Fernanda
Sei nem o que eu estou fazendo aqui, é exatamente o que ele falou, eu estou em um lugar desconhecido com um cara com o histórico duvidoso.
Continuei sentada no sofá que tem na varanda, alguém ligou pra ele, parecia sério, ele disse que já voltava, faz uns cinco minutos isso, deve estar em algum canto da casa. O mar cristalino bem na minha frente me hipnotizava, fazia eu me perder nos pensamentos. Ouvi meu celular tocando chegando até a me assustar de leve, atendi vendo que era a Carol.
Ligação on
Carol: onde você está, mulher?
Fernanda: nem sei - ri fraco.
Carol: fica por ai mesmo, deu um rolo aqui e pra ajudar meu irmão não está na cidade - a voz dela era de pura preocupação.
Fernanda: mas o que envolve que pode me afetar se eu voltar pra casa?
Carol: coisa da minha família que acaba prejudicando muita coisa, principalmente as favelas, o comando todo está em toque de recolher.
Fernanda: espero que fique tudo bem.
Carol: já estou resolvendo, fica tranquila, até de noite tudo está em seu devido lugar, ai já pode voltar pra casa.
Fernanda: eu acho que só volto amanhã - se o irmão dela não querer voltar agora mesmo pra resolver isso.
Carol: está com quem, maluca?
Fernanda: sei nome não, mas é um gato - não menti.
Carol: fica esperta em, qualquer coisa me liga que eu dou um jeito de te buscar.
Fernanda: ok, beijo.
Carol: beijo - desligou
ligação of
Continuei ali olhando pro mar, ouvi passos e olhei pra trás vendo ele vindo na minha direção, com uma expressão que eu não decifrei.
Fernanda: esta tudo bem?
Matador: não muito, mas vai ficar - falou depois de deitar no colo, ele me intimidava com o olhar preso no meu.
Fernanda: Carol acabou de me ligar, disse que estava um caos - desviei o olhar ficando mexendo no cabelo dele.
Matador: Carol exagera, nem é pra tanto - riu - ela consegue resolver sem mim - assenti devagar voltando a encarar ele - falou com quem você esta? - sorriu .
Fernanda: não - ri fraco.
Matador: melhor assim - deu risada e eu neguei ainda mexendo no cabelo dele.
Fernanda: me trouxe pra cá por que? - perguntei depois de alguns segundos em silêncio.
Matador: estava afim de s********r alguém - fez graça e eu ri.
Fernanda: não sabia que você era engraçadinho.
Matador: eu sou que você quiser - piscou e eu neguei rindo.
Fernanda: não vale nada - parei de mexer no cabelo dele e o encarei.
Matador: você nem me conhece ainda, maluca.
Fernanda: nem me lembre, como que eu confiei em um cara com o histórico duvidoso desse - ele gargalhou.
Matador: fica tranquila, eu jamais faria algo que você não quisesse.
Fernanda: o mínimo, né - ri.
Matador: consciente desde sempre, gata - ele sorriu de cantinho.
Fernanda: você tem quantos anos? - perguntei depois de um tempo.
Matador: 24 - ele puxou meu braço colocando minha mão no cabelo dele e eu ri voltando a mexer - quase as mesmas responsabilidade dos 18.
Fernanda: eu com 18 anos não sabia o que estava fazendo não, nem hoje eu sei ainda - ri.
Matador: eu precisava, sem mãe e pai, uma irmã e mais 1001 negócio da família pra cuidar.
Fernanda: eu sinto muito - falei baixo.
Matador: eu já superei.
Fernanda: a alguns dias descobri que sou adotada - ri fraco.
Matador: que rolo, conta melhor.
Fernanda: que fofoqueiro - fiz cara de impressionada.
Matador: eu só gosto de ser bem informado - riu.
Fernanda: eu nem sei direito o que aconteceu, assim que voltei da faculdade meus ''pais'' - fiz aspas com a mão livre - estavam pirando, jogaram a bomba em cima de mim, falaram ''lide com isso'' e mandaram eu sumir a vida deles.
Matador: quer descobrir quem são seus pais?
Fernanda: quero, porém não sei nem como começa, e também acho que eles não querem saber de mim já que pagaram pra eu ficar com os dois lá.
Matador: primeiramente, nomes.
Fernanda: Ana e Jorge Magalhães.
Matador: segundo, na vida que eu levo, vejo muito pai e mãe fazendo o que for preciso para manter os filhos seguros e longe do crime, por mais que doa.
