A Fisio gordinha do morro

Nicole narrando Eu sou cria do cpx do alemão, desde que eu me entendo por gente. Nascida e criada correndo por esses becos. Hoje, sou formada em fisioterapia, atuo na área de fisioterapia pediátrica. E toda a minha trajetória até aqui foi a base de muito esforço, muita luta, e momentos que eu olhava e achava que não ia dar conta, mas eu respirava fundo e seguia, eu tinha uma meta, e não ia parar até alcançar mais um degrau. Eu fui bolsista de uma das melhores faculdades dessa cidade. Eu me desdobrava em mil porque tinha que manter as minhas notas excelentes, dar estágio, e trabalhar. Eu nunca reclamei, mas eu vivo como escrava e não corro da luta não. Minha mãe trabalha numa pensão aqui do morro, onde todos os envolvidos comem todos os dias. Ela rala pra c*****o e eu faço de tudo para honrá-la e dar a ela uma vida de princesa, quem sabe um dia, esse é meu maior objetivo de vida. Até porque, somos só nós duas, ela se separou do meu pai e ele foi embora, como acontece em milhares de família, e eu não tenho apreço por ele, porque quem sempre esquentou o umbigo para me dar de tudo foi ela, e é ela quem tenho que honrar todos os dias da minha vida. Eu não gosto muito de ficar por aqui, é complicado, ao mesmo tempo que eu amo essa favela, eu sempre tenho uma dor de cabeça aqui, o motivo ? Meu corpo! Não sou de um esteriótipo comum. Sou acima do peso, e não tenho problema nenhum com isso, aliás, eu fico m*l quando ouço piadinhas, mas namoral, eu me acho linda, uma grande gostosa, de verdade. Já fui chamada pra ser modelo plus várias vezes, e por muitas vezes eu neguei, até a Luana, minha melhor amiga, me obrigar a fazer um ensaio e bombar as minhas redes. Esse é o maior recalque das meninas do morro. Eu não preciso procurar atenção, mesmo estando pouco na visão, eu tenho toda a atenção. Mesmo não sendo o meu foco e nem querendo isso. Hoje, eu trabalho com algumas crianças, todas com particularidades que me desafiam todos os dias, e eu me empenho em sempre ser o melhor pra elas. Eu amo crianças numa força que não tem explicação, elas me ensinam uma lição a cada dia que passa, e elas não tem nem noção. Mas também faço serviço para lojas plus, hoje nas minhas redes sociais tem milhares de seguidores, muito vapores do morro me seguem, sabe aquele desejo encubado? Então, como se eu fosse dar moral pra alguém. Querem me comer nas escondidas mas eu nunca abriria as pernas pra nenhum deles. Na frente dos amigos eles me zoam, fazem piadinhas, mas no meu direct se humilham por uma chance comigo, e eu só dou risada, tenho muita preocupação na minha vida pra dar ideia pra essas merdas. Hoje eu realizei um dos meus maiores sonhos, e to indo mostrar pra pessoa mais importante da minha vida. Nunca fiz corpo mole e é graças a isso que eu consegui, não é zero, mas é conservado, é de segunda mão, mas tá quitado, e eu consegui sozinha, sem precisar de homem, sem precisar de ninguém, e esse é o primeiro orgulho que eu vou dar a minha mãe. Demorei muito pra conseguir, lutei muito pra chegar até aqui, não foi fácil conseguir realizar esse sonho, tinha dias que eu fotografava num Studio, de madrugada, sozinha, pra juntar grana, pra completar e realizar o meu sonho. Comecei a subir a favela, os vidros baixo, pisca alerta ligado, e o povo todo me encarando curioso, os vapor da barreira faltavam pouco cair dentro do carro loucos para fofocar. Eu fui direto pra pensão com o choro entalado, um choro de orgulho, um choro de conquista, um choro de vitória. Ninguém sabe que eu estava nessa busca, e eu sei que minha mãe vai se orgulhar pra c*****o de mim. Cheguei na frente da pensão e estava lotado de motos, até a do dono do morro estava lá, mas eu não liguei pra nada e nem pra ninguém. Não havia me tocado que era hora do almoço. Eu não me contive, mesmo sob o olhar dos curiosos eu cheguei buzinando e geral olhou pra fora, minha mãe estava bem perto, atendendo o urso, dono daqui, e olhou pra trás assustada — mentira, que carro é esse ?