Pré-visualização gratuita Miguel domador de feras
Mariana
A água morna deslizava pelo meu corpo, aliviando a tensão acumulada após um treino pesado na academia. Cada gota parecia suavizar os músculos doloridos, e finalmente senti meu corpo relaxar completamente. Um sentimento de renovação tomou conta de mim enquanto me preparava mentalmente para o que prometia ser um dos dias mais importantes da minha vida.
Hoje é o grande dia. Depois de uma década de dedicação inabalável à Advocacia San Andres, o momento tão esperado da minha promoção finalmente havia chegado. Foram dez anos de trabalho árduo, noites sem dormir e sacrifícios inquestionáveis, tudo com um único objetivo: me tornar uma associada da empresa. Já havia dado entrada na solicitação para ser promovida, e agora estava a apenas algumas horas de receber a confirmação. Eu estava confiante. Afinal, havia conquistado a maior conta do ano para o escritório, um cliente que iria injetar milhões nos cofres da empresa. O mérito era todo meu, e em duas horas eu estaria sentada na sala de reunião com a diretoria, prestes a ouvir a melhor notícia da minha vida.
Após o banho, escolhi cuidadosamente minha roupa. Era importante impressionar, tanto pelo que eu havia conquistado quanto pela imagem que transmitia. Vesti minha melhor calça de alfaiataria preta de cintura alta, que moldava meu corpo com perfeição. Combinei com uma blusa de seda branca, a peça mais cara do meu guarda-roupa, e me senti pronta para enfrentar o mundo.
Cada detalhe da minha aparência refletia a minha trajetória até ali. Tudo que possuía era fruto do meu esforço implacável. Minha casa em um dos condomínios mais exclusivos da cidade, meu carro de luxo estacionado na garagem, minhas roupas e acessórios de grife. Cada centavo que entrava na minha conta bancária era resultado direto do meu trabalho incansável.
Mas minha história não foi fácil. Eu não vim de uma família rica; na verdade, eu não vim de família nenhuma. Cresci em um orfanato. Órfã desde que me entendo por gente, aprendi cedo que a vida não seria generosa comigo. As freiras do orfanato Santa Tereza de Jesus, onde passei a maior parte da minha infância, nunca acreditaram que eu teria um futuro brilhante. Durante minha pré-adolescência, passei por uma fase rebelde, cheia de desafios e confusão. Elas chegaram a acreditar que eu acabaria me tornando uma criminosa. Talvez, em algum momento, eu também tenha acreditado nisso.
Minha vida deu uma reviravolta quando fui enviada a um reformatório. Foi lá que finalmente entendi que, para sobreviver e prosperar, teria que fazer sacrifícios. A dura realidade me ensinou que o sucesso exige não apenas esforço, mas também uma determinação feroz para vencer qualquer obstáculo. A experiência no reformatório não apenas me moldou, mas me preparou para a batalha constante que é a vida adulta. Desde então, fiz questão de agarrar cada oportunidade com unhas e dentes, determinada a construir um futuro diferente daquele que muitos previam para mim.
Agora, aqui estou, prestes a colher os frutos de todo o meu esforço.
Desci até a garagem do meu prédio com a mente já a mil, pensando em como seria a reunião com a diretoria. Meu coração batia acelerado, uma mistura de ansiedade e antecipação. m*l conseguia me concentrar em outra coisa, até que, ao chegar perto do meu carro, algo me chamou a atenção.
Havia um folheto preso no para-brisa.
Fiquei surpresa. Geralmente, não permitiam esse tipo de coisa em um condomínio de luxo como o meu, então aquilo era, no mínimo, inusitado. Puxei o papel com cuidado, e o título me fez arquear as sobrancelhas: **"Miguel, o Domador de Feras. Acompanhante de luxo."**
Não pude evitar o riso que escapou de meus lábios. A ideia de um "domador de feras" era no mínimo engraçada, ainda mais vindo de um acompanhante de luxo. Balancei a cabeça, incrédula. Aquilo parecia uma piada m*l contada. Abri o folheto para ver o que mais dizia. Além do nome chamativo, só havia uma frase sugestiva: **"Venha se precisa ser domada"**. E, claro, o número de telefone, solitário no canto inferior.
Por um instante, imaginei quem teria tempo e disposição para distribuir folhetos de acompanhantes em um lugar como o meu. Talvez fosse uma estratégia de marketing desesperada, ou alguém brincando com os moradores do condomínio. Seja como fosse, não deixava de ser algo engraçado para começar o dia.
Guardei o folheto na bolsa, ainda sorrindo. Mesmo que fosse absurdo, não custava manter para mostrar depois para alguma amiga ou, quem sabe, ter uma história para rir mais tarde. **Miguel, o domador de feras**... realmente, alguns dias começavam com uma dose de humor inesperada.
Entrei no carro e respirei fundo. Hora de voltar à realidade e focar no que realmente importava: a reunião que definiria meu futuro.