtas, um jeans lustroso e vans. Aquele tipo de roupa combinava com ele de uma forma como Olive não conseguia explicar direito. Ela analisou o rosto de Caleb por mais alguns segundos, vendo como aqueles olhos esverdeados ficavam mais vivos durante o dia, enquanto durante a noite eles ficavam um pouco mais misteriosos. Eles possuíam pequenos risquinhos levemente mais escuros no limite das iris, enquanto a parte em volta das pupilas tinha um tom de verde bem mais claro e quente, beirando um amarelo esverdeado. Os cílios de Caleb eram do exato tom de Dourado que o seu cabelo, assim como as sobrancelhas grossas e retas. Os dedos de Olívia estavam formigando com o desejo de tirar aquela mechas lisas que caiam ao redor da sua cabeça, que o deixava com aquele penteado de tigelinha. Caleb era bonito. Olive constatou o óbvio. Não só "fofinho" ou "engraçado". O cara realmente era bastante bonito. Ele era alto, tinha um sorriso e uma risada bastante bonitas, além de ser super carismático quando as barreiras de timidez iam caindo aos poucos. Ele não era bonito "apesar" de ter esse corte de cabelo e as roupas engraçadas; na verdade tudo aquilo combinava de uma forma tão perfeita com ele que se Caleb pelo menos pensasse em mudar alguma coisa para agradar os outros, Olive iria ser a primeira a lhe dar uns bons tabefes. — O-oi. — respondeu ele, depois de analisar o rosto de Olívia por longos segundos. — Como andam os estudos? — Agradeço imensamente pela preocupação, Caleb, mas se você falar em aulas, livros ou estudos até durante o intervalo, vou ser obrigada a quebrar essa bandeira na sua cabeça. — Olive grunhiu, tensionando o maxilar e lançando-lhe um olhar reprovador exageradamente falso, fazendo Caleb soltar uma risada alta e sonora, ao mesmo tempo que Olivia abria um pequeno sorriso. Ali estava o som que ela se pegava admirando. Não era uma risada absurdamente sexy ou algo assim, mas era levemente rouca e que fazia qualquer pessoa querer rir também, além de que quando Caleb não conseguia se controlar o suficiente, a risadinha rouca se transformava numa risada nasal, fazendo aquele som parecido com o de um porquinho. — Mil desculpas, milady. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição, fazendo Olívia tentar lhe dar outra cotovelada. Ela sabia que sentar ali com Caleb estava chamando bastante atenção de alguns intrometidos, mas ignorou completamente isso e focou no amigo, que apesar de estar fazendo justamente o mesmo, não conseguia esconder as bochechas levemente coradas. — Qual seu filme preferido ultimamente? — Olívia perguntou, enquanto lançava um olhar de esguelha para a bandeja de Caleb, que tinha um sanduíche de pasta de amendoim, duas bananas, uma caixinha de leite e um punhado de uvas verdes. Ela concentrou sua atenção na própria bandeja, embora estivesse com os ouvidos atentos para escutar qualquer coisa que o rapaz dissesse, enquanto abria a pequena tigela de plástico que tinha a salada de frutas e começava a comer tranquilamente, saboreando o gosto delicioso. — Ontem eu assisti interestelar. É muito bom. — Caleb explicou, completamente empolgado, enquanto dava uma bela mordida no sanduíche. No início Olive percebeu que ele tinha um pouquinho de vergonha de olhar fixamente nos olhos de alguém e sempre procurava encarar qualquer outra coisa no cômodo, mas ao ficarem um pouco mais próximos, ele sempre conversava olhando-a nos olhos. — Você já assistiu? — Meu pai adora esse filme! Eu não sou muito fã de ficção científica, mas gostei também. Na verdade eu só disse que amei na época para ele não me deserdar, embora tenha sido bastante emocionante. — Olive respondeu, dando de ombros e analisando o pomo de Adão de Caleb subir e descer enquanto ele mastigava e engolia de forma tranquila. — Física pelo visto não é muito o seu forte também, não? — Caleb disse, abrindo um pequeno sorriso de lado. Demorou longos segundos para Olívia conseguir processar a frase e constatar que ele estava tirando sarro dela. — V-você... Seu nerd bobão! —Ela tentou dar uma cotovelada nele, bem mais forte e certeira dessa vez, mas