Pré-visualização gratuita Capitulo 1: PRÓLOGO
MESES DEPOIS
Acordo com o despertador tocando e a mesma sensação de vazio no peito. Mais um dia comum. Nada de especial, nada de diferente. Me levanto, tomo banho, escovo os dentes, visto jeans e uma camiseta simples. Enquanto penteio o cabelo em frente ao espelho, flashes da noite em que estive com ele invadem minha mente como uma avalanche.
O calor do seu corpo no meu. A forma como seus lábios encontravam cada pedaço da minha pele como se decorasse um mapa secreto. Como ele dizia meu nome entre beijos, como se eu fosse a única mulher no mundo.
Eu ainda o amo. Mais do que jamais amei alguém. E o pior... tenho um segredo preso na garganta há dois anos. Dois anos de silêncio. Dois anos de distância. E agora, a verdade ameaça me engolir viva.
Assim que a última aula termina, jogo os cadernos na mochila e saio apressada. Preciso de ar. Mas antes mesmo de alcançar o portão da faculdade, escuto vozes familiares me chamando:
— JESSY! ESPERA AÍ! — grita Abigail, esbaforida, ao lado de Charlotte.
— Pra que a pressa toda, garota? — Charlotte aparece na minha frente rindo, com os cabelos desgrenhados pelo vento.
— Oi, meninas...
— Sorvete? — pergunta Abigail, com aquele sorrisinho maroto que já entrega a armação.
— Agora?
— Sim. A menos que tenha um compromisso importante...
— Não... nenhum.
— Ótimo. Vambora então! — Abigail já me puxa pelo braço.
— Quem vai estar lá? — pergunto desconfiada. Toda vez que ela quer “só um sorvete”, tem treta.
— Só nós... — ela diz, mas Charlotte a entrega:
— É o Jhonny.
— Charlotte! — Abigail se desespera.
— O quê? Ela ia descobrir de qualquer jeito!
— O Jhonny não é amigo do seu irmão? — pergunto, incrédula.
— É... Mas ele não pode saber ainda. Por favor, finge que não viu nada.
— Ai, Bi... Tá, vamos logo.
Abigail solta um gritinho animado. Entramos no carro de Charlotte e seguimos para a sorveteria. Enquanto Abigail desaparece com o tal Jhonny, eu e Charlotte ficamos nos empanturrando de sorvete, comentando as loucuras da vida.
— Valeu, migas! — diz Abigail, ao me deixar na frente da casa do meu tio, com um sorriso travesso.
— Disponha — respondo com ironia.
— Até amanhã, Jessy! — Charlotte acena.
Desço do carro, coloco a mochila nos ombros e sigo até o portão. Vasculho minha bolsa em busca da chave, xingando mentalmente a minha desorganização.
— Merda... — murmuro. Até que a encontro no bolsinho menor.
No exato momento em que coloco a chave na fechadura, braços fortes me envolvem por trás com brutalidade. Meu grito morre quando um pano úmido cobre minha boca e nariz. Tento lutar, me debato, mas meus membros ficam pesados. Meu corpo cede. Apago.
Acordo com a cabeça latejando. O ambiente ao redor é escuro, abafado. Há apenas uma janela pequena, por onde entra um feixe de luz. Um homem encapuzado está parado ali.
— Q-quem é você? — minha voz sai fraca, trêmula, embargada de medo.
— Que bom que você acordou... — ele diz, a voz distorcida.
— Onde eu tô?! Me solta! — puxo a perna e percebo: estou acorrentada. Uma corrente grossa prende meu tornozelo ao chão de cimento.
— Não vai a lugar nenhum, minha princesa. Ainda estamos só começando... e falta o convidado especial da noite.
— Q-que convidado?
— Logo você vai ver. Agora, fique quietinha.
Ele some pela porta. Grito, imploro, esperneio... mas ninguém ouve. Me encolho no canto, abraçando os joelhos, até ouvir passos novamente.
A porta se abre com um rangido macabro. O homem mascarado entra. E atrás dele... Gabi.
— GABI?! — grito, o coração batendo descontrolado.
Ele tenta correr até mim, mas é empurrado com violência.
— Desgraçado! Se você encostar um dedo nela... — Gabi rosna.
— Você não manda em nada aqui! — o sequestrador grita e acerta uma coronhada brutal na cabeça de Gabi, que cai.
— NÃOOOOO! — meu grito ecoa pelas paredes.
Tudo gira. A tontura me domina. Caio. Desmaio.
(***)
A vida e a morte… tão próximas, tão distantes. Nunca imaginei que a morte viria por mãos tão familiares. Nunca pensei que o amor me colocaria diante da escolha mais c***l: eu ou ele.
Não dá pra descrever a dor de ter uma faca nas mãos, sabendo que o próximo movimento vai mudar tudo. O gosto do sangue, o cheiro de ferro, o coração em ruínas. As mãos tremem. As lágrimas caem como chuva. Mas não tem volta.
— Eu te amo. — digo entre soluços. — Mais do que a vida.
— NÃO, MEU AMOR! NÃO FAZ ISSO! — ouço a voz dele, desesperada.
— Mata logo esse desgraçado! — grita o monstro atrás de mim.
— Por quê? Por que você tá fazendo isso comigo? — pergunto, olhando nos olhos daquele que um dia eu confiei.
— Já chega de drama! — ele berra, o rosto deformado pelo ódio.
— EU TE AMO! — Gabi grita, tentando alcançar minha mão mesmo ensanguentado no chão.
Eu fecho os olhos. Respiro fundo. E enterro a faca em meu peito.
A dor vem como uma onda. Mas o que realmente dói é saber que não vou vê-lo de novo. Que nunca vou contar a ele sobre nossa filha. Que nunca vou ver seus olhos descobrindo que nosso amor deixou um pedacinho dele no mundo.
Tudo escurece. O som dos tiros ao longe. Passos correndo. Gabi gritando. E minha alma… se apagando.
— Fica comigo… Olha pra mim… Não fecha os olhos… — ele suplica, mas minha visão já é só escuridão.
Será esse… o fim?