Beatriz
Vou me apresentar a vocês. Sou Beatriz Soares, tenho 21 anos e estou no 3⁰ semestre da faculdade de medicina, moro na Rocinha desde que nasci. A minha mãe sempre morou aqui e o meu pai largou nós a tantos anos que nem lembro mais. Tenho na minha mente desde nova que todos me abandonam, meu pai, minha vó e o meu vô que faleceram a optar por não tratar o câncer que tiveram, assim que o meu vô faleceu com um câncer no fígado, a minha vó se afundou em depressão e depois de muitas dores e com idas no hospital, veio outro diagnóstico: câncer no pulmão e ela decidiu não lutar para ficar com o seu amor. Dona Cláudia, vulgo a minha mãe é incrível e muito trabalhadora, ela é trançista.
Sou morena, tenho tranças no cabelo, mas as vezes fico com o meu cabelo natural, 1,58 de altura e 55 kilos...
Hoje é meu último dia de aula deste ano, e ano que vem inicio um novo semestre. Acordo as 06:30, tomo um banho rápido, me visto e desço para tomar o meu café com a minha mãe.
— Bom dia! Flor do dia — Digo assim que vejo a minha mãe de costas na pia, e dou-lhe um beijo na bochecha, sento numa cadeira e apoio-me no balcão.
— Bom dia filha, acordou animada hoje – me olha por cima do ombro – o que aconteceu para essa empolgação toda?
—Ah mãe, é o meu último dia desse ano na faculdade, não vejo a hora de estar de férias. — digo com um sorriso no rosto.
— Tá explicado! Já sabe o que vai fazer nas férias? — pergunta-me encarando enquanto põe a garrafa de café no balcão e senta de frente para mim.
— Vou te ajudar em casa, trançar se você precisar e colocar as minhas séries em dia, comer as minhas besteiras para fugir da academia nessas férias. – dou uma risada enquanto como mais um pedaço do bolo que está na mesa.
— Filha! Te falei que só precisa de divertir um pouco, porque não sai com as suas amigas da faculdade? — me encara por uns segundos e como não respondo ela continua – Não vai deixar o meu medo ser seu medo, precisa viver a sua vida e é tão nova para ficar se trancando em casa por causa desses traficantes!
Levanto do meu lugar, dou um beijo na sua testa e vou para o quarto enquanto falo:
— Eu evito eles, mas não tenho medo, só me dá raiva porque sei como são, e se forem como o meu pai? — falo alto enquanto fecho a porta do meu quarto e me jogo na cama.
Quando acordo escuto um som alto vindo da rua, nós moramos de frente para um restaurante no meio do morro, então é normal colocarem música para tocar e ainda mais numa sexta-feira como hoje. Olho o meu celular e assusto-me em ver que já são 10 horas, tenho que descer perto das 11.
Me visto com uma calça, jeans escura, um cropped branco e jogo por cima o meu casaco igual dos colégios americanos, fecho ele e coloco o capuz. Vejo a minha mochila se está todo o meu material, acrescento a minha bolsa com maquiagem e logo calço o meu ténis branco.
Desço soltando meu cabelo para esconder ainda mais o meu rosto, com o capuz, vou até à cozinha e vejo um bilhete da geladeira dizendo que foi trabalhar e me desejou um ótimo dia. Abro a porta e quando abro o portão que faz um pouco de barulho, as conversas na frente do restaurante acabam. Levanto o meu olhar, vejo um corpo alto e forte, que está perto dos outros caras e se tornam pequenos diante dele. São frações de segundo que olho e abaixo o meu olhar fechando o portão, e ando apressadamente para o início do morro enquanto sinto olhos em mim até desaparecer no início do morro.
Já no ônibus consigo sentar e então, me arrumo e ali tiro o casaco e guardo ele na mochila. Chego na faculdade perto do meio dia, vejo a cantina aberta pedi um pastel e um suco de laranja, sento na mesa e logo vejo a minha amiga se aproximar.
— Nem me respondeu no whats, sua chata. — vem ao meu encontro e dá um tapinha na minha testa, se senta do meu lado com um sorriso no rosto — Vai comer o quê?
— Aí Gabi não enche, nem vi o celular direito e dei uma atrasada, vim correndo para não perder o ônibus. — respiro fundo e vejo a garçonete da cantina vindo com o meu pedido — obrigada! Pode me trazer uma garrafa de água e um chocolate, pode ser qualquer um. — ela assente com a cabeça e se retira.
— Desculpa, desculpa — pede em sinal de redenção — Almocei com a minha mãe hoje, não suporto mais fingir que não odeio ela!
Gabrielle é minha única amiga aqui na faculdade, mora no Leblon e tem pais separados, fica com o pai dela maioria dos dias, mas a mãe dela as vezes obriga ela ir a almoços, cafés e jantares juntas. A mãe dela traiu o pai dela quando ela estava com 16 anos, se separaram e sua mãe foi morar com o amante que é um escroto com ela. Depois disso ela criou um ódio da sua mãe e do padrasto, mas seu pai fala que ela tem que ir por ser sua mãe.
Comi em silêncio enquanto ela falava sobre alguns assuntos, assim que terminei a gente levantou e foi direto pra sala de aula. Agora só saio daqui início da noite!