Caleb desviou no último segundo (quase caindo do banco no processo). — Okay okay. Desculpa. — Ele soltou uma gargalhada baixinha e tampou a boca para conter o som, embora Olive quisesse agarrar a mão dele e o impedir de fazer isso. — Na verdade, física não é bem o meu forte mesmo, principalmente se for física quântica. — Quer ajuda com isso? — Caleb perguntou, dando outra mordida grande no sanduíche de pasta de amendoim, fazendo o canto dos seus lábios ficar um pouquinho sujo. Olive levantou a mão rapidamente e limpou a pasta de amendoim dos lábios dele. O movimento foi tão rápido e natural que sequer Caleb ou ela própria tiveram tempo para ficarem surpresos, embora as bochechas do rapaz tenham ficado um pouco mais vermelhas, enquanto ele continuava comendo. — Não com física, obrigada. Por mais que eu não goste muito, as minhas notas são boas nessa matéria. — Respondeu Olive, também comendo o seu próprio lanche, e antes que ela abrisse a boca para prosseguir, percebeu que o assunto já estava voltando para coisas relacionadas à estudos e afins, então ela completou: — Não falaremos de estudos nas horas vagas, mané, senão minha cabeça vai explodir. — Okay. — Caleb bateu continência de forma exagerada, fazendo Olive revirar os olhos e pisar no pé dele por debaixo do banco, embora não forte o suficiente para que ele expressasse alguma reação significativa. — Onde você trabalha mesmo? — Eu trabalho meio período na lanchonete aqui perto, aquela no mesmo quarteirão do shopping. — Olive deu de ombros e enfiou o canudinho na caixinha do achocolatado e começou a tomar sem pressa alguma. Ela não tinha nenhum tipo de vergonha por trabalhar na lanchonete, muito menos que algumas das pessoas ali da escola fossem até lá. — Aaah. — Caleb murmurou, empurrando os óculos levemente para cima (Olívia percebeu que ele tinha uma mania de fazer isso). Ela ergueu a mão e tirou o óculos do rosto dele, mas sem fazer isso bruscamente para não parecer grosseira. — Quantos graus você tem nos óculos? — Ela perguntou, colocando-o na frente do seu rosto para ver através das lentes, tornando o mundo um borrão por completo do outro lado. Olive não sabia muito sobre isso, mas tinha uma ideia de que quanto mais graus eram, mais dificuldade a pessoa teria de enxergar sem eles (ela lembrou bizarramente das Equações de primeiro e segundo grau que andou estudando com Caleb, como se o assunto estivesse impregnado no seu cérebro). — Dois de um lado e Três do outro. — Ele explicou, e Olívia supôs que a lente de três graus fosse a da esquerda, pois era a que distorcia ainda mais as imagens. Antes de colocar de volta o óculos no rosto de Caleb, ela analisou demoradamente o seu rosto bonito sem óculos, e ela estava tão acostumada à vê-lo com eles que ficou surpresa com o quão anguloso era o rosto dele. A armação transparente dos óculos descansava nas suas bochechas, o que escondia um pouquinho a forma como elas eram arqueadas, e além disso, sem o óculos dava para perceber que o seu nariz era bem longo e grande. Olive colocou os óculos de volta nele e deu um tapinha na sua bochecha, que era macia e suave igual bumbum de bebê (o pensando à fez querer rir e comentar isso em voz alta só para vê-lo ficar ainda mais vermelho). Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi impedida de fazer isso quando aquela sirene irritante tocou e quase à fez cair do banco de susto. Eles ainda tinham bons minutos até precisarem aparecer na aula, mas começaram a comer rapidamente o resto do lanche mesmo assim, pois além de precisarem levar as bandejas para outro lado da cantina, também precisariam enfrentar aquele mar de alunos até as suas salas. — A gente se vê depois? — Olive perguntou, enfiando a maçã grande e intacta dentro do bolso da sua mochila para comer depois, enquanto levantavam do banco para começar a caminhar em direção ao balcão onde deveriam colocar as bandejas. Eles estavam indo na mesma direção, mas precisariam se separar logo em seguida. — Claro! — Caleb respondeu, abrindo um pequeno sorriso tímido.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR