Kaylee
Se minha prima Allison Palmer caísse em um tanque de Pepsi fervendo, eu simplesmente ficaria parada, observando-a se afogar.
E não sentiria um pingo de remorso por isso.
Enquanto ela implorasse pela minha ajuda, eu a lembraria da vez em que puxou minha cadeira debaixo de mim, me fazendo cair direto no concreto e quebrar o cóccix. Ou da vez em que me filmou dormindo e enviou o vídeo para todos os seus amigos com a legenda "Ronco de uma Primata". Ou daquela outra em que invadiu meu quarto, roubou meus travesseiros e se recusou a devolvê-los até que eu admitisse que era a garota mais feia de toda a família. Eu cedi. Disse exatamente o que ela queria ouvir. E, ainda assim, ela não os devolveu. Acabei dormindo em um velho urso de pelúcia por uma semana, até que o vovô interveio e a obrigou a me devolver o que era meu.
É por isso que nunca deveria ter aceitado ir com ela ao jogo de futebol americano de boas-vindas.
Mas a oferta era tentadora demais. Ela é veterana, e eu m*l estou no oitavo ano. Nunca havia ido a um jogo de futebol americano do ensino médio antes. Quando ela disse, na frente de toda a família, que me levaria para jantar e ao jogo, acreditei que era algo real. Que ela queria ser gentil. Fiquei tão animada que nem me ocorreu o que aquilo significava: que eu ficaria completamente à mercê dela, sem adultos para intervir. Na época, imaginei que os pais dela a tinham obrigado a me levar. Agora, tenho quase certeza de que foi apenas mais uma de suas inúmeras pegadinhas cruéis — brincadeiras sem graça que só provam que ela é um monstro de verdade.
O sorriso de Allison Palmer é c***l. Luz e sombras brincam em seu rosto conforme as pessoas se movem acima de nós, nas arquibancadas de concreto. Ela balança um cachorro-quente encharcado de mostarda bem diante do meu rosto.
— Pare de me encarar assim, Kit-Kat. Se quiser sair daqui, vai ter que comer tudo. Do começo ao fim. E é melhor fazer isso em menos de dez segundos. — Seu tom é doce, mas a maldade em seus olhos a denuncia.
Ela ri, e suas amigas, Camila e Sarah, a acompanham. Meu maxilar trava, mas permaneço em silêncio. Sei que dizer qualquer coisa agora só pioraria a situação. Allison Palmer sabe que eu odeio cachorros-quentes. Desde que meu avô comentou, em voz alta, que eles me deixariam ainda mais gordinha — e que ninguém gosta de uma garota gorda —, a simples visão de um desses lanches me dá ânsia. Mas Allison Palmer não liga. Com um sorriso malicioso, ela enfia o cachorro-quente na minha boca, enquanto Camila e Sarah assistem e riem.
— Vamos lá, é só comida — diz ela, zombeteira. — Não é como se eu estivesse pedindo para você comer insetos.
Ela se abaixa, pega um punhado de terra e o esfrega sobre a mostarda. Um pedacinho de pipoca descartada gruda na superfície amarela.
— Pronto, agora tem um pouco de tempero. Comece a mastigar, Kit-Kat.
Odeio esse apelido. É uma crítica velada ao meu peso. Como se isso fosse minha culpa. Tenho apenas treze anos e não vivo me entupindo de porcaria. O avô não deixaria, mesmo que eu quisesse. As lágrimas ameaçam cair, e eu pisco rápido para impedir que escorram. Sei que chorar agora só vai piorar tudo. Mas estou encurralada, machucada e sem saída. Allison Palmer não vai me deixar ir embora até que eu coma essa monstruosidade. E, mesmo se eu fizer isso, ela ainda vai me chamar de gorda, e as amigas dela vão rir, e eu vou me odiar tanto quanto as odeio.
Então, uma voz corta a multidão.
— O que você está fazendo?
Todos olham enquanto ele caminha em nossa direção.
Cameron Rockwell.
Ou apenas Cameron, agora. Ele é grande — quase dois metros de altura, ombros largos, braços musculosos. Se não fosse uma estrela no time de lacrosse, provavelmente estaria lá no campo de futebol, jogando como quarterback. Cameron é um dos garotos mais populares da escola, e eu nunca estive tão perto dele antes. Muito menos o ouvi falar. Mas Allison Palmer e suas duas comparsas certamente o conhecem. Elas frequentam os mesmos círculos sociais. Eu costumava invejar Allison por ser popular. Agora, se é assim que as meninas populares agem, prefiro continuar sendo uma perdedora.
Com Cameron aqui, de repente me sinto mortificada. Não consigo mais conter as lágrimas. E odeio isso. Odeio estar chorando na frente dele. Mas, pelo menos, Allison Palmer não está mais focada em mim.
— Estamos apenas nos divertindo com minha priminha — diz Allison, passando a mão pelo cabelo com um sorriso falso. — Não é grande coisa.
Cameron não parece convencido.
— Sério, Ali? Você está intimidando uma criança? Isso é ridículo.
Allison revira os olhos.
— Tanto faz, não é bullying. Ela é só minha priminha i****a. E ela tem treze anos, então relaxa. Não é mais um bebê. — Ela olha para mim e franze os lábios com desdém. — Uau, sério, Kit-Kat? Você está chorando agora só para chamar atenção? Isso é tão patético.
As amigas dela riem nervosamente. Mas Cameron continua olhando para elas como se quisesse socá-las ali mesmo. Como se quisesse quebrar seus narizes perfeitos e obrigar seus pais a pagarem ainda mais cirurgias plásticas para consertá-los.
