Finalmente Caio e eu havíamos terminado de enfileirar todas as cadeiras, parece que quanto menores eram mais dava trabalho para poder arrumar. Eram 14:00 em ponto e as crianças estavam começando a chegar, a maioria tinha um olhar de esperança, isso era lindo, parecia que elas acreditavam que realmente teriam uma chance, elas acreditavam num milagre, e eu também já acreditei, mas hoje não acredito mais, a verdade é que milagres não existem, mas a gente gosta de acreditar neles pra ter algo a que se prender. Organizamos todas as crianças em fileiras e pra minha surpresa, Caio se ofereceu para ler a história, ele tinha escolhido chapeuzinho vermelho, as crianças ficaram paralisadas enquanto ele contava de uma maneira super divertida com direito a demonstração, ele realmente era um artista, aposto que o doutor Lúcio enxergava isso, fiquei muito surpresa, não parecia aquele cara ignorante e egocêntrico que eu conheci, ali ele parecia um ser humano.
Depois que a história terminou, nos despedimos das crianças com um abraço e todas elas agradeceram pela história, aquilo ali era realmente importante pra elas e me fazia muito feliz fazer parte disso, logo em seguida, começamos a recolher as cadeiras.
-Parabéns pela história, você realmente se saiu muito bem. -Eu disse
-Obrigado, apesar de não parecer, gosto de crianças e adoro leitura.
-Achei que pensava que esse lugar era uma total perca de tempo.
-Digamos que estou começando a ver com outros olhos...
Caio começou a se aproximar de mim e me devorar com os olhos, aqueles olhos eram muito intimidadores.
-Sabe Stella, esses 2 dias que passei com você já me fizeram enxergar o mundo de uma outra forma, você é realmente uma pessoa muito especial, vai ser legal ser da sua família.
-Família? ah, claro, sim, nossos pais, verdade. Por falar nisso, preciso ir pra casa, tenho que ajudar minha mãe com o jantar.
Peguei minha mochila e sai correndo em direção a porta.
Alguma coisa muito estranha tinha acabado de acontecer aqui, comecei a perceber algo no Caio que não havia percebido antes, um lado carente, e que só precisava que alguém acreditasse nele, no fundo ele era uma boa pessoa que só precisava de um pouco de atenção. Calma aí Stella, você não pode estar criando sentimentos por esse garoto, primeiro que ele não tem nada a ver com você, e o principal:VOCÊ ESTÁ MORRENDO!, é um bom motivo pra não se apaixonar por alguém. Peguei meu ônibus lotado como sempre, da Barra pra baixada era uma viagem e tanto, encostei a cabeça na janela do ônibus e sem perceber estava pensando no Caio, e no quanto ele foi incrível com as crianças hoje, isso não podia estar acontecendo, precisava focar na minha mãe e no jantar de hoje ser perfeito.
Após uma longa viagem, cheguei em casa e o cheiro estava simplesmente maravilhoso, encontrei minha mãe num belo vestido vermelho e de cabelo feito, simplesmente irreconhecível!
-Uau, quem é você e o que fez com a minha mãe?
-Stella, que bom que você chegou filha, você acha que tá exagerado?
-Claro que não mãe, você tá linda, doutor Lúcio que se cuide.
-Para de palhaçada Stella, você sabe que somos só amigos, a única coisa que eu tenho por ele é gratidão.
-Mãe, já deu esse negócio, vocês estão caidinhos um pelo outro, ou vai me dizer que se arrumou toda assim por amizade?o meu pai morreu mãe, e já faz muito tempo, aposto que ele não ficaria chateado por você estar tentando ser feliz outra vez.
-Você acha?
-Claro que sim, tenho certeza, agora vou subir pra me arrumar, tô fedendo a transporte público.
Subo para o meu quarto e separo um vestido no guarda roupa, um preto de bolinha branca que eu havia comprado, mas nunca tinha usado antes, a verdade é que eu não sentia muita vontade de me arrumar, a doença me deixava extremamente magra e com uma pele nem um pouco hidratada, eu não me sentia bonita, até hoje. Tomei um belo banho, terminei de me arrumar e desci.
-Se eu não te conhecesse, diria que também está se arrumando pra alguém.
-Impressão sua, só estou usando todas as roupas que nunca usei, antes que eu morra.
