Episódio 4

933 Palavras
— Não é um evento para mães. Reclama Lucas, franzindo a testa. — Eu não quero você lá. Todos os meus amigos vão com os seus pais. Deito-me ao lado de Lucas no sofá cinza-claro no centro da minha sala, com pijama do Bob Esponja que combina com o do Lucas. — Eu sei que você quer ter um pai, e só me ofereço porque não quero você vá sozinho. Eu respondo e ele franze a testa. — Você não entende nada de futebol, mãe. Será muito vergonhoso quando todos os meus amigos virem você lá. — Vergonhoso? Lucas nunca tinha usado uma palavra assim comigo. O meu coração encolhe vendo o quanto ele cresceu. Meu pequeno não é mais a criança que me seguia por toda parte, querendo saber tudo sobre mim. Agora ele é um homenzinho que tem vergonha da mãe. Toco o seu cabelo escuro, mantendo a minha voz suave. — Oh, querido! Lucas não se vira para olhar para mim. Ele está muito zangado. Mas eu não desisto. — Ei. Seu pai não está aqui conosco, Lucas. Eu sei que você sente falta dele e que o quer aqui, mas agora é só você e eu. A culpa toma conta de mim quando olho para o meu filho. Lucas tinha três anos a primeira vez que ele perguntou sobre o seu pai. Isso me pegou de surpresa e, embora não fosse uma mentira muito lógica, eu disse a ele que o pai dele tinha viajado para muito longe e que talvez ele nunca mais voltasse.Talvez. Porque não importa o quanto eu tente negar, ainda há um pequeno vislumbre de esperança em mim. Que, um dia, estarei junto dele novamente. E então não poderei esconder de Dominic a existência de seu filho. Pensar nisso me assusta. A ideia de que um dia não poderei mais proteger Lucas de Dominic me faz espreita como um pesadelo. Dominic partiu para a Itália logo depois que eu terminei com ele. Acredito que ele nunca mais volte para Nova York, mas se voltar, pretendo manter Lucas, o mais longe possível dele. Não importa se eu tiver que arriscar a minha vida para conseguir. Mas, o meu filho nunca terá de viver nas trevas da máfia. — Mãe? Ele não franze mais a testa, mas a expressão em seu rosto não está mais carrancuda, isso me mostra que ele está feliz. —Você às vezes sente falta do papai? Eu acaricio a sua cabeça. Ele tem o mesmo cabelo ônix escuro que Domingos. Os mesmos olhos castanhos quase escuros e pele escura. Lucas me lembra muito Dominic e muitas vezes me pergunto se o motivo de eu não ter superado Dominic em todos esses anos é por causa de Lucas. Porque ele mantém Dominic no centro da minha mente. A semelhança entre eles é incrível e sempre traz lembranças do meu passado que tento esquecer. Suspirando, pego a mão de Lucas na minha. — Sim, sinto falta. Alguém disse uma vez que “o tempo cura tudo”, mas mesmo depois de sete anos, os meus sentimentos por Dominic ainda estão tão frescos como se fossem recentes. A facada em meu coração desde a noite em que o deixei ainda sangra. — É por isso que você não quer ter namorado? Lucas pergunta franzindo a sobrancelhas. Ele é muito inteligente para uma criança de sete anos. — Ou você não quer ter namorado por minha causa? — Minha doce criança. Acaricio as suas bochechas rechonchudas e as aperto suavemente. — Claro que não. É que a mamãe não encontrou o cara certo. Lucas levanta as sobrancelhas. Ele é uma criança muito curiosa. — Como você vai saber quando encontrar o cara certo? Penso na primeira noite em que conheci Dominic. — Hmmm. Eu murmuro, lembrando do jeito que só de olhar para Dominic pela primeira vez, fiquei sem fôlego. Eu toco seu peito. — Você sente isso aqui, e então você sabe que é ele. Suas risadas são inocentes e contagiosas. — Você se sentiu assim quando conheceu o meu pai? Um sorriso aparece no meu rosto. — Sim. Mesmo agora, o meu coração bate quando penso nele. Meu telefone toca antes que Lucas possa fazer mais perguntas. O nome da Maira pisca na minha tela quando pego o telefone. Eu me pergunto por que ela está ligando. — Olá, bebê! Eu respondo. A música pop tocando ao fundo me diz que ela está em um bar. Maira é muito extrovertida, o que contrasta com a minha natureza introvertida. Eu me pergunto como conseguimos ser melhores amigas todos esses anos. Há uma mistura de excitação e pânico em sua voz. — Adivinha o que está acontecendo? Meus olhos encontram os de Lucas. Eu não confio o suficiente em Maira para atender ad suas chamadas enquanto estiver perto dele. Às vezes ela é muito travessa e imprevisível, então vou até a cozinha e pego um banquinho ao lado da ilha. — Você sabe que não sou bom com enigmas. O que está acontecendo? — Respire fundo primeiro. Ela me avisa. Meu estômago aperta enquanto minha expectativa aumenta. — Seja o que for, espero que valha a pena a tortura que você está me fazendo passar. — Acredite, vale a pena. Ela faz uma pausa e estou prestes a arrancar todos os cabelos da minha cabeça. — Estou em uma boate no centro da cidade e você não vai acreditar em quem esta aqui. Eu suspiro. Deus, em breve lhe enviarei a minha alma. — Quem? Ela expele o nome dele como fogo. — Dominic Romano.
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