— Deixe a garota em paz — ele diz. Sua voz quase se perde no rugido da multidão acima de nós. — Isso é vergonhoso, Ali. Até para você.
Allison Palmer cruza os braços, visivelmente irritada.
— Você é um i****a, Cameron. — Com um gesto brusco, ela joga o cachorro-quente no chão e se aproxima dele. — O que vai fazer agora? Vai para a casa do Tommy? Ouvi dizer que os pais dele não estão em casa e que o Dean pegou um barril.
Cameron dá de ombros.
— Talvez.
Allison Palmer coloca um dedo no peito dele. Ela sorri sedutoramente, ou pelo menos acho que é isso que ela está tentando fazer. Nunca vi alguém tentando ser sedutor antes, e o fato de ser Allison Palmer me dá nojo.
Cameron a encara por um longo momento, e por um instante, penso que ele vai beijá-la ou deslizar as mãos pelos quadris dela, como os garotos fazem nos filmes. Allison Palmer é bonita de um jeito que eu nunca serei: alta, magra, com cabelos longos e loiros e olhos grandes e azuis. Ela parece um m****o legítimo da nossa família, uma ilustre Lawrence, enquanto eu, segundo meu avô, pareço uma mistura equivocada da filha de uma drogada com um vagabundo qualquer.
Mas, em vez de puxá-la para perto, Cameron agarra seu pulso com força e o torce bruscamente para a esquerda.
Allison Palmer solta um grito de dor e surpresa. Ninguém se move. Suas amigas estão horrorizadas demais para reagir, e uma onda inesperada de excitação percorre meu corpo enquanto minhas mãos voam para cobrir minha boca. Minhas lágrimas são esquecidas no mesmo instante, substituídas pelo choque de ver Cameron dobrando o pulso de Allison Palmer sem um pingo de hesitação. Seus dentes estão cerrados em uma expressão sombria. Allison tenta lutar, tenta bater nele, mas ele tem o dobro do tamanho dela. Não sorri nem se diverte com a cena — apenas mantém seu olhar fixo nela, puxando seu pulso para trás como se estivesse lidando com uma criança.
— Como é ser empurrada por alguém maior que você? — ele pergunta, inclinando-se até que seus lábios quase toquem a garganta dela. — Porque, para mim, te empurrar está sendo bem divertido. Devo quebrar seu pulso? Me pergunto se eu gostaria disso. Acho que adoraria ouvir você gritar, Ali. Deus, isso seria tão satisfatório.
— Cameron — Allison geme, tentando se soltar. — Por favor. Não faça isso.
— Você pararia se sua prima implorasse? Você a deixaria ir?
A resposta é óbvia. Não, Allison Palmer não pararia. Mas mantenho minha boca fechada. Algo me diz que isso é pior do que parece. Isso não é mais só uma briga de adolescentes. Isso é coisa de gente grande. Isso é algo que eu definitivamente não entendo.
— Sim — Allison Palmer suspira, sua voz falha. — Por favor! Me solta! Eu pararia totalmente!
— Você vai chorar agora? Vai fazer cena para chamar atenção? — Cameron murmura, sua voz escorrendo desprezo. — Você não é nada, Ali. Você é insignificante pra c*****o. Eu poderia quebrar esse seu pulso delicado agora mesmo, e eu adoraria. Quero ver você se contorcer no chão, chorando, lágrimas escorrendo pelo seu lindo rostinho. Nada seria mais satisfatório do que te ver em dor. Lembre-se disso.
Por um segundo a mais, ele mantém a pressão. Então, solta seu pulso e a empurra para longe. Allison cambaleia, segurando o braço, soltando um gemido enquanto Camila e Sarah correm para ajudá-la.
— Você poderia realmente tê-la machucado — Camila diz ferozmente, passando a mão pelo longo cabelo escuro. — O que há de errado com você, Cameron?
— Vai se f***r, Camila. Todas vocês. Ou eu posso decidir que ainda não tive o suficiente e descontar em vocês depois.
Camila hesita, claramente assustada, e Sarah finalmente toma a iniciativa de puxar Allison Palmer para longe.
— i****a — Allison Palmer murmura, com lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto elas se afastam e desaparecem sob as arquibancadas.
Cameron as observa partir.
Fico ali, tremendo. Não estou mais chorando. Estou com medo demais para isso. Minhas pernas vacilam e preciso me sentar, mas não consigo me mover. Cameron é como um gigante, e o que acabou de acontecer foi r**m. Muito r**m. Garotos não deviam machucar garotas assim. Mas ele fez. E parecia gostar. Isso não está certo, e eu não entendo por que ele faria algo assim por alguém como eu.
— Uh — finalmente murmuro. Cameron ainda está olhando para onde Allison desapareceu e, quando escuta minha voz, se vira bruscamente, como se tivesse esquecido que eu estava ali. — Obrigada.
Ele estreita os olhos.
— Allison Palmer é realmente sua prima?
— É. Ela não costuma ser... — Me interrompo. Isso não é verdade. — É. Ela é minha prima. E sério, obrigada.
— Não me agradeça. Eu não fiz isso por você. Fiz por mim. — Cameron enfia as mãos nos bolsos e me encara com frieza. — Allison pode te jogar de um penhasco na próxima vez. Boa sorte com isso.
Ele se vira e se afasta, os ombros curvados para a frente.
Fico ali, atordoada. Dividida entre a satisfação de ver Allison Palmer finalmente receber o que merecia e o horror da violência sádica e repentina de Cameron.