Fernanda: você acha que meus pais poderiam ser envolvidos? -isso é muito confuso.
Matador: você tem irmãos? dos pais adotivos - neguei - pai médico e mãe arquiteta, né?
Fernanda: isso.
Matador: tem uma possibilidade, e se sim, de alguém importante.
Fernanda: meu Deus - fiquei sem reação, e se realmente for isso?
Matador: mas fica tranquila, as vezes foi por algo simples e eu criei isso tudo.
Fernanda: me ajuda com isso? - falei rindo.
Matador: mesmo se você não quisesse, eu ia atrás disso - levantei as sobrancelhas.
Fernanda: o histórico duvidoso - ri.
Matador: tudo pelo bem - sorriu meio falso.
Fernanda: falso - ri.
Matador: sai dessa - deu risada.
Fernanda: e vou pra onde? - fiz graça.
Matador: pra cima de mim - sorriu e eu gargalhei.
Fernanda: que a***o.
Matador: só falo o que penso.
Fernanda: então, por que eu?
Matador: não sei, acho que era pra ser sabe, você me passa um sentimento bom.
Fernanda: não esperava um fala dessa vindo de você.
Matador: mas porque não? - riu.
Fernanda: esse seu jeito cafajeste vagabundo não se esconde.
Matador: só estou falando a verdade, eu não minto.
Fernanda: as pessoas que não mentem contornam a verdade.
Matador: seria essa a válvula de escape, mas você acredita que isso é pior que a mentira?
Fernanda: eu digo que sim, é algo mais manipulador.
Matador: não acho, mentir é algo falso, traíra, manipulação tomo mundo usa.
Fernanda: você preza muito por lealdade, né?
Matador: eu preciso, todo cuidado é pouco no meu mundo. Até Jesus foi traído, alias, por alguém que estava ao seu lado.
Fernanda: traição vinda de alguém que se chama de irmão dói mais que tudo.
Matador: quem está de longe só procura, quem esta perto acha.
Fernanda: o que alguém de longe poderia fazer que te atingisse mais do que algo ''simples'' causado por seu irmão? - perguntei na curiosidade mesmo, ele deve entender melhor.
Matador: não vou saber responder, mas a pergunta é boa.
Fernanda: sempre é bom rever quem está ao seu lado.
Matador: vacilação é uma vez só, e confiança nunca mais.
Fernanda: algumas pessoas merecem uma segunda chance, as que buscam pela redenção.
Matador: poucas, bem poucas.
Fernanda: todos estamos em constante mudança.
Matador: eu teria uma segunda chance? - falou depois de segundos em silêncio.
Fernanda: no que? - franzi um pouco as sobrancelhas.
Matador: na vida, eu teria salvação?
Fernanda: bom, pelo que eu conheci, você ainda não desperdiçou sua primeira chance - ele riu.
Matador: tu sabe que meu vulgo não é atoa, né? - assenti devagar.
Fernanda: você deve ter vários crimes cometidos, cada um tem seus motivos e consciência. Eu não vou te julgar por algo que você fez com os outros, você não se demonstrou alguém r**m, ou mau, comigo, e isso que importa. Eu jamais falaria que você faz coisas ilegais se eu não soubesse.
Matador: existem algumas versões minhas - falou depois de um tempo - aqui, contigo, eu estou sendo o Igor - franzi um pouco as sobrancelhas.
Fernanda: seu nome é Igor? - ele assentiu - eu tinha te nomeado Lucas, na minha cabeça - dei uma risada fraca.
Igor: por que Lucas? - sorriu.
Fernanda: não sei - ri - viajei.
Igor: Lucas vai ser o nome do nosso filho - falou baixo e eu quase engasguei com a saliva, ele deu risada.
Fernanda: brinca muito - sorri negando.
Igor: to falando sério, pô! - continuou rindo e eu acompanhei - e uma menininha chamada Luiza - parei de rir encarando ele - que foi?
Fernanda: Luiza é meu segundo nome - ele sorriu.
Igor: é o destino - eu gargalhei.
Fernanda: Ana Luiza e Lucas Gabriel então - olhei pra ele.
Igor: Lucas Henrique, direitos iguais gata - sorriu.
Fernanda: dois emocionados - desviei o olhar rindo.
Igor: dando uma chance pro amor.
Fernanda: que fofo - voltei olhar pra ele que sorria.