— ela pergunta largando a bandeja na mesa dele e se virando vindo na minha direção — e nosso mãe, acabei de comprar, é nosso — eu falo segurando as lágrimas e ela começa a chorar Todo mundo sempre me desmereceu, sempre me apontou, me julgavam por ser gorda, mas eu nunca precisei fazer o que essas putas faziam pra ganhar um silicone, e esse abraço é o maior motivo de tudo, é que faz tudo valer a pena — ahhhh eu tô feliz demais, você merece tanto, minha princesa, eu tenho tanto orgulho de você — ela fala chorando e eu seco as lágrimas que insistiram em cair do meu rosto — obrigada por tudo mãe, se não fosse a senhora eu não seria metade do que sou hoje, e essa conquista é nossa — eu falo com ela que n**a — essa conquista é fruto do seu esforço, você é o maior orgulho da minha vida, você é um exemplo de força e dedicação — ela fala me deixando ainda mais emocionada, e uma p**a chama ela — o dona Adriana, nós estamos esperando o nosso almoço — a v***a estava na mesa com o dono do morro, o sub, e mais alguns homens, só ela e mais uma p**a lá, no meio de um monte de homem — ahhhhh você nem me contou, vaca — a Luana chega e pula me abraçando — você merece o mundo, amiga — ela fala e eu vejo que ela se afasta e faz cara de nojo pro sub daqui Eles tem um caso, ou tiveram, Luana e maluca e eu fico perdida com eles e nem interfiro Vejo o dono do morro me encarando sério, ele olha o meu carro todo e acena de leve pra mim e me dá um meio sorriso — filha vem almoçar, anda Luana, vem também — a minha mãe chama nós duas e a única mesa livre era do lado dele… Eu respirei fundo sentindo o meu corpo esquentar pela forma intensa como ele me olhava, e ignorava todos que falavam com ele, e fui me sentar ali com a Luana para poder almoçar… Minha mãe trouxe o nosso pedido, e nós nem precisávamos escolher, porque ela já sabe o que mais gostamos, e ainda mais que hoje é sexta, é feijoada! O morro estava maior agitação, acho que o baile vai ser hoje, e por isso ta esse movimento todo, eu não vou em um baile a muito tempo, por falta de tempo, porque eu adoro um baile pra ser sincera… Não tenho vergonha do meu corpo, gosto de dançar, gosto de rebolar, gosto de me sentir viva, e não só aqui no morro, porque eu vou pra todo canto, sou uma pessoa querida pelos que são próximos de mim, e amo movimento, amo a vida. E por mais que tentem me sabotar, sabotar minha auto estima, minha confiança, eles nunca conseguem nada, só me fazem mais forte. — o dona Adriana, não foi isso que eu pedi não, que saco — ouço a p**a reclamar cheia de ignorância pra minha mãe e já mudo a postura — essas p***a não quer trabalhar e fica fazendo tudo errado — quando ela fala isso o meu sangue ferve Eu me levanto na hora mas antes que eu abrisse a minha boca o urso tomou a frente — tu nem pagando essa p***a ta, e acha que pode falar assim com os outros ? — a voz grossa e alta dele ecoava por todo o local — tá achando o que p***a ?— ele é todo ignorante com ela e meu corpo todo se arrepiou na hora — nunca desmereça ninguém na minha frente, nem que seja um mendigo de rua, tu não tem moral e não é ninguém pra isso — ele fala todo arrogante e passa na minha frente Ele encara no fundo dos meus olhos enquanto eu estava fervendo de raiva pela situação, eu não desviei dos seus olhos, e a nossa troca de olhares me fez sentir ainda mais calor Ele sobe na sua moto e antes de sair ele encara o meu carro todinho, analisando todos os detalhes, e acelera subindo o morro, e seus seguranças se apressam atrás dele Eu me sento de volta escutando a p**a resmungar, ficar falando um monte lá sobre ele e a Luana me chama fazendo eu voltar pra terra — o que foi isso ? — ela me pergunta num fio de voz e eu sentia a minha garganta seca e não sabia nem o que responder a ela…