Acordo, me levanto e sigo minha rotina matinal, como sempre. Hoje faz uma semana que fui promovida a secretária do presidente da Choco&Sweet. Eu sei que disse que ser secretária é melhor do que passar o dia em pé na produção, mas preciso me retratar: adoraria estar na produção agora. O Yan é tão insuportável que chega a ser exaustivo. Ele me lota de relatórios, reuniões para marcar e, claro, sempre pede que eu traga café. Se cometo qualquer erro, vem com aquela arrogância que me irrita profundamente. Infelizmente, ainda preciso desse emprego e não posso simplesmente deixar de ser a secretária dele por vontade própria.
Depois de me arrumar, como o presidente prefere, pego o ônibus, que como sempre está lotado. Esse ciclo se repete e está se tornando cada vez mais cansativo. Ao chegar na empresa, vejo o Yan na porta da sala dele. Minha mesa fica logo em frente, e assim que entro, ele me olha com um olhar penetrante e sombrio, parecendo irritado.
— Entra na minha sala — diz ele, com um tom brusco.
Entro em silêncio e o encaro. Ele se posiciona na minha frente e estende a mão, que está vazia, como se esperasse algo. Fico parada, confusa, até que ele aumenta o tom:
— Anda, Lilian! Cadê o relatório revisado que eu mandei você trazer hoje?
— O quê? — respondo, completamente perplexa.
— Não brinca comigo! Leva esse trabalho a sério!
— Eu esqueci, senhor.
Ele ri sarcasticamente, passa a língua entre as bochechas e me encara.
— Eu te avisei para levar a merda do trabalho a sério, não avisei?
Apenas concordo com a cabeça, paralisada, sem conseguir manter contato visual.
— Então, por que você saiu ontem para beber com o Mauro? Se tinha que revisar o relatório em casa, deveria ter ido direto para lá e feito isso, mas fez o contrário.
— Desculpa, senhor! — murmuro, com medo.
— Você não lembra de nada sobre ontem?
— Não, senhor! — n**o com a cabeça, ainda sem olhar para ele. Abaixo os olhos para o chão.
— Eu te avisei que, se não entregasse o relatório revisado, teria que trabalhar o dobro.
— Que? Isso é um absurdo! — protesto, indignada.
— Foi uma aposta, agora cumpra.
— Não me lembro de nenhuma aposta, nem de ter te visto por lá ontem.
— Pois é, você estava tão bêbada que nem se lembra. Agora se vire — ele diz com um sorriso, parecendo gostar da situação.
Fico quieta, apenas suspirando, e saio da sala. Me sento na minha mesa, com uma forte dor de cabeça, mas ainda assim focada em mostrar meu potencial e provar meu valor, ou pelo menos tentar. O dia foi cheio: revisei vários relatórios, marquei reuniões e, claro, levei diversos cafés para meu chefe insuportável. Não tive um minuto de descanso, sempre uma tarefa atrás da outra. Além disso, preciso lidar com as demissões de algumas pessoas da produção que não cumpriram as expectativas dele. Yan me passou essa responsabilidade apenas para me sobrecarregar. Ele é mesquinho e s*******o. Sei que logo terei uma oportunidade melhor, bem longe dessa empresa ridícula.
O dia passou lentamente, e eu me sentia cada vez mais exausta. O relógio parecia estar pregado no mesmo lugar, e a pressão de Yan só aumentava. Cada café que eu levava parecia trazer uma nova tarefa, e suas cobranças se tornavam cada vez mais difíceis de suportar.
Enquanto revisava um relatório, ouvi a porta da sala dele se abrir. Era o Mauro, um dos poucos colegas que se importavam em me tratar bem. Ele me lançou um olhar preocupado.
— Ei, Lilian, você está bem? Parece que está carregando o peso do mundo.
Eu suspirei, balançando a cabeça.
— O Yan não me dá descanso. Se não é uma tarefa, é uma cobrança. Estou começando a achar que fiz uma escolha errada ao aceitar essa promoção.
Mauro se aproximou um pouco mais.
— Você merece algo melhor. Ele está agindo pior que o pai, e todo mundo sabe disso. Não deixe que isso te derrube.
— Obrigada, Mauro. Às vezes só preciso de um pouco de apoio para não surtar — respondi, tentando sorrir.
Ele sorriu de volta, mas logo olhou para a porta, preocupado com a possibilidade de Yan aparecer.
— Vou voltar para o meu trabalho. Qualquer coisa, grita. E não se esqueça: você é capaz.
Ele saiu e eu voltei a me concentrar. A verdade era que eu precisava de um plano. Não podia continuar assim, presa em uma rotina opressiva, sendo subestimada. O dia se arrastou até que finalmente a hora do expediente acabou.
Na saída, decidi que precisava falar com o RH sobre a sobrecarga de trabalho e as demissões. Ao chegar lá, encontrei a Raquel, uma funcionária que sempre se mostrou compreensiva.
— Oi, Lilian! Como você está? — ela perguntou, notando meu semblante cansado.
— Estou lutando, Raquel. O Yan está me sobrecarregando com tarefas e, para piorar, demitindo pessoas da produção sem avisar ninguém.
Ela franziu a testa, preocupada.
— Isso não é certo. Deixa eu ver o que posso fazer. Você não pode continuar assim, ainda mais sem suporte.
Enquanto falávamos, senti um alívio. Era bom saber que havia alguém disposto a ouvir e ajudar. Ao sair do RH, decidi que precisava me preparar melhor para a próxima reunião com o Yan. Era hora de colocar em prática o que eu realmente queria: ser respeitada e valorizada.
Naquela noite, fiz uma lista de tudo que eu gostaria de discutir com ele, incluindo a carga de trabalho e as demissões. Eu sabia que precisava de coragem, mas estava determinada a não deixar que ele continuasse a me tratar daquele jeito. Enquanto eu fazia essa lista, senti uma forte dor de cabeça, talvez pelo excesso de trabalho ou talvez o efeito do álcool de ontem a noite. Deito na cama por alguns segundos e fecho meus olhos, após finalmente me sentir tranquila e relaxada um flashback sobre ontem surgiu repentinamente na minha mente, fazendo me lembrar de tudo que aconteceu enquanto eu estava bêbada.