Igor: é o Igor amorosinho, pô! tem o Henrique também, ele é um moleque bom, protetor - ele desviou o olhar, direcionando ele agora pro mar - mas existe o Matador, o pior lado dos outros dois - ele volto a me olhar - os três na mesma pele.
Fernanda: eu devo ter medo? - falei baixo, ele levantou do meu colo e sentou do meu lado, bem próximo.
Igor: eu como Igor, Henrique, matador ou até como Lucas - ri fraco e ele sorriu - nunca te machucaria, ou mentiria pra você. Vou agir na transparência contigo - eu não sabia oq responder, foi uma coisa tão intensa, sabe?
Fernanda: posso te contar algo meu? - falei baixo, eu guardo isso a tanto tempo e agora, me senti confortável para expor pra alguém.
Igor: fique à vontade - sorriu, agora eu deitei no colo dele, sentindo o carinho no meu cabelo.
Fernanda: quando eu tinha 15 anos - comecei a falar com o olhar preso na água - eu conheci um cara, ela tinha 19, já estava construindo sua vida, eu era uma menina carente pra caramba. Nunca tive os carinhos dos pais e era desesperada por atenção, ele me deu tudo que eu queria, eu achava que era real, eu me entreguei a ele. Troquei todo mundo por ele, ele já me bastava, eu fazia tudo, vivia por ele. Ele era uma pessoa boa, parecia, nunca teve esses papos torto, sempre pelo certo, mas, nem tudo é como a gente pensa - respirei fundo, segurando o choro.
Igor: calma - continuou alisando meu cabelo, fiquei em silêncio me acalmando até conseguir voltar a falar.
Fernanda: ele tirou minha virgindade e depois disso meu inferno começou - soltei o ar - tudo que ele me pedia eu dava, só que ele queria eu excessivamente, e pra uma garota de 15 anos era algo novo. Ele começou a mudar, me tratava m*l, começou a me apertar, dava soco na parede, ou quebrava algo perto de mim só pra me assustar. Quando eu falava que não queria ele endoidava, no dia seguinte vinha com aquela de desculpa e eu cedia, mas eu me cansei, não sentia vontade de t*****r com ele, enrolei ele por uma semana, no nono dia ele me espancou - deixei uma lagrima escapar - me estuprou e tirou toda minha dignidade - senti ele parar a mão na minha cabeça e eu enfim olhei pro seu rosto.
seu olhar era confuso, mas não expressava pena, oq me confortou, eu não queria isso. O Igor respirou fundo e continuou alisando meu cabelo, desviei o olhar novamente.
Fernanda: depois disso ele sumiu, e por algum motivo, eu rodei a cidade á sua procura, encontrei alguns conhecidos que falaram que ele tinha morrido, assim, do nada, eu desabei por dois meses, por tudo que tinha acontecido, foi o tempo que eu levei pra raciocinas que nada daquilo era culpa minha, é que a morte foi um alívio pra ele, pq se eu visse ele novamente, eu fazia ele pagar por tudo que me fez - sequei meu rosto depois de ser molhado por algumas lagrimas e olhei pro Igor.
Igor: vem cá - ele me tirou do seu colo, ficou em pé e ele me levantou me abraçando forte, sentir seu cheiro e sua respiração próxima ao meu ouvido me acalmou.
Fernanda: eu tô bem - me separei um pouco olhando pro seu rosto - já passou - disse com sinceridade.
Igor: você já tinha contato isso pra alguém antes? - neguei com a cabeça - seus pais te viam machucada e não faziam nada? - disse meio indignado.
Fernanda: nessa minha fase eles nunca tavam em casa, trabalho sempre em primeiro lugar - disse sem ânimo.
Igor: tu tem certeza que ele ta morto?
Fernanda: foi oq me falaram - dei de ombros.
Igor: você promete que se esse p*u no cu aparecer, eu vou ficar sabendo? - olhou quase na minha alma, falando sério pra c*****o e eu só assenti, desviando o olhar, aquilo me arrepiou de uma certa forma - não fica com medo de mim - falou baixo.
Fernanda: eu não estou - voltei a olhar pra ele - vou ter medo do Henrique protetor pra que? - ele deu risada tirando um sorriso meu.
Igor: vamos curtir o fim de semana, depois eu procuro mais sobre isso - disse passando as mãos pela minha cintura.
Fernanda: obrigada - sorri.
Igor: agradece me beijando, por favor - sorriu e eu gargalhei, guando eu parei de rir ele passou uma mão por dentro do meu cabelo me puxando ao encontro de sua boca.