Naquela noite, saí do trabalho com Mauro e fomos a um bar local. Eu estava tão exausta e precisava de um momento de distração que acabei esquecendo de revisar os relatórios. Se Yan não tivesse me deixado com a mente tão pesada, talvez eu lembrasse, mas não o culpo; essa responsabilidade é minha.
Assim que chegamos, pedimos cervejas e nos sentamos, trocando olhares.
— Não sabia que você costumava frequentar esse tipo de lugar — comentei.
— Tem muitas coisas sobre mim que você ainda precisa conhecer — respondeu Mauro, sorrindo.
— Obrigada, você me faz bem nesse trabalho horrível.
— Lia, estarei sempre aqui por você, ok?
Agradeci com um sorriso doce e logo nossos copos de cerveja chegaram. Virei o meu de uma vez e já pedi outro. Mauro me olhou surpreso, mas riu.
— Calma aí, mocinha! Desse jeito, não vai conseguir voltar para casa.
Revirei os olhos e dei uma gargalhada. Depois de alguns momentos, começamos a conversar sobre nós.
— Mauro, você namora?
— Não, e você?
— Não, eu não namoro — respondi, sorrindo e balançando a cabeça.
A conversa flui entre risadas e olhares cúmplices. A cada gole, a tensão do dia parecia se dissipar.
— O que você procura? — Mauro perguntou, curioso.
— Sei lá... Alguém que me faça esquecer as coisas ruins, talvez? — brinquei.
Ele sorriu, e o clima ficou mais leve.
— Eu também. A vida é muito curta para se preocupar tanto, não acha?
Concordei, e a conversa se aprofundou. Falei sobre meus sonhos e ele compartilhou os dele. É bom ter alguém que entende.
— Sabe, Lia, você é uma pessoa incrível — disse Mauro, olhando nos meus olhos.
Senti meu coração acelerar.
— Obrigada, Mauro. Isso significa muito para mim.
As cervejas iam e vinham, e a conexão entre nós só aumentava. O bar parecia se apagar ao nosso redor, deixando apenas nós dois no centro da conversa.
A noite avançava e as cervejas se acumulavam. Eu já estava completamente bêbada, rindo descontroladamente com Mauro, quando, de repente, vi Yan, meu chefe, se aproximando. Ele estava com uma expressão séria.
— Lilian! O que você está fazendo aqui? Você tinha que revisar os relatórios para amanhã! — ele disse, olhando para mim com uma mistura de preocupação e desapontamento.
Mauro, surpreso, rapidamente se desculpou.
— Desculpe, Senhor Yan. Eu não sabia que ela tinha relatórios pra revisar hoje.
— Não é com você que eu estou bravo, Mauro. É com a Lilian — respondeu Yan, claramente irritado. Ele gesticulou para que Mauro fosse embora.
Enquanto Mauro se afastava, não consegui conter uma risada.
— Você fica muito lindo bravo, Yan! — comentei, piscando. — Mas deveria ser mais calmo.
Ele me olhou, sem saber se ria ou ficava sério, e então suspirou.
— Vamos lá, vou comprar água para você.
Yan foi ao bar e voltou com uma garrafa, me forçando a tomar alguns goles. A água parecia um milagre. Depois de um tempo, o clima relaxou um pouco, mas o álcool ainda fazendo efeito.
— Sabe, Lilian, faz anos que não me sinto tão feliz e leve — disse ele, olhando nos meus olhos. — Sem pensar só em trabalho.
Eu sorri, animada pela revelação.
— O que aconteceu, Yan? — perguntei, curiosa.
Ele começou a abrir seu coração, contando sobre como seu pai o pressionava e como isso o fazia m*l. A conversa foi se aprofundando, e eu me senti mais próxima dele, compartilhando histórias e risadas.
Quando a noite começou a se dissipar entre risos, conversas e desabafos, ele decidiu que era hora de me levar para casa. Enquanto caminhávamos, refleti sobre o que aconteceu.
Agora, lembrando da noite passada, percebi que Yan sabia muito antes que eu não conseguiria entregar o relatório revisado e, mesmo assim, decidiu me humilhar daquela forma, eu sei que errei, mas por que agiu daquels jeito hoje? Isso me fez questionar suas intenções e a relação que parecia que construímos ontem de noite.
Na manhã seguinte, enquanto ainda tentava processar a noite anterior, meu celular vibrou. Era uma mensagem de Yan.
“Oi, Lilian. Poderia revisar os relatórios hoje na sua casa? Precisamos deles prontos para amanhã. Sem faltar com a responsabilidade desta vez.”
Senti um frio na barriga. Eu queria questioná-lo sobre o que aconteceu na noite anterior, mas a verdade era que hesitei. O que eu diria? Acabei desistindo da ideia.
Concentrada, peguei os documentos e comecei a revisar. À medida que eu, refletia sobre Yan: no fundo, ele tinha um lado gentil, que aparecia entre as frustrações e a pressão que carregava. Ele só precisava de mais paciência, assim como eu.
Enquanto corrigia os erros e organizava as informações, percebi que, apesar do jeito duro, ele se importava com a qualidade do nosso trabalho. Essa perspectiva me fez sentir um pouco mais próxima dele, mesmo sem entender completamente a dinâmica entre nós.
Depois de algumas horas, enviei os relatórios revisados para ele. O peso da responsabilidade parecia mais leve, e, quem sabe, talvez eu pudesse descobrir mais sobre Yan e sua verdadeira natureza nas próximas interações, já conheci o chefe insuportável, agora quero conhecer apenas o Yan sendo o Yan.
Após essa longa noite de lembranças e trabalho, eu fui tomar um remédio para a dor de cabeça e me aprontei para dormir, deitei na cama e fiquei refletindo mais um pouco sobre Yan. Olhando para o teto e lembrando que eu o vi sorrindo, eu não imaginei que veria ele confortável assim tão cedo. Senti que poderíamos ter uma boa conexão, se ele não fosse um chefe tão bravo e exigente.
Dormi pensando em Yan, no dia seguinte acordei com meu celular tocando, meio sonolenta eu atendi:
— Alô? — Disse, minha voz falhando.
— Oi, Lia! É o Mauro, estou na frente de sua casa, esperando você para te levar ao trabalho, não quero você se cansando no ônibus.
— Trabalho? Tão cedo? — Olhei o relógio enquanto eu falava, meus olhos ficaram arregalados quando percebi que faltava dez minutos para o meu horário de trabalho começar.
Eu ainda estava na cama, não havia feito nem o básico e se eu acabar me atrasando por um minuto que fosse, seria só mais um motivo para meu Chefe meia-boca se irritar.