-Você não perde a oportunidade de fazer uma dessas piadinhas sem graça, não é mesmo Stella?
A campainha toca.
Abro a porta e Doutor Lúcio e Caio estão vestidos como se fossem pra algum casamento, doutor Lúcio trouxe uma garrafa de vinho, enquanto Caio tem uma coca cola na mão.
-Boa noite Stella, espero que não estejamos atrasados. Disse doutor Lúcio.
-Claro que não, acabamos de nos arrumar agora, por favor, entrem.
Eles entraram e logo em seguida minha mãe apareceu, eu poderia dizer que o queixo do doutor Lúcio caiu naquele momento.
-Boa noite doutor Lúcio, só não repara a bagunça. Disse minha mãe, vermelha igual um pimentão.
-Por favor Patrícia, me chame só de Lúcio, e não tem bagunça nenhuma, sua casa está impecável e você também, se me permite dizer.
Esses Velhos tem um jeito muito estranho de flertar.
-Boa noite pra você também Stella, ou vai me tratar como um estranho? Disse Caio.
Eu realmente estava o evitando, mas é por que não tinha certeza ainda sobre o que estava sentindo, eu nunca precisei lidar com isso antes e não posso deixar esses sentimentos me dominarem agora.
-Boa noite Caio, me desculpe, só estava me certificando de que minha mãe não iria falar nenhuma besteira.
-Tudo bem, nosso plano em primeiro lugar, é claro, mas acho que eles já se entenderam.
Realmente, eles sentaram lá na sala pra conversar e estavam se acabando nas risadas, parece que realmente minha mãe tinha te entendido o que eu disse e eu estava muito feliz.
- Não quer aproveitar pra me mostrar sua casa? você que fala tanto sobre educação, não está sendo nem um pouco educada.
Eu não podia me permitir ficar muito próxima, mas ao mesmo tempo não poderia deixar ele desconfiar sobre o que se passava na minha cabeça.
-Okay, você tem razão, vamos lá.
Começamos a subir as escadas, chegando na parte de cima da casa.
- Bom, a sala e a cozinha você já conheceu, ali fica o quarto da minha mãe e ali naquela outra porta o banheiro.
-E aquela outra porta ali? É o seu quarto?
-Sim, mas não vamos lá.
-Por que não? achei que seu quarto fazia parte da casa.
Eu não podia deixar ele entrar no meu quarto, era uma coisa muito particular, eu estaria abrindo a minha vida inteira pra ele e era justamente o que eu NÃO queria fazer, mas aqueles olhos eram tão intimidadores que eu não conseguia dizer não.
-Tá certo, mas não quero que dê risada de nada.
-Tem minha palavra.
Entramos no quarto e ele já começou a quebrar a promessa, haviam vários pôsteres da one direction para todos os lados, o que eu podia fazer? eles era o máximo.
-Você só pode estar brincando comigo que é fã desses caras?
-Para de inveja, eles são o máximo.
-O máximo? eu sou o máximo, eu faço música de verdade, o que esses caras fazem é barulho.
Só de implicância, coloquei Gotta be You pra tocar e pude ver a expressão dele de desaprovação.
-Okay, você venceu, até que não estoura meus ouvidos tanto assim, aliás, pode me conceder essa dança?
-Dança? meu Deus, você vai acabar com meus pés.
-Acredite Stella, você pode se impressionar com meus múltiplos talentos.
Ele puxou meu braço e me envolveu numa dança, e, puxa, ele realmente era muito bom nisso, quando me dei conta estávamos dançando super envolvidos com a música, nos olhando profundamente nos olhos, é como se ele com o olhar soubesse de tudo que se passava na minha cabeça, e com esse mesmo olhar ele dizia, está tudo bem, eu estou na sua vida agora.
-Sabe Stella, quando você e sua mãe quase me mataram atropelado, eu realmente odiei você com todas as minhas forças, mas agora, é diferente, sinto muito por ter sido tão rude, eu realmente não consegui perceber a menina incrível que você é.
Caio se aproximou, passando a mão em meu rosto, lentamente, sem que eu me desse conta, já estávamos nos beijando, um beijo mágico, parecia que eu havia esperado a vida inteira por aquele beijo, é como se estivéssemos predestinados um ao outro e finalmente nossas vidas tinham se encontrado.