O jantar

1068 Palavras
Após passar a tarde inteira catalogando e registrando livros, finalmente chegou o fim do dia e era hora de ir para casa, terminei de finalizar o sistema da biblioteca e reuni minhas coisas para sair, estava exausta, Caio tinha tomado chá de sumiço o dia inteiro e sequer deu as caras pra me ajudar. Tranco a porta da biblioteca e sigo em direção a porta, quando escuto uma voz me chamando. -Stella, espera. disse Caio. -Um pouco atrasado Caio, o expediente já acabou. -Eu sinto muito, eu tinha um compromisso muito importante hoje e realmente te deixei na mão, me desculpa mesmo. -Posso saber o que estava fazendo? -Desculpa, mas não pode. -Ok senhor mistério, você pode me compensar dizendo o que seu pai gosta de comer pro jantar de amanhã. -Essa é fácil, carne assada. -Valeu pela dica, agora preciso ir, boa sorte com o que quer que esteja fazendo. Me despedi e segui em direção a porta. Ao sair, minha mãe estava me esperando no estacionamento, como de costume, aposto que ela devia estar ali a umas 3 horas. Decidi que ia falar sobre o jantar de uma vez, sem rodeios. -Stella, você demorou. -Então mãe, você vai achar muito engraçado, encontrei o doutor Lúcio e conversamos, ele me apresentou o filho dele, você acredita que ele tem um filho? e que o filho dele é o cara que atropelamos mais cedo? e sabe o que é mais engraçado ainda? eu convidei os dois pra jantar com a gente amanhã. -Você o que, Stella???? como assim o doutor Lúcio é pai do cara que atropelamos? -Poxa mãe, achei que deveríamos agradecer por tudo que ele já fez por nós. -Stella, você não existe. Se eu bem te conheço, já temos o que servir, certo? -Sim, consultei minhas fontes e ele adora carne assada. -Ok, faremos carne assada então. Seguimos para casa, pegando um trânsito caótico que sempre costumava existir na via Dutra a esse horário da noite.Chegando em casa, fui tomar meu banho e embaixo do chuveiro comecei a pensar sobre a situação de hoje, como pode um cara tão grosseiro como aquele Caio, ser filho de um cara tão gente boa como o doutor Lúcio, a genética realmente é uma coisa muito doida, apesar de grosseiro, não pude deixar de reparar que ele era um gato, um baita desperdício tamanha ignorância, mas como dizem, beleza não é tudo né. No dia seguinte... Acordei me sentindo muito animada, queria tanto que as coisas dessem certo pra variar um pouquinho, não tem nada que eu quisesse mais no mundo do que ver minha mãe feliz, eu precisava disso pra poder seguir em paz. Levantei da cama num pulo só, tomei um delicioso banho e desci pro café, que estava com um cheiro delicioso, parece que não tinha sido só eu que tinha acordado inspirada. -Bom dia, mamãe querida, é uma benção acordar com esse cheiro de omelete. -Bom dia anjinho, resolvi caprichar no café hoje, vou te dar uma carona pra fundação e vou comprar as coisas pro jantar. -Ótimo, vou voltar de ônibus então, assim não te atrapalho com os preparativos. -Tem certeza Stella? Não gosto da idéia de você andando por aí sozinha... -Mãe, amanhã eu faço 18 anos, não sou mais criança e o ônibus não morde. -Okay menina crescida, já que você tá dizendo. Minha mãe me deixou na fundação e assim que cheguei dei de cara com Caio, uma bela maneira de se começar o dia "contém ironia", tentei passar batida, mas é claro que ele não poderia perder a chance de ser irritante. - Bom dia futura irmãzinha, espero que esteja tudo pronto pra hoje. Ah, se ele soubesse que nem iria dar tempo de sermos irmãos... -Está tudo nos conformes, minha mãe vai preparar um delicioso jantar, eles vão se apaixonar loucamente e depois disso eu nem vou precisar olhar mais pra você. -Ué, como assim? depois que eles se casarem aí mesmo que você vai ter que olhar pra mim, e acredite, eu tô começando a gostar dessa ideia Stella. Uma coisa eu tinha que dizer, o olhar dele era intimidador, e por um momento tive a leve impressão de que ele estava me cantando, o que seria bem esquisito. -Acredite, não vamos nos ver tanto assim... Virei de costas e segui em direção a biblioteca, hoje era dia de ler para as crianças, estava muito empolgada, comecei a enfileirar as cadeiras me preparando para mais uma vez fazer o serviço todo sozinha, quando Caio aparece. -Acredito que vai precisar de ajuda com isso. Ele disse, enquanto carregava as cadeiras. - Não acho que seja tão pesado, você fez eu me acostumar a dar conta sozinha. Eu disse, puxando mais cadeiras. -Qual é Stella, te deixei na mão um dia e você vai me crucificar por toda a eternidade? - Não, só queria saber o que você foi fazer, desculpa, sou muito curiosa, e não é legal dizer pro seu pai que vai fazer uma coisa enquanto faz outra... -Okay, justo, você tem razão, vamos fazer um trato então, te conto aonde eu estava ontem e você me conta o por que uma menina de 17 anos, bonita como você, está fazendo cuidando de crianças carentes numa fundação, quando poderia estar saindo com as amigas. - Bom, não sou muito fã dessas festinhas fúteis, repletas de pessoas fúteis, com vidas fúteis, minha mãe sempre me disse que devíamos pegar todo o tempo que pudéssemos e fazer o bem ao próximo, e é isso que eu tô fazendo. -Meu Deus, você é uma santa, santa Stella dos pobres. -hahaha, engraçadinho, agora é sua vez de cumprir a parte do acordo. -Estou participando de um concurso musical, eu sou cantor. -E precisa fazer isso escondido? -Meu pai não aprova, ele diz que músicos são mortos de fome, que isso não é profissão. -Nossa, seu pai não parece ser esse tipo de pessoa. -Por ele, eu seria um grande médico e daria continuidade ao legado da família... -Por que não conversa com ele? acho que se você explicar o quanto é importante pra você, ele vai entender. -Meu pai nunca tem tempo pra me ouvir, ele só pensa em trabalho e trabalho, mas vamos parar de falar disso, quando eu conseguir ganhar o concurso e o contrato com a gravadora, vou conseguir provar pra ele que dá pra ganhar dinheiro com